Não há evidências de que coquetel com vitaminas e própolis seja eficaz contra dengue

Por Marco Faustino

20 de fevereiro de 2024, 15h21

É falso que haja um protocolo composto por própolis, vitaminas C e D, e o medicamento Broncho-Vaxom comprovadamente eficaz para o tratamento da dengue, como fazem crer publicações nas redes. O Ministério da Saúde e especialistas consultados pelo Aos Fatos afirmam que não há tratamento específico contra a doença. O Broncho-Vaxom não é destinado ao tratamento da doença, e o uso de produtos sem orientação médica pode agravar o quadro de saúde de pacientes com dengue.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos no Facebook e 750 mil visualizações no Instagram nesta terça-feira (20).

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Selo falso

Tem um protocolo para melhorar a dengue rápido (…) Pega o papel e a caneta e anota: própolis (…), vitamina D (…), vitamina C (…) e broncho-vaxom

Posts fazem crer que protocolo com vitaminas e própolis seja eficaz contra a dengue, o que é falso. Não há tratamento específico contra a doença e uso das substâncias pode agravar quadro de saúde de pacientes

Diferentemente do que tem sido difundido por posts nas redes, um protocolo composto por própolis, vitaminas C e D, e o medicamento Broncho-Vaxom não tem eficácia nem segurança comprovadas para tratar a dengue. O Ministério da Saúde informa que não há tratamento específico contra a doença e que a recuperação consiste basicamente em repouso e na reposição de líquidos. Além disso, especialistas ouvidos pelo Aos Fatos afirmam que o uso de vitaminas e substâncias naturais pode agravar a saúde de pacientes com dengue.

“As vitaminas D e C em excesso fazem mal à saúde. Elas têm indicações precisas para pessoas que, de modo comprovado em laboratório, têm falta dessas vitaminas. Então, essas vitaminas não são indicadas, não auxiliam na recuperação e nem auxiliam na obtenção ou garantia de imunidade”, afirma a infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Raquel Silveira Bello Stucchi.

Um estudo publicado em janeiro deste ano pela revista científica Nutrients, por exemplo, aponta que quantidades excessivas de vitamina D, como uma única dose de 100 mil U.I. (sigla para unidades internacionais, medida usada para a dosagem de alguns medicamentos), podem causar lesões renais e cardiovasculares, entre outros sintomas. No protocolo compartilhado pelas peças de desinformação é recomendada a ingestão de 50 mil unidades por três dias, o que resulta em 150 mil unidades da vitamina.

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Segundo Stucchi, substâncias naturais, como o própolis, também pode “trazer reações adversas graves e, portanto, não devem ser consumidas” por pacientes com dengue.

Já o medicamento Broncho-Vaxom é indicado para auxiliar no tratamento de infecções respiratórias, segundo a bióloga Maria Helena Menezes Estevam Alves, pesquisadora do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). “Os mecanismos de ação dos fármacos possivelmente são diferentes dos afetados pela dengue no sistema imunólogico”, ela afirma.

Na bula do medicamento não há qualquer indicação para o tratamento da dengue. Aos Fatos tampouco encontrou estudos específicos referentes ao uso do medicamento para o tratamento de pacientes com dengue.

Referências:

1. Ministério da Saúde (1 e 2)
2. Nutrients
3. Chiesi

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