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As mentiras que militares contaram antes e depois do golpe de 1964 para justificar a ditadura

Por Gisele Lobato

26 de março de 2024, 14h16

Falsos espiões chineses, acidentes de elevador que nunca existiram e atentados a bomba com o objetivo de culpar opositores: a ditadura militar, inaugurada por um golpe que completa 60 anos em 2024, cultivou uma série de mentiras para tentar legitimar seu poder e descredibilizar seus opositores. E essas versões mentirosas da história encontram ressonância social até hoje.

Ao usar alegações falsas para amplificar o perigo da “ameaça comunista”, os militares manipularam os temores de parte da população e garantiram a queda do presidente João Goulart. Mais tarde, a distorção dos fatos foi usada com outras finalidades, inclusive para esconder problemas sociais do país — como um surto de meningite que foi acobertado para preservar a reputação do regime.

“O regime atuou ao longo do tempo para reforçar as versões oficiais e, na verdade, nunca abriu mão delas, já que os militares não assumem essas mentiras até hoje”, explicou ao Aos Fatos o historiador Lucas Pedretti, membro da Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia.

Parte dessas fabulações foram ressuscitadas por autoridades no governo Jair Bolsonaro. No primeiro ano de governo, um vídeo divulgado pelo Planalto afirmou que o golpe de 1964 reagiu a uma suposta ameaça comunista, argumento enganoso que voltou a ser repetido em 2020 e 2021.

O ex-presidente, que construiu uma carreira política no Congresso ao defender pautas corporativas de militares, chegou a negar que o país tenha vivido uma ditadura.

Aos Fatos apresenta, a seguir, uma amostra das mentiras contadas na época do regime militar, divididas em seis eixos temáticos.

  1. Chamar o golpe de ‘revolução’
  2. Inflar a ‘ameaça comunista’
  3. Simular normalidade institucional
  4. Camuflar as mortes por tortura e execuções
  5. Forjar acusações e crimes para culpar opositores
  6. Omitir e manipular dados para ocultar a realidade do país

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1. Chamar o golpe de ‘revolução’

Desde o primeiro momento, militares usaram a expressão “revolução” para se referir às movimentações que levaram à queda de João Goulart. Ela está presente, por exemplo, no nome da junta que assumiu o poder logo após o golpe: o Comando Supremo da Revolução, formado pelos ministros Artur da Costa e Silva (Exército), Augusto Rademaker Grünewald (Marinha) e Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica).

O termo também aparece naquele que ficaria conhecido como o AI-1 (Ato Institucional nº 1), publicado em 9 de abril de 1964: “O que houve e continuará a haver neste momento, não só no espírito e no comportamento das classes armadas, como na opinião pública nacional, é uma autêntica revolução”.

Essa definição é repudiada por historiadores. “O que aconteceu em 1964 corresponde a todas as definições clássicas da ciência política, do direito, da história de um golpe de Estado”, afirma Lucas Pedretti. De acordo com ele, enquanto revoluções têm “caráter popular e o sentido de uma transformação social profunda”, os golpes de Estado atendem a interesses de frações de classe ou de classes sociais específicas.

“O golpe não foi revolução porque não trouxe transformações estruturais na economia e na sociedade brasileira, não deslocou do centro do poder político as classes dominantes e nem contou com lideranças populares de um movimento de massas tomando o poder”, afirma Luciana Lombardo, historiadora e integrante da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ.

De acordo com a pesquisadora, os militares optaram pela palavra “revolução” porque ela tinha uma conotação positiva nos anos 1960, tanto por conta das revoluções socialistas, como a cubana, quanto das liberais, como a Revolução Francesa. O golpe de 1964, no entanto, não era uma coisa nem outra. “Tratou-se somente de um movimento militar com apoio dos setores dominantes, grandes empresários e latifundiários que já habitavam os centros do poder, direcionado pelo contexto de aliança com os Estados Unidos própria da Guerra Fria.”

