🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Substância de coquetel anti-HIV em remédio da Pfizer não é prova de que vacinas contra Covid-19 causam Aids

Por Marco Faustino

22 de dezembro de 2022, 14h01

Não é verdade que o Paxlovid, medicamento da Pfizer para tratar Covid-19, contém ritonavir, substância usada no coquetel anti-HIV, porque a vacina da empresa causa Aids, como alegam nas redes sociais. No remédio da farmacêutica, o ritonavir não age como antiviral e apenas retarda a decomposição do nirmatrelvir, que inibe a reprodução do novo coronavírus. O processo permite que a molécula fique mais tempo no organismo, auxiliando o combate à doença. Os imunizantes não provocam Aids.


Selo falso

Vídeo engana ao dizer que o remédio Paxlovid contém substância usada contra o HIV para evitar casos de Aids; ritonavir é usado para reduzir o metabolismo de outra substância

Não há qualquer evidência de que vacinas contra a Covid-19 causem Aids, como já desmentido em algumas ocasiões por Aos Fatos, e que o remédio Paxlovid, desenvolvido pela Pfizer, sirva para combater uma suposta infecção pelo vírus HIV causada pelos imunizantes, como vem sendo disseminado nas redes sociais.

As publicações enganosas fazem confusão com a presença na fórmula do Paxlovid do ritonavir, antiviral comumente usado no tratamento de pacientes infectados pelo HIV. Na bula do Paxlovid destinada a profissionais de saúde, a Pfizer informa que o ritonavir possui uma função específica: reduzir o metabolismo de uma molécula do remédio, o nirmatrelvir, que inibe a replicação do vírus Sars-Cov-2, que causa a Covid-19.

A função do ritonavir no Paxlovid foi confirmada em nota enviada pela Pfizer ao Aos Fatos. “[O ritonavir] ajuda a retardar o metabolismo, ou decomposição, do nirmatrelvir, fazendo com que este último permaneça ativo no corpo, em concentrações mais elevadas, por maiores períodos, e assim auxiliando no combate ao vírus. Em outras palavras, o ritonavir não apresenta atividade antiviral, e seu uso consiste em potencializar a ação do nirmatrelvir”, diz um trecho da nota.

Especialistas consultados pelo Aos Fatos explicaram que é comum que o ritonavir seja utilizado para “regular” a ação de outros medicamentos.

Mel Markoski, professora de Biossegurança da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) explicou que os vírus utilizam enzimas chamadas "proteases" para montarem suas estruturas nas células do hospedeiro. Há décadas o ritonavir é usado para inibir a protease do HIV e impedir a produção de novas células infectadas pelo vírus.

No caso do Paxlovid, o ritonavir retarda a depuração do nirmatrelvir, que, por sua vez, impede a protease 3CL do Sars-Cov-2, o que previne a replicação do vírus no corpo humano, como explicado pelo biomédico Matheus Falco do Ipec (Instituto de Pesquisa para o Câncer) da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná).

HIV latente. Na publicação enganosa, é alegado que um estudo publicado na revista Nature mostra que a vacina da Pfizer, que utiliza tecnologia de mRNA, “expõe o HIV latente a células”, ou seja, sugere que o imunizante levaria a casos de infecção pelo vírus da Aids, o que é falso. O estudo não diz que a vacina causa Aids nem que leva à infecção de pessoas pelo vírus HIV.

O estudo testou células de pacientes previamente infectados pelo HIV em laboratório e verificou que a vacinação com o imunizante da Pfizer fez com que o vírus, que estava adormecido (latente) dentro de algumas células, despertasse. Segundo o estudo, a ativação desses reservatórios latentes seria importante para que a medicação contra o HIV agisse em resquícios do vírus no corpo humano, de modo a eventualmente atingir a cura dos pacientes.

“Não há razão para pensar que esse efeito seja clinicamente prejudicial. Em vez disso, o valor de nossas observações referem-se aos esforços para curar a infecção pelo HIV ao reativar os reservatórios latentes para permitir a depuração imunológica dessas células infectadas”, diz um trecho do estudo.

Além disso, o código genético do vírus HIV não foi encontrado no plasma sanguíneo. “O estudo mostra uma reativação modesta e temporária do HIV, mas não foi verificada a replicação do vírus. Então, nem assim seria possível desenvolver a doença após a vacinação, nem mesmo para o portador do vírus HIV”, acrescentou Matheus Falco, o que também foi corroborado pela biomédica Mellanie Fontes-Dutra.

Em nota, a Pfizer informou que não há qualquer indício de que a vacina produzida pela farmacêutica, ou alguma outra, ocasione infecção pelo HIV.

Referências:

1. Aos Fatos
2. Pfizer
3. Nature

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