É falso que vacinas de RNA mensageiro são mortais, como afirmou médico americano em audiência no Senado

Por Luiz Fernando Menezes

27 de fevereiro de 2024, 17h22

É falso que as vacinas de mRNA (RNA mensageiro) contra a Covid-19 são “mortais” e contraindicadas para todas as faixas etárias, como afirmou o médico americano James Thorp em audiência pública realizada no Senado brasileiro esta semana. A audiência tratou sobre obrigatoriedade da vacinação contra Covid-19 em crianças. Diferentemente do que alega o médico, os imunizantes tiveram sua eficácia e segurança comprovadas em estudos revisados pela comunidade científica e são indicados por órgãos governamentais.

O trecho recortado da fala de Thorp acumulava ao menos 10 mil curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta terça-feira (27).

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Selo falso

O depoimento do médico americano é chocante onde ele diz que as picadas devem ser removidas do mercado imediatamente, que é uma verdadeira carnificina, não há nada que comprove que as picadas resolvem, pelo contrário, só gera a morte em massa.

Trecho de fala de médico americano negacionista circula no Instagram com legenda que diz que seu depoimento foi ‘chocante’

Um trecho da fala do médico James Thorp durante uma audiência pública ocorrida no Senado na última segunda-feira (26) tem viralizado nas redes para sugerir que as vacinas de mRNA (RNA mensageiro) não seriam seguras ou eficazes. De acordo com o americano, imunizantes como o da Pfizer seriam mortais não só para crianças e bebês, mas também para adultos, e a tecnologia deveria ser “imediatamente removida do mercado global”. Suas afirmações, no entanto, não têm base na realidade.

Instituições oficiais e estudos científicos revisados já comprovaram a segurança e a eficácia das vacinas de mRNA mensageiro tanto em crianças quanto em adultos:

  • O CDC (Centers for Disease Control and Prevention, órgão do governo americano), por exemplo, recomenda o uso das vacinas da Moderna e da Pfizer — as duas que utilizam a tecnologia do mRNA — a partir de seis meses de idade;
  • A decisão veio após a FDA (Food and Drug Administration, agência regulatória americana) verificar que os estudos mostravam que os imunizantes eram seguros e eficazes inclusive nas faixas etárias mais jovens;
  • No Brasil, a aprovação da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) vai na mesma linha: uma análise técnica de dados e estudos clínicos conduzidos pela Pfizer “indicam que a vacina é segura e eficaz também para crianças entre 6 meses e 4 anos de idade”;
  • Em nota enviada ao Aos Fatos, a Pfizer afirmou que “nossos dados foram e são extensamente revisados por vários órgãos reguladores e consultivos em todo o mundo. A vacina Pfizer-BioNTech contra a Covid-19 foi administrada em centenas de milhões de adultos, adolescentes e crianças, gerando dados robustos que demonstram um perfil de segurança favorável e um elevado nível de proteção contra a doença grave da Covid-19 e a hospitalização”.
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Especialistas consultados pelo Aos Fatos também rechaçaram a fala de Thorp. Salmo Raskin, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, afirmou que a situação atual é contrária à apresentada pelo americano e que há inúmeros dados que comprovam a segurança e a eficácia das vacinas.

Raskin também classifica como mentirosa a fala de Thorp de que as vacinas estariam causando mortes em crianças e fetos. “Pelo contrário, há comprovação da proteção que a vacina confere tanto para a gestante quanto para o feto, até porque nos primeiros meses de vida o feto, a criança, não produz seus anticorpos e depende dos anticorpos produzidos pela mãe”.

A fala de Raskin vai ao encontro da posição da OMS (Organização Mundial de Saúde), que explica que “embora globalmente baixo, o impacto de quadros graves de Covid-19 em bebês com menos de seis meses ainda é maior do que em crianças com idades compreendidas entre os seis meses e os cinco anos. A vacinação de grávidas – inclusive com uma dose adicional, caso tenham se passado mais de seis meses desde a última dose – protege tanto elas quanto o feto, ao mesmo tempo em que ajuda a reduzir a probabilidade de hospitalização de bebês por Covid-19”.

Ana Paula Hermann, professora de farmacologia do ICBS/UFRGS (Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), aponta que a fala do médico americano não é embasada por nenhum estudo ou base de dados e critica o Senado por ter organizado uma audiência que gerou um debate que deixou de ser científico.

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Audiência. Na última segunda-feira (26), o Senado organizou uma audiência pública para discutir a obrigatoriedade de vacinação contra Covid-19 em crianças, em virtude da inclusão do imunizante no PNI (Programa Nacional de Imunizações). O evento contou com a presença de médicos desinformadores, como o próprio Thorp.

Com especialização em ginecologia, o americano já disseminou diversas mentiras sobre a vacinação contra a Covid-19, especialmente de crianças. O Health Feedback, por exemplo, desmentiu quatro de suas alegações entre 2022 e 2023. Entre elas, a de que imunizantes de mRNA causam abortos em 80% das grávidas e a de que esse tipo de vacina tem alta taxa de mortalidade.

Referências:

1. CDC
2. FDA
3. Anvisa
4. OMS
5. Senado
6. Health Feedback (1, 2, 3)

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