🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que Canadá disse que vacinados contra Covid-19 contraíram Aids

Por Marco Faustino

3 de outubro de 2023, 15h41

Não é verdade que dados do governo do Canadá mostram que 74% das pessoas triplamente vacinadas contra a Covid-19 desenvolveram Aids, como afirmam publicações nas redes. Os documentos citados não associam em nenhum momento a doença à vacinação nem medem o nível de imunidade proporcionado pelas vacinas.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 4 mil compartilhamentos no X (ex-Twitter), além de centenas de curtidas e compartilhamentos no Instagram e no Facebook, respectivamente, até a tarde desta terça-feira (3).


Selo falso

Governo canadense admite que 74% dos triplamente vacinados agora têm AIDS

Captura de tela mostra uma das publicações enganosas que alegam que o governo canadense admitiu que 74% dos triplamente vacinados contraíram Aids, o que é falso.

É falso que relatórios do governo canadense mostram que 74% das pessoas que tomaram três doses da vacina contra a Covid-19 perderam imunidade e desenvolveram Aids, como tem sido difundido nas redes. Os documentos citados pelas peças de desinformação não fazem qualquer menção à Aids como consequência da imunização contra a Covid-19.

Os relatórios semanais da Agência de Saúde Pública do Canadá mostram somente o número total de casos, hospitalizações e mortes causadas pela Covid-19, quantidade de testes realizados e lista as variantes que circulam no país do vírus Sars-Cov-2, que causa a doença. O detalhamento sobre casos da doença após a vacinação pararam de ser atualizados em setembro de 2022, e um resumo dos dados era publicado nos relatórios semanais até maio.

Segundo a agência de saúde canadense, uma das razões para isso é que a maioria dos cidadãos do país contraiu a Covid-19 ao menos uma vez, o que tornava difícil separar os impactos da imunidade da doença, da imunidade da vacina e da imunidade de ambas.

As peças enganosas deduzem que 74% dos vacinados que tomaram três doses do imunizante teriam sofrido danos no sistema imunológico e, portanto, contraído Aids, a partir de uma fórmula que leva em consideração as taxas de casos entre vacinados e não imunizados, e realiza subtrações e divisões de maneira arbitrária. O cálculo não serve para medir o desempenho do sistema imunológico, como é falsamente alegado.

“Esse cálculo não faz o menor sentido. Eles distorceram o cálculo de efetividade da vacina para poder criar essa suposta medida de performance do sistema imune. Em toda a minha formação em imunologia, eu nunca ouvi falar desse tipo de cálculo”, afirmou Letícia Sarturi, mestre em imunologia pela USP, ao Aos Fatos.

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Em checagem anterior, Sarturi disse que a resposta imunológica ao longo do tempo é avaliada pela geração de células de memória (como linfócitos T e B) e o nível de anticorpos produzido por elas. Essas informações não constam nos relatórios do governo canadense.

É importante esclarecer que uma pessoa não contrai Aids pelo enfraquecimento do seu sistema imunológico, mas devido à infecção pelo vírus HIV, que ocorre pelo contato direto com o sangue, sêmen ou fluidos vaginais de um indivíduo infectado. Segundo a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a Covid-19 e a Aids. A infecção pelo HIV leva o indivíduo a perder progressivamente a imunidade celular, tornando-o suscetível a outras doenças.

A alegação falsa circula nas redes desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu ao estabelecer uma ligação entre casos de Aids e vacinas contra Covid-19 durante uma live em outubro de 2021. O ex-mandatário se baseou em sites que publicaram informações falsas, e que citaram relatórios do governo britânico que nunca difundiram essa informação, como checado, na época, pelo Aos Fatos.

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Referências:

1. Governo do Canadá (1 e 2)
2. Wayback Machine (1 e 2)
3. Aos Fatos (1 e 2)
4. Ministério da Saúde
5. Agência Aids
6. G1

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