Não é verdade que Adélio Bispo de Oliveira, que esfaqueou Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 em Juiz de Fora (MG), apresentou provas contra seus advogados que indicariam o mandante do atentado e que a investigação será retomada a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União), como sustenta um vídeo que circula nas redes sociais (veja aqui).
O que checamos:
1. A AGU não pediu a reabertura da investigação. O vídeo distorce um memorial enviado pelo órgão ao TRF-1 (Tribunal Federal da 1ª Região) em setembro de 2019. Nele, a AGU requisita julgamento de mandado de segurança que impediu análise de material apreendido com então advogado de Adélio, Zanone de Oliveira Júnior. O pedido foi remetido ao STF (Supremo Tribunal Federal) em fevereiro de 2020 e ainda não entrou na pauta da corte;
2. Dois inquéritos da PF e a manifestação do MPF (Ministério Público Federal) pelo arquivamento provisório do caso não citam prova apresentada por Adélio que incrimine os advogados. Os órgãos concluíram que ele planejou e executou sozinho a facada. A alegação do vídeo distorce uma notícia de 2019 publicada pelo site O Antagonista;
3. Ao exibir imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) e de Jean Wyllys, ex-deputado pelo PSOL do Rio, o vídeo sugere que eles seriam os mandantes da facada. As investigações concluídas até agora, porém, não apontaram participação dos três políticos no atentado.
Publicado no canal de YouTube BR Notícias no dia 3 de maio, o vídeo já reunia ao menos 20 mil compartilhamentos em posts no Facebook até a tarde desta sexta-feira (5). Todos foram marcados por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona).
Adélio entrega advogado e investigação volta com tudo. Mandantes apavorados!
Não é verdade que a AGU (Advocacia-Geral da União) pediu a reabertura das investigações da facada em Jair Bolsonaro na campanha de 2018 após o agressor, Adélio Bispo de Oliveira, apresentar provas contra seus advogados que revelariam o mandante do crime. As alegações feitas em vídeo no YouTube são falsas, como mostramos a seguir:
Pedido da AGU. A Advocacia-Geral da União não fez nenhum pedido para a reabertura da investigação da facada. Em setembro de 2019, ao enviar um memorial do caso ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), o órgão ressaltou a importância do julgamento de um mandado de segurança impetrado pela OAB mineira (Ordem dos Advogados do Brasil) que impede a análise de materiais apreendidos pela PF (Polícia Federal) com o então advogado de Adélio, Zanone de Oliveira Junior.
Segundo sustentou a AGU na época, a derrubada do mandado de segurança era necessária para que se pudesse chegar a quem pagou pela defesa de Adélio. A identidade do financiador ainda é desconhecida. O mandado da OAB sustenta que a quebra do sigilo ordenada pela Justiça Federal em dezembro de 2018 violou prerrogativas do advogado.
O julgamento foi iniciado e suspenso em outubro de 2019 por um pedido de vista. Em março de 2020, o TRF-1 decidiu remeter o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal) por entender que se tratava de crime político previsto na Lei de Segurança Nacional. Até a publicação desta checagem, a análise do mandado não tinha entrado na pauta da corte.
Procurada por Aos Fatos, a AGU negou nesta sexta-feira (5) que tenha pedido a reabertura da investigação e confirmou que aguarda o julgamento do recurso no STF.
Provas de Adélio. Ao afirmar que o agressor de Bolsonaro apresentou evidências que incriminam advogados e apontam para o mandante da facada, o vídeo compartilhado nas redes apenas reproduz uma notícia do site O Antagonista de setembro de 2019 que não comprova essa alegação.
A reportagem afirma que policiais federais teriam registrado em um relatório uma contradição de um dos então advogados do agressor, Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa. Segundo O Antagonista, ao se apresentar como defensor, Possa foi questionado pelo próprio Adélio sobre quem estaria bancando seus honorários. Ao responder que foi pago pela mãe de Adélio, o agressor riu e disse que ela já tinha morrido há dez anos. Depois, afirma o site, o advogado disse que não sabia exatamente quem havia contratado seu escritório.
Ex-advogado do agressor e dono do escritório contratado, Zanone de Oliveira Júnior disse ao Aos Fatos nesta sexta-feira (5) que o caso relatado pelo vídeo checado é “notícia antiga” e que Possa não teve acesso ao contrato, por isso não soube dizer na ocasião quem financiou. Questionado, ele não respondeu quem pagou pela defesa de Adélio Bispo.
Aos Fatos não conseguiu acesso à íntegra dos inquéritos finalizados pela PF para averiguar se constam neles o episódio reportado pelo site. Contudo, notícias sobre as duas investigações (aqui e aqui) mostram que foi descartada a existência de mandante e indicam que Adélio planejou e agiu sozinho. Uma manifestação do MPF publicada nesta quinta-feira (4) chegou à mesma conclusão (veja trechos abaixo e acesse aqui na íntegra).
Como ainda aguarda uma definição do STF sobre o sigilo de Zanone, o MPF decidiu pelo arquivamento provisório do caso. “Resta a identificação da origem dos honorários alegadamente pagos para a defesa de Adélio Bispo, a qual não foi contratada pelo próprio acusado nem por seus familiares”, afirmou o órgão, em nota enviada ao Aos Fatos.
Hoje, o agressor é representado pela DPU (Defensoria Pública da União) e segue detido no presídio de segurança máxima de Campo Grande. Adélio foi considerado culpado pela Justiça, mas inimputável (que não pode ser punido), porque, segundo perícia realizada, ele sofre de Transtorno Delirante Persistente.
Políticos mandantes. Ao expor fotos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do ex-deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), o vídeo sugere que eles poderiam ser mandantes da facada. Porém, as investigações concluídas até o momento não apontam nessa direção nem citam os três políticos.
A associação de personalidade da esquerda ao caso tem sido feita desde o dia do atentado, quando circularam montagem do agressor com Lula, Gleisi e foi exposta uma teoria da conspiração sobre ligações de Wyllys com o agressor. Na semana passada, a Justiça do Rio determinou que perfis bolsonaristas nas redes sociais, incluindo os de Eduardo e Carlos Bolsonaro, apagassem os posts em que associam falsamente o psolista à Adélio Bispo.
Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com o BR Notícias na última quinta-feira (4) para questionar as alegações do vídeo. Até a publicação desta checagem, no entanto, não houve retorno.