Redes entram em pânico com ‘Doença X’, que sequer existe

Por Luiz Fernando Menezes

29 de janeiro de 2024, 10h39

Desde a última reunião do Fórum Econômico Mundial, em meados deste mês, uma teoria conspiratória tem ganhado força nas redes internacionais e brasileiras: a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a elite global — categoria que inclui presidentes, bilionários e cientistas — estariam se preparando para lançar uma nova pandemia de uma doença chamada “X”.

Segundo os usuários que estão disseminando essa tese mirabolante, a doença — que, já de antemão, afirmamos não estar relacionada à rede social de mesmo nome — estaria sendo desenvolvida pela OMS há anos com o intuito de ser enviada aos quatro cantos do planeta e, assim, reduzir a população mundial.

As estimativas variam entre 50 e 150 milhões de mortos, e a data do lançamento muda de acordo com a publicação: há quem diga que ela será lançada logo mais neste ano, outros já falam que só será disseminada em 2025, e existem pessoas que acreditam que ela já está circulando por aí, causando pneumonias mortais ou ceifando a vida de quem foi vacinado contra a Covid-19.

Print de vídeo mostra texto, em inglês, que diz ‘Doença X, OMS, 150 milhões de mortes’
Pandemia. Publicação estima que Doença X mataria entre 50 e 150 milhões de pessoas (Reprodução/Instagram)

A desinformação, no entanto, não para por aí:

  • Cientistas diferentes — em sua maioria americanos — gravaram vídeos explicando qual seria o vírus causador da Doença X e seus sintomas;
  • Um exemplo é a “Dra. Judy Mikovits” — que na verdade tem bacharelado em química e é conhecida por posicionamentos pseudocientíficos —, que tem viralizado ao dizer que a Doença X seria causada pelo vírus XMRV. Esse agente, no entanto, é antigo, e já há medicamentos capazes de inibi-lo;
  • Há quem olhe para frente e já afirme que a Doença X tem o intuito de promover outro isolamento social para, assim, acabar de vez com as transações em dinheiro;
  • E nos grupos do Telegram, há até quem acredite que a Doença X, na verdade, é uma continuação da pandemia da Covid-19. A lógica por trás dessa versão é muito complexa: a Covid-19, na verdade, não seria grave a ponto de justificar as campanhas de vacinação, e os imunizantes não passariam de uma desculpa para injetar nas pessoas chips ou substâncias “ativados” pela Doença X.

Post no Instagram mostra homem de terno e gravata borboleta falando; legenda resume teoria de que Doença X seria a ‘próxima campanha terrorista no mundo’
'Campanha terrorista'. Teoria relaciona Doença X com ‘erradicação das transações baseadas em dinheiro’ (Reprodução/Instagram)

Poderíamos ficar enumerando teorias sobre a Doença X indefinidamente, dada a variedade de desinformação que tem surgido nas redes. Mas não importa qual o alerta ou o suposto perigo citado por quem quer que seja - porque tudo é mentira.

É mentira porque a Doença X não passa de um conceito.

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O termo “Doença X” apareceu pela primeira vez em 2018 em um relatório da OMS que listava patógenos e doenças que deveriam ser prioridade nas pesquisas e desenvolvimentos de medicamentos. No próprio documento, a instituição explica que a expressão: “representa o conhecimento de que uma grave epidemia internacional poderia ser causada por um patógeno atualmente desconhecido por causar doenças humanas.”

A Doença X, portanto, é uma doença hipotética. Ao colocar essa expressão na lista de prioridades, a OMS aponta que é necessário estar preparado caso um vírus desconhecido provoque uma nova pandemia. Um exemplo de preparação seria desenvolver tecnologias que possam ser adaptadas a qualquer doença.

Mas se a Doença X não existe, por que ela estaria sendo discutida no Fórum Econômico Mundial? Pandemias não afetam apenas a saúde pública, mas também as economias, e por isso é necessário desenvolver protocolos e medidas de proteção em um eventual cenário em que um novo vírus ou bactéria se alastre pelo planeta.

Então, não entre em pânico. A Doença X é tão real quanto carros voadores ou espadas laser: um conceito que um dia, quem sabe, pode vir a existir, mas que hoje não passa de ficção científica.

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