🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Após encontrar Netanyahu e negar ódio a judeus, Musk recomendou perfis com mentiras sobre Israel

Por Alexandre Aragão

11 de outubro de 2023, 18h59

Há três semanas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teve um encontro público com Elon Musk na Califórnia. Ambos aproveitaram a conversa — que está no YouTube de Netanyahu — para abordar críticas recentes:

  • Musk negou que o antissemitismo no X esteja pior do que quando a empresa se chamava Twitter. No mês passado, ele ameaçou processar a ADL (Anti-Defamation League), entidade que combate o ódio a judeus nos Estados Unidos há mais de um século;
  • Já o premiê israelense defendeu sua tentativa de reforma do Judiciário, que gerou queda no apoio da população e protestos nas ruas, e buscou posar como um político que incentiva a inovação e que modernizou a economia do país.

Os ataques terroristas do Hamas são o primeiro evento geopolítico de impacto global que irrompe com o Twitter sob Musk, já que a invasão russa à Ucrânia começou meses antes da aquisição.

No domingo (8), o dono da plataforma recomendou a seus 159,6 milhões de seguidores dois perfis que teriam informações confiáveis sobre o conflito. Na verdade, como mostrou o Washington Post, esses perfis já haviam divulgado mentiras. Musk deletou a recomendação.

Sem funcionários de moderação e segurança, que foram demitidos, e contando apenas com “notas da comunidade”, que não são confiáveis, o X manteve o poder e jogou fora a responsabilidade de pautar conversas relevantes, característica que possui mesmo com audiência menor do que quando era Twitter.

A Plataforma de hoje é sobre as escolhas de Musk e suas consequências.


Conversa. Montagem sobre frame do vídeo de Musk e Netanyahu (Méuri Elle/Aos Fatos)


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Musk, Netanyahu e ódio a judeus no X

Na biografia de Musk recém-lançada (Editora Intrínseca), Walter Isaacson escreve que “a questão da moderação de conteúdo dominou a primeira semana” dele como dono do Twitter. Pouco antes de a aquisição ser selada, o rapper Ye (ex-Kanye West) havia sido banido após tuitar: “Quando acordar eu vou detonar os JUDEUS”.

“A saga de Ye”, escreve Isaacson, “acabaria ensinando a Musk uma série de lições sobre a complexidade da liberdade de expressão e as desvantagens de criar regras por impulso”.

O autor relata uma reunião em que esteve presente e na qual Musk disse a Yoel Roth, então chefe da área de confiabilidade e segurança: “Discurso de ódio não tem lugar no Twitter. Não dá para aceitar isso”.

De lá para cá, o novo dono demitiu Roth e disseminou mentiras sobre o ex-funcionário, insinuando que ele, um homem gay, havia publicado um artigo acadêmico incentivando a pedofilia, o que resultou em ameaças de morte.

“Eu tive que vender a minha casa”, relatou Roth em 29 de setembro, durante entrevista no evento Code Conference. “Tive que me mudar e morei em diferentes lugares durante alguns meses, com o meu marido, o meu cachorro e todas as nossas coisas.”

Horas depois, a executiva escolhida por Musk para ser CEO do X, Linda Yaccarino, subiu ao mesmo palco para defender o chefe e rebater Roth em uma entrevista. “Eu trabalho no X, ele trabalhou no Twitter”, soltou.

“O X é uma nova empresa, cuja fundação é a liberdade de expressão”, continuou Yaccarino. “O Twitter operava com regras diferentes, como ele próprio disse, filosofias e ideologias diferentes, que beiravam a censura.”

Os fatos contradizem o que a CEO do X afirma. O que ela chama de “censura”, na verdade, eram regras de governança que buscavam mitigar problemas reais.

A ADL, que Musk ameaçou processar na Justiça dos Estados Unidos, fez críticas à falta de moderação e incentivou anunciantes do X a pararem de financiar, mesmo que indiretamente, o discurso de ódio. As objeções são legítimas diante da liberdade de expressão que o bilionário diz defender.

Como escrevi na Plataforma #01, a debandada de clientes do ex-Twitter — que hoje fatura uma fração da receita que um dia já teve — é reflexo da falta de “segurança de marca”, efeito colateral da falta de moderação de conteúdo. Digo e repito: nenhuma empresa quer ver sua inserção em um print lado a lado com conteúdo neonazista.

Na terça (10), o comissário europeu Thierry Breton enviou um documento à empresa demandando explicações em até 24 horas sobre a circulação de desinformação. No início da semana, o X já havia divulgado um comunicado dizendo que estava investigando o problema.

As consequências da inconsequência de Musk para o próprio bolso já eram sabidas. Os ataques terroristas em Israel e a contraofensiva contra o Hamas servirão para avaliar também as consequências nefastas para o debate público.

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