Criminosos usam show de Caetano e Bethânia para vender ingresso falso com anúncios no Google

Por Gisele Lobato

20 de março de 2024, 17h59

O Google impulsionou durante horas um link para um site falso de ingressos para a turnê de Caetano Veloso e Maria Bethânia, que começaram a ser vendidos para o público geral nesta quarta-feira (20). A página golpista imitava o canal oficial da Ticketmaster e vendia as entradas por até R$ 520.

  • Aos Fatos encontrou o anúncio para o site golpista ao pesquisar pela expressão “ingresso Caetano e Bethânia” no Google. O domínio falso apareceu em primeiro lugar nos resultados, acima do canal oficial de vendas;
  • A plataforma informava o nome de uma pessoa física como responsável pelo impulsionamento e dizia que a identidade do anunciante havia sido “verificada pelo Google";
  • O link levava para um site clonado que imitava o layout do canal oficial de vendas e tinha domínio registrado fora do Brasil;
  • O anúncio golpista foi retirado do ar após o Aos Fatos acionar a plataforma.

Print da busca no Google pela expressão ingresso Caetano e Bethânia mostra link do site falso em primeiro lugar, com tarja que informa que é um conteúdo patrocinado. Na sequência aparece uma reportagem sobre os shows e só então o canal oficial de vendas.
Patrocinado. Google permitiu anúncio fraudulento de venda de ingressos para turnê de Caetano e Bethânia (Reprodução).

Depois de selecionar a cidade em que gostaria de assistir ao show e ser apresentado a um texto de divulgação da turnê, o usuário é encaminhado a uma página falsa de vendas, que exige o preenchimento de um formulário com informações pessoais. Ao fim do processo, é gerado um QR Code para o pagamento via Pix. A opção de compra por cartão de crédito não estava disponível nos testes feitos pela reportagem.

O Aos Fatos verificou que o link do site falso aparecia nas buscas do Google ao menos entre as 11h e as 13h desta quarta (20). Usuários do X (ex-Twitter), porém, já alertavam para o golpe desde as 7h20.

A alta procura pelos ingressos — que se esgotaram pouco após o início das vendas para os shows no Rio e em São Paulo — ajudou os golpistas a fazerem vítimas. No site Reclame Aqui, já é possível encontrar queixas de consumidores que foram ludibriados pela página falsa.

Print de página golpista copia o cabeçalho do site da Ticketmaster e mostra os setores de um estádio indicados por cores. Na coluna à esquerda, são exibidos os tipos de ingresso que o consumidor pode escolher, cujos valores chegam a R$ 520.
Prejuízo. Página golpista foi impulsionada pelo Google, está sediada no exterior e enganou consumidores com falsos ingressos vendidos por até R$ 520 (Reprodução).

Questionado sobre o caso, o Google afirmou que as políticas do Google Ads incluem “a proibição de anúncios que tentem confundir usuários e de produtos e serviços que induzam comportamento desonesto”. A empresa disse também que age “imediatamente suspendendo o anúncio e, até mesmo, bloqueando a conta do anunciante” quando identifica uma violação e que oferece uma ferramenta para denúncias.

Essa não é a primeira vez que o Google permite anúncios de sites falsos de venda de ingressos. Em junho do ano passado, o mesmo tipo de golpe foi aplicado em fãs de Taylor Swift, conforme mostrado pelo Aos Fatos. Um link patrocinado também direcionava os usuários para uma página que simulava um canal oficial e oferecia ingressos por até R$ 950.

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RESPONSABILIDADE DAS PLATAFORMAS

O Marco Civil da Internet (lei 12.965/2014) tem como regra geral que as plataformas digitais só podem ser responsabilizadas por um conteúdo quando descumprirem ordem judicial para removê-lo. Por esta regra, apenas o anunciante — e não o Google — seria obrigado a ressarcir o consumidor lesado pelo falso anúncio.

Alguns especialistas, no entanto, entendem que a plataforma poderia ter responsabilidade tendo como base o Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/1990).

A responsabilização das big techs pelos conteúdos que distribuem mediante pagamento — como anúncios e links patrocinados — está prevista no PL 2.630/2020, conhecido como “PL das Fake News”. Atualmente parado na Câmara dos Deputados, o texto propõe a regulação das plataformas digitais.

A última versão do projeto previa que, em caso de golpe por meio de anúncio, as empresas deveriam responder de forma “solidária” pelo dano causado ao usuário — ou seja, elas seriam tão responsáveis quanto o próprio anunciante do golpe.

Esse regime, no entanto, pode ser alterado para determinar que as plataformas só indenizem o consumidor caso não seja possível obrigar o anunciante. A mudança foi sinalizada ao Aos Fatos pelo deputado Orlando Silva (PC do B-SP), relator do projeto.

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