É falso que as vacinas de mRNA (RNA mensageiro) contra a Covid-19 são “mortais” e contraindicadas para todas as faixas etárias, como afirmou o médico americano James Thorp em audiência pública realizada no Senado brasileiro esta semana. A audiência tratou sobre obrigatoriedade da vacinação contra Covid-19 em crianças. Diferentemente do que alega o médico, os imunizantes tiveram sua eficácia e segurança comprovadas em estudos revisados pela comunidade científica e são indicados por órgãos governamentais.
O trecho recortado da fala de Thorp acumulava ao menos 10 mil curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta terça-feira (27).
O depoimento do médico americano é chocante onde ele diz que as picadas devem ser removidas do mercado imediatamente, que é uma verdadeira carnificina, não há nada que comprove que as picadas resolvem, pelo contrário, só gera a morte em massa.
Um trecho da fala do médico James Thorp durante uma audiência pública ocorrida no Senado na última segunda-feira (26) tem viralizado nas redes para sugerir que as vacinas de mRNA (RNA mensageiro) não seriam seguras ou eficazes. De acordo com o americano, imunizantes como o da Pfizer seriam mortais não só para crianças e bebês, mas também para adultos, e a tecnologia deveria ser “imediatamente removida do mercado global”. Suas afirmações, no entanto, não têm base na realidade.
Instituições oficiais e estudos científicos revisados já comprovaram a segurança e a eficácia das vacinas de mRNA mensageiro tanto em crianças quanto em adultos:
- O CDC (Centers for Disease Control and Prevention, órgão do governo americano), por exemplo, recomenda o uso das vacinas da Moderna e da Pfizer — as duas que utilizam a tecnologia do mRNA — a partir de seis meses de idade;
- A decisão veio após a FDA (Food and Drug Administration, agência regulatória americana) verificar que os estudos mostravam que os imunizantes eram seguros e eficazes inclusive nas faixas etárias mais jovens;
- No Brasil, a aprovação da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) vai na mesma linha: uma análise técnica de dados e estudos clínicos conduzidos pela Pfizer “indicam que a vacina é segura e eficaz também para crianças entre 6 meses e 4 anos de idade”;
- Em nota enviada ao Aos Fatos, a Pfizer afirmou que “nossos dados foram e são extensamente revisados por vários órgãos reguladores e consultivos em todo o mundo. A vacina Pfizer-BioNTech contra a Covid-19 foi administrada em centenas de milhões de adultos, adolescentes e crianças, gerando dados robustos que demonstram um perfil de segurança favorável e um elevado nível de proteção contra a doença grave da Covid-19 e a hospitalização”.
Especialistas consultados pelo Aos Fatos também rechaçaram a fala de Thorp. Salmo Raskin, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, afirmou que a situação atual é contrária à apresentada pelo americano e que há inúmeros dados que comprovam a segurança e a eficácia das vacinas.
Raskin também classifica como mentirosa a fala de Thorp de que as vacinas estariam causando mortes em crianças e fetos. “Pelo contrário, há comprovação da proteção que a vacina confere tanto para a gestante quanto para o feto, até porque nos primeiros meses de vida o feto, a criança, não produz seus anticorpos e depende dos anticorpos produzidos pela mãe”.
A fala de Raskin vai ao encontro da posição da OMS (Organização Mundial de Saúde), que explica que “embora globalmente baixo, o impacto de quadros graves de Covid-19 em bebês com menos de seis meses ainda é maior do que em crianças com idades compreendidas entre os seis meses e os cinco anos. A vacinação de grávidas – inclusive com uma dose adicional, caso tenham se passado mais de seis meses desde a última dose – protege tanto elas quanto o feto, ao mesmo tempo em que ajuda a reduzir a probabilidade de hospitalização de bebês por Covid-19”.
Ana Paula Hermann, professora de farmacologia do ICBS/UFRGS (Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), aponta que a fala do médico americano não é embasada por nenhum estudo ou base de dados e critica o Senado por ter organizado uma audiência que gerou um debate que deixou de ser científico.
Audiência. Na última segunda-feira (26), o Senado organizou uma audiência pública para discutir a obrigatoriedade de vacinação contra Covid-19 em crianças, em virtude da inclusão do imunizante no PNI (Programa Nacional de Imunizações). O evento contou com a presença de médicos desinformadores, como o próprio Thorp.
Com especialização em ginecologia, o americano já disseminou diversas mentiras sobre a vacinação contra a Covid-19, especialmente de crianças. O Health Feedback, por exemplo, desmentiu quatro de suas alegações entre 2022 e 2023. Entre elas, a de que imunizantes de mRNA causam abortos em 80% das grávidas e a de que esse tipo de vacina tem alta taxa de mortalidade.