Não é verdade que a drenagem postural, técnica que serve para eliminar as secreções do pulmão pela ação da gravidade, seja eficaz para tratar pacientes com falta de ar devido à Covid-19, conforme afirmam postagens nas redes (veja aqui). Além da doença não provocar um volume de secreções como de outras infecções, a postura pode agravar o quadro de saúde, pois aumenta o trabalho do diafragma e dificulta a respiração.
Posts com o conteúdo enganoso somavam ao menos 161.130 compartilhamentos nesta terça-feira (2), e foram marcados com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona).
Esta informação é de interesse geral. NO CASO DE NÃO OBTER OXIGÊNIO EM HOSPITAIS OU NÃO PODE COMPRAR DRENAGEM POSTURAL: “É uma forma de ajudar a tratar problemas respiratórios causados por inflamação e excesso de muco nas vias respiratórias dos pulmões. Essa técnica antiga se desvaneceu com o tempo, já que temos respiradores e outras máquinas. No caso de hospitais entrarem em colapso e você sentir falta de ar, considere esta técnica.
Posts nas redes sociais alegam, de maneira enganosa, que uma técnica conhecida como drenagem postural pode ser utilizada em pacientes com Covid-19 que estejam com falta de ar. Especialistas afirmam que a técnica não é eficaz, pois a infecção não provoca secreções como outras doenças virais ou bacterianas. Além disso, as posturas indicadas podem atrapalhar o funcionamento dos pulmões, piorando o quadro de saúde da pessoa.
A drenagem postural é um tratamento fisioterápico para auxiliar na drenagem de secreções em diferentes áreas dos pulmões e melhorar a respiração. Entretanto, a falta de ar causada pela Covid-19 possui outros fatores, como o desequilíbrio entre a ventilação (entrada e saída de ar nos pulmões) e a perfusão pulmonar (mecanismo que bombeia o sangue dentro do órgão). Esse descasamento dos dois processos pode levar à insuficiência respiratória.
“A hipoxemia na Covid-19 é manifestação de forma grave e deve ser tratada em ambiente hospitalar. Não adianta nada manobras que eliminem a secreção”, afirmou ao Aos Fatos Fred Fernandes, pneumologista e presidente da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia). A hipoxemia ocorre quando o nível de oxigênio circulante cai abaixo dos valores considerados normais (entre 95% e 100%).
Ao aplicar as posições exigidas na drenagem pulmonar, prossegue Fernandes, o paciente aumenta o trabalho do diafragma e dificulta ainda mais a respiração, por estar contra a gravidade. Raquel Stucchi, infectologista da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, concorda e afirma que o quadro de Covid-19 não justifica a aplicação desta técnica.
“A drenagem postural não tem indicação em pacientes com Covid-19. A doença não causa quadro pulmonar secretivo como as infecções bacterianas ou outros quadros virais”, disse Stucchi.
Co-autor de uma revisão científica sobre a eficácia da drenagem postural, Maurício Jamami, doutor em Fisioterapia Respiratória e professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), afirmou que a técnica não deve ser aplicada em qualquer paciente com falta de ar. "Indicar a drenagem postural de forma genérica para o tratamento da Covid-19 seria incorreto e poderia provocar mais malefícios do que benefícios”.
Já o pneumologista e médico do sono pelo HCFMUSP (Hospital Geral Otávio de Freitas da Universidade de São Paulo), Rodolfo Bacelar, disse ao Aos Fatos que a drenagem postural pode ser usada com sucesso em doenças como a bronquiectasia, em que o acúmulo de secreção destrói o tecido pulmonar e favorece outras infecções, e em pacientes com fibrose cística, condição hereditária que afeta as glândulas produtoras de muco.
Pronação. Os especialistas consultados ressaltaram ainda que a drenagem postural não deve ser confundida com a posição prona, uma manobra utilizada para combater a hipoxemia nos pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo. Nela, o paciente é deitado de bruços, em ângulo diferente, para aumentar o fluxo de oxigênio.
“Ao deitar de barriga para baixo ocorre o aumento da área de troca pulmonar — aumenta a área para receber oxigênio, pois há ‘mais pulmão’ nas regiões posteriores. Na pandemia [de Covid-19], essa posição passou a ser usada em pacientes não intubados, e foi observado que poderia ser uma forma de evitar a intubação. Mas essa conduta é de exceção - só deve ser feita sob vigilância médica. Caso haja falha, a indicação é de prosseguir para cuidados intensivos”, explicou o pneumologista Rodolfo Bacelar.
Origem. Essa peça de desinformação circula nas redes sociais desde março do ano passado em diversos países e já foi verificada pelo TheJournal.ie, AFP Factual, ChequeaBolivia, BoliviaVerifica, Newtral e, no Brasil, pelo Estadão Verifica. Por aqui, o conteúdo enganoso ganhou tração devido à crise sanitária em Manaus, em janeiro, marcada pela falta de oxigênio em hospitais da rede pública e privada.
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