Dois militares fardados e o presidente João Goulart olham para um documento.
João Goulart. Militares em conversa com o presidente em 30 de março de 1964 (Arquivo Nacional/Correio da Manhã)

2. Inflar a ‘ameaça comunista’

Os militares justificaram a derrubada de João Goulart alegando que havia um risco de os comunistas tomarem o poder no Brasil. Disseminada em discursos políticos, nas igrejas, em propagandas produzidas por entidades empresariais e até pela imprensa, essa ideia de que o país estava em vias de se render à “ameaça vermelha” desestabilizou o governo, jogou a população contra Jango e criou condições sociais para o golpe.

Estudiosos do período, porém, ressaltam que não apenas o “perigo” era muito menor do que o propagandeado, como ele também foi intencionalmente insuflado pelos golpistas.

“Os discursos golpistas criaram uma imagem de que os comunistas no Brasil eram muito poderosos, estavam muito infiltrados no governo, no Estado, nas forças militares. E isso foi uma grande distorção, um grande exagero, porque o Partido Comunista não tinha toda essa força”, afirmou Rodrigo Patto Sá Motta, professor da UFMG e autor do livro “Em Guarda contra o Perigo Vermelho: o Anticomunismo no Brasil” (Eduff, 2020).

Para Motta, a retórica que associava qualquer medida progressista ao comunismo era uma estratégia usada para deslegitimar as reformas propostas por Jango. O professor sublinha, no entanto, que o político “nunca foi comunista nem socialista” e que apenas fazia acordos políticos. Como grande proprietário rural, Goulart não tinha interesse, por exemplo, no fim da propriedade privada no Brasil.

Na edição de julho de 1966, a revista Realidade publicou uma entrevista com Goulart, que estava exilado em uma fazenda no Uruguai, comprada quatro meses após o golpe. Em um trecho, o repórter Luiz Fernando Mercadante define o ex-presidente como “o grande estancieiro que aos 18 anos já invernava 20 mil cabeças de gado nas suas terras de São Borja [RS]; o fazendeiro que expandiu suas terras; o homem que possuía nada menos que 22 fazendas no Brasil quando foi apeado do poder”.

Manchete do Diário de Notícias de abril de 1964 noticia que grupo de chineses acusados de espionagem pelo governo brasileiro fizeram greve de fome na prisão 
Os nove chineses. Manchete do Diário de Notícias de abril de 1964 noticia que estrangeiros acusados de espionagem fizeram greve de fome na prisão (Diário de Notícias/Biblioteca Nacional)

Além de ser usada na campanha contra Jango, a desinformação sobre a ameaça comunista também foi disseminada para amplificar uma sensação de medo que já existia em setores da população que rejeitavam a esquerda e os valores progressistas. Isso ocorreu por meio da manipulação de acontecimentos reais:

  • Um exemplo é o caso de uma missão comercial e diplomática da China comunista que estava no Brasil quando ocorreu o golpe. Os nove chineses foram presos e apontados como agentes estrangeiros que desejavam implantar a revolução comunista no país. Apesar de a acusação nunca ter se comprovado, a situação foi noticiada como se os estrangeiros fossem, de fato, criminosos;
  • Outro caso foi o do petroleiro soviético Ljubotin, apreendido pela Marinha de Guerra no litoral de São Paulo em 1964 “sob suspeita de trazer não apenas petróleo cru, mas armas e material subversivo para os comunistas brasileiros”, como noticiou a revista Manchete em 25 de abril daquele ano. “Os fuzileiros navais nada encontraram que o incriminasse, exceto a foice e o martelo”, dizia a publicação, que informava que o navio retornou “livre e desimpedido” à União Soviética;
  • Outro episódio emblemático ocorreu durante as filmagens do documentário brasileiro “Cabra Marcado para Morrer”, em 1964, como recorda Luciana Lombardo: “As câmeras e equipamentos encontrados foram fotografados e expostos pela polícia como armamentos dos ‘revolucionários cubanos’ — que, no caso, eram a própria equipe de filmagem”;
  • Além de amplificar a suposta “ameaça vermelha”, as propagandas do período também buscaram distorcer a ideologia comunista. Um exemplo é o documento “Como Eles Agem”, produzido durante a ditadura pelo Ministério da Educação e Cultura. “Ele é cheio de falsas citações de Lênin e Mao Tse Tung, que são repetidas pela extrema-direita até hoje”, afirma Lombardo.

