🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Embargos internacionais não são o único motivo da queda no preço da carne

Por Marco Faustino

18 de setembro de 2023, 18h00

Não é verdade que embargos estrangeiros à importação da carne bovina são a única causa da queda do preço do produto no governo Lula (PT). As peças de desinformação que fazem essa alegação tiram de contexto uma reportagem que noticia restrições impostas pelo mercado internacional após um registro de “vaca louca” no Pará. Além de parte dos embargos já ter sido suspensa, especialistas apontam que o caso não foi relevante para a queda nos preços, influenciada por fatores como a oferta e a demanda e o aumento no abate de animais.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 3.500 compartilhamentos no Facebook e dezenas de milhares de visualizações no Kwai até a tarde desta segunda-feira (18).


Selo não é bem assim

O governo vai dizer que baixou o preço. A verdade é que com embargo o país perde em crescimento. Mais 4 países suspenderam a importação de carne bovina do Brasil. Veja o motivo]

Post compartilha reportagem antiga para afirmar que preço da carne caiu no Brasil por conta de embargos impostos após caso de vaca louca

Publicações têm compartilhado fora de contexto um trecho de uma reportagem veiculada em 3 de março no Jornal da Record para sugerir que a queda no preço da carne bovina foi causada unicamente pelos embargos impostos à importação do produto brasileiro no início deste ano. Os posts omitem, no entanto, que a Rússia e a China, responsáveis por comprar 68,47% da carne brasileira em 2022, já retomaram as importações. Especialistas ouvidos pelo Aos Fatos também afirmam que a suspensão teve baixo impacto no preço cobrado pelo produto no mercado interno.

A reportagem da Record noticia que, após o registro de um caso de “vaca louca” no Pará em fevereiro, Rússia, China, Tailândia, Irã e Jordânia teriam deixado de comprar a carne brasileira. Os dois primeiros países, no entanto, suspenderam as restrições em abril e junho, respectivamente. O Aos Fatos perguntou ao Ministério de Relações Exteriores e ao Ministério da Agricultura e Pecuária se algum dos outros países ainda mantém embargo contra a carne brasileira, mas não houve resposta.

De acordo com especialistas no mercado agropecuário ouvidos pela reportagem, no entanto, as restrições tiveram pouco impacto na diminuição dos preços da carne, que registraram queda de até 16,95% entre janeiro e agosto deste ano, a depender do corte.

Thiago Bernardino, pesquisador em pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP, apontou que a queda é fruto de fatores como o desequilíbrio entre oferta e demanda. “Houve inflação no mercado doméstico entre 2021 e meados de 2022, onde o consumidor brasileiro se assustou com o preço da carne. Então, ele saiu do consumo, o que fez com que sobrasse mais carne. A pressão da oferta, o consumo enfraquecido, a grande quantidade de animais abatidos somam-se aos embargos e faz com que sobre mais carne no mercado interno”, explicou ao Aos Fatos.

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Ainda de acordo com Bernardino, cerca de 75% da produção da carne bovina brasileira é consumida no mercado interno. A exceção ficou por conta de 2019, ano em que o surto de peste suína que acometeu a