LinkedIn permite que governo da Ucrânia faça propaganda sobre a guerra para brasileiros
O governo ucraniano está usando uma falha na moderação do LinkedIn, que diz proibir a veiculação de qualquer anúncio com conteúdo político, para fazer propaganda sobre a guerra contra a Rússia para usuários brasileiros.
- De acordo com levantamento feito pelo Aos Fatos na Biblioteca de Anúncios da plataforma, o perfil do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia promoveu pelo menos 134 anúncios desde junho passado;
- Desses, 60 foram exibidos no Brasil, com 45 redigidos em português;
- A biblioteca não traz detalhes sobre o alcance das peças ou o público-alvo. É possível saber, porém, que o pagamento foi feito pela Omnicom Media Group UK, filial britânica de uma multinacional da publicidade;
- Dos anúncios identificados que foram exibidos no Brasil, apenas dois receberam marcação do LinkedIn até a tarde desta segunda-feira (4) por violarem a política de publicidade da plataforma. A tarja adicionada às peças não informava qual norma da havia sido desrespeitada;
- A veiculação das propagandas sobre a guerra vai contra as regras do LinkedIn, que veta qualquer publicidade com conteúdo político, incluindo as peças enviadas por candidatos, partidos ou organizações similares ou que explorem uma “questão política delicada, mesmo que o anunciante não tenha agenda política explícita”.
O Aos Fatos questionou o LinkedIn se a propaganda relacionada à guerra da Ucrânia se enquadra como ”questão política delicada”. A empresa respondeu apenas que os anúncios devem seguir suas políticas e que remove da plataforma as peças que violam essas regras. Após o questionamento, 15 novos anúncios foram publicados pela chancelaria ucraniana.
DANOS AMBIENTAIS
As propagandas ucranianas direcionadas ao público brasileiro têm como temática principal a associação da Rússia e da guerra a danos ambientais. Nas peças, Moscou é responsabilizada por desastres como a destruição de barragens, a deterioração de minas de carvão e a morte de animais. Também há anúncios que acusam o Kremlin de desrespeitar os direitos humanos de minorias.
Os anúncios levam a uma página que expõe pontos do plano de paz defendido pela Ucrânia. O site informa que é administrado pela ONG Brand Ukraine em cooperação com a chancelaria ucraniana e tem como financiadores a União Europeia e as agências de cooperação dos Estados Unidos e do Reino Unido.
O próprio governo britânico também veiculou post sobre a guerra no LinkedIn brasileiro: um anúncio em inglês sobre o impacto da investida russa no mercado de grãos internacional. Não é possível saber, porém, quem pagou pelo impulsionamento.
A Biblioteca de Anúncios no LinkedIn não informa a data exata de publicação das peças, mas com os filtros foi possível averiguar que a maior parte da propaganda direcionada ao Brasil foi veiculada nos últimos 30 dias.
O período coincide com o aniversário de dois anos da invasão da Ucrânia pela Rússia, completados no último dia 24. Nos últimos dias, o embaixador ucraniano no Brasil, Andriy Melnyk, deu entrevistas nas quais pediu que o país abandone a posição de neutralidade e passe a apoiar a Ucrânia e a pressionar a Rússia pelo fim do conflito.
A campanha publicitária do governo ucraniano no LinkedIn não se limitou ao Brasil: havia anúncios direcionados também a outros países do Sul Global, como o Quênia, a Indonésia e a África do Sul.
Referências:
1. LinkedIn (1, 2 e 3)
2. Ukraine.ua
3. g1
4. CNN Brasil