Diversos homens com terno e farda estão reunidos. Ao centro, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco recebe a faixa presidencialPosse. Eleito indiretamente, Humberto de Alencar Castelo Branco recebe a faixa presidencial em 15 de abril de 1964 (Arquivo Nacional/Agência Brasil)

3. Simular normalidade institucional

A despeito dos inúmeros casos de violência, repressão e supressão de direitos, os militares buscaram, ao longo de todo o regime, vender uma imagem de normalidade institucional. De acordo com Raquel Cartoce, mestre em História pela USP, algumas estratégias usadas para camuflar o caráter ditatorial do governo foram:

  • Promover eleições municipais;
  • Realizar eleições para deputados;
  • Manter partidos políticos funcionando;
  • Promover um regime de rotatividade de presidentes.

Embora se parecessem com ritos democráticos, esses procedimentos seguiam, na prática, regras ditadas pelos próprios militares.

Apesar de o Congresso ter continuado aberto após o golpe, por exemplo, a ditadura cassou os mandatos de deputados da oposição — caso de Rubens Paiva, político que seria assassinado pelo regime anos depois.

Em 1965, a ditadura acabou com o sistema multipartidário para instituir um regime com dois partidos: a Arena (Aliança Renovadora Nacional), que representava o governo, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que Cartoce define como “suposta oposição”. “Brincavam na época que era o partido do ‘sim’ e o do ‘sim, senhor’, porque era uma oposição consentida dentro de certos limites”, explica.

Da mesma forma, a rotatividade de presidentes — garantida por eleições indiretas, nas quais a população não podia votar — também tinha pouco efeito prático, já que as chances de vitória de um candidato que não fosse o dos próprios militares eram praticamente nulas.

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Outro indicativo claro do caráter ditatorial do regime foi a repressão, que começou já nos primeiros dias após o golpe e se manteve mesmo após o anúncio da abertura política do país, a partir de 1974.

“Se fala muito que não houve uma repressão significativa nos primeiros anos, que ela só aconteceu como reação à luta armada dos comunistas, a partir de 1968, mas existem vários exemplos de tortura e de violência institucional desde o golpe”, afirma a Cartoce, que cita como exemplo o caso do militante comunista Gregório Bezerra, que foi preso e torturado em abril de 1964.

Durante o período da abertura — anunciado durante o governo de Ernesto Geisel (1974–1979) —, a pesquisadora afirma que também se buscava passar a impressão de que não havia mais prisões arbitrárias e torturas. Entretanto, Cartoce lembra que boa parte dos desaparecimentos políticos registrados no país ocorreram depois de 1974 e que sumir com os corpos era uma forma de negar as responsabilidades do regime.

Homem caído no chão está com os braços estendidos para se proteger do golpe de um militar que está prestes a agredi-lo
Repressão. Militares agridem civil durante greve no ABC paulista (Arquivo Nacional)

4. Camuflar as mortes por tortura e execuções

Outra prática comum durante a ditadura era a de contar mentiras para dissimular a causa da morte de opositores políticos que foram executados ou que não resistiram a sessões de tortura. As versões falsas sobre o que havia acontecido tinham até a cumplicidade de legistas do IML (Instituto Médico Legal).

O caso mais notório é o do jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, assassinado em outubro de 1975 nas dependências do II Exército, em São Paulo. Na época, os militares divulgaram que Vlado, que estava preso, tinha cometido suicídio — mentira que foi repetida por Jair Bolsonaro em 2018.

Contrariando a versão oficial, porém, o corpo de Herzog tinha diversas marcas de agressões, causadas pela tortura. Além disso, as fotos que acompanhavam o laudo técnico não deixam dúvidas da farsa: a tira de pano que o jornalista teria usado para se enforcar estava amarrada tão baixo nas grades da cela que seus joelhos estavam dobrados, com os pés tocando o chão.

Lucas Pedretti também chama a atenção para outra estratégia adotada pelos militares: alegações falsas de que opositores teriam reagido a ações policiais e morrido durante tiroteios. O pesquisador cita como exemplo a Chacina de Quintino, ocorrida em 1972, que matou três militantes do grupo VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares).

“A justificativa foi de que eles teriam resistido à invasão da casa onde estavam, mas a gente comprovou, pela Comissão Estadual da Verdade [do Rio de Janeiro], que foram execuções”, diz o pesquisador.

Algumas das explicações para as mortes também envolviam acidentes inventados. No caso do estudante da USP Alexandre Vannucchi Leme, de 22 anos, militante da ALN (Ação Libertadora Nacional), os militares alegaram que ele tinha sido atropelado por um caminhão. O jovem, porém, havia sido morto por agentes do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo, em 1973.

Luciana Lombardo menciona ainda o caso do educador Anísio Teixeira, que foi encontrado morto dias após seu desaparecimento no fosso de um elevador. “Existem pesadas evidências de que seu corpo foi transferido para o poço do elevador após a morte.”

Foto mostra corpo do jornalista pendurado pelo pescoço em uma grade na janela. Os pés de Herzog tocam o chão, obrigando seu joelho a dobrar.
Tortura. Foto de perícia de Vladimir Herzog prova que suicídio do jornalista foi forjado por militares (Silvaldo Leung Vieira)

5. Forjar acusações e crimes para culpar opositores

Além das fabulações que escondiam as condutas criminosas nos interrogatórios e o paradeiro de presos políticos, Luciana Lombardo diz que é comum encontrar na documentação mentiras usadas para desqualificar os opositores do regime.

Um caso de perseguição baseado em falsas acusações é o do inquérito contra o professor Alberto Luiz Coimbra, criador da Coppe — primeira pós-graduação em engenharia do Brasil, da UFRJ —, que foi acusado de corrupção. “Todo o departamento é chamado a depor, ele é incriminado, e nada daquilo é comprovado”, conta Lombardo.

Algumas das mentiras criadas para incriminar a oposição, no entanto, atingiram proporções mais amplas. Foi o caso de uma série de atentados promovidos por um grupo paramilitar de extrema-direta entre 1967 e 68. Os ataques miraram alvos do próprio regime e, ao serem atribuídos à esquerda, ajudaram a embasar a assinatura do AI-5 (Ato Institucional nº 5), em 13 de dezembro de 1968. O decreto deu início ao período de maior repressão da ditadura, com medidas como a possibilidade de fechamento do Congresso e o fim do habeas corpus.

A fim de justificar o AI-5, a cúpula do regime argumentou que o país enfrentava uma guerra revolucionária, o que exigia medidas excepcionais do governo. Lucas Pedretti diz que é fato que existiam no país “iniciativas esparsas de guerrilhas” desde o início dos anos 1960, mas que se tratava de “iniciativas muito localizadas, muito pequenas”, que nunca representaram qualquer possibilidade real de tomada do poder.

As consequências dos atentados forjados pela extrema-direita militar em 1968 só não foram maiores porque um dos planos mais ambiciosos foi denunciado por um capitão-paraquedista, que não concordou em ser cúmplice de uma possível carnificina. Trata-se do Caso Para-Sar, arquitetado pelo brigadeiro João Paulo Burnier, que previa detonar explosivos em diversos locais públicos do Rio de Janeiro. Segundo estimativas, o plano poderia ter causado a morte de pelo menos 10 mil pessoas.

Outro atentado planejado pelos militares e que também falhou foi o do Riocentro. A bomba que pretendiam acionar durante um show comemorativo do Dia do Trabalhador, em 1981, acabou explodindo no colo dos agentes encarregados da missão. No acidente, o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário morreu e o capitão Wilson Dias Machado ficou gravemente ferido.

Os arquitetos do plano criminoso tinham a intenção de culpar grupos de esquerda pela explosão, a fim de tentar impedir o processo de abertura política do país. Placas de trânsito no caminho para o Riocentro chegaram a ser pichadas com a sigla VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organização que já tinha sido dizimada em 1973.

As mentiras não pararam nem com o fracasso do plano. Para tentar acobertar os criminosos, o primeiro Inquérito Policial-Militar que investigou o incidente atribuiu a explosão a uma bomba plantada no carro, “provavelmente por subversivos”.

6. Omitir e manipular dados para ocultar a realidade do país

Outra prática comum da ditadura foi mentir para esconder da população a realidade sobre problemas sociais e econômicos do país.

“Houve uma mentira em relação às taxas de inflação no Brasil nos anos 1973 e 1974. O governo da ditadura divulgou índices inflacionários manipulados, mentirosos, para passar a impressão de que a inflação era menor”, lembra Rodrigo Motta. A estratégia incluía oferecer créditos para evitar reajustes e abastecer artificialmente os mercados do Rio de Janeiro — onde a inflação era medida —, para evitar o registro da alta de preço de certos produtos.

Ministro da Fazenda no período, Antônio Delfim Netto confirmou ao jornal O Globo, em 2014, que o governo fazia um controle da oferta, mas negou que isso fosse uma manipulação de dados. Tratava-se, segundo ele, de uma medida “legítima”.

Propaganda de fundo preto mostra foto de um bebê recém nascido, ainda com o cordão umbilical, sendo erguido pelos pés. Título diz ‘ministro, transamazônico vai bem’. Texto do anúncio diz que ‘Juarez Furtado de Araújo Transamazônico foi o primeiro menino a nascer naquele ‘admirável mundo novo’.
Transamazônico. Propaganda da construtora Queiroz Galvão na revista Realidade, em 1971, insinua que teria nascido o primeiro bebê na região onde a ditadura construiu a rodovia Transamazônica (Reprodução)

Os militares também omitiram a verdade em uma série de episódios para preservar a reputação do regime, garantir vantagens econômicas ou evitar tensões sociais:

  • Um exemplo é o surto de meningite que começou no governo Emílio Garrastazu Médici (1969–1974). Na época, a ditadura censurou as informações sobre a epidemia, o que acabou agravando o problema, já que a doença é transmissível;
  • Outra distorção foi a exploração do mito do “vazio demográfico da Amazônia”, que invisibilizava os povos tradicionais que habitavam a floresta. Embora essa ideia já fosse antiga, os militares adotaram slogans como “uma terra sem homens para homens sem terra” para lançar projetos extrativistas e de infraestrutura e incentivar o avanço da indústria agropecuária para a região;
  • Carlos Benítez, professor de História da América da Universidade de Salamanca, na Espanha, conta que um diretor da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) chegou a vender certidões atestando a inexistência de indígenas em áreas que, na realidade, tinham habitantes. A manobra liberava essas terras para exploração, ao mesmo tempo em que condenava os povos originários, “que não existiam para o Estado brasileiro, a sofrer todo tipo de violência sem consequências jurídicas”;
  • A propaganda oficial também buscou impulsionar a versão fantasiosa de que não havia racismo no Brasil. “Existem várias peças de propaganda política da ditadura trazendo essa ideia, principalmente com tom bem infantil, educativo até, mostrando crianças de várias etnias brincando juntas”, exemplifica Cartoce. Segundo a historiadora, esse mito já circulava no país há décadas, mas foi aproveitado pela ditadura “para diminuir tensões sociais”.

Referências:

1. Aos Fatos (1, 2 e 3)
2. Folha de S.Paulo (1 e 2)
3. Planalto (1 e 2)
4. Biblioteca Nacional (Realidade e Manchete)
5. Arquivo Nacional
6. UOL (1, 2 e 3)
7. Memórias da Ditadura (1 e 2)
8. Comissão Nacional da Verdade (1 e 2)
9. Inep
10. Agência Pública
11. Memorial da Democracia
12. O Globo
13. Fiocruz
14. Cadernos de Geografia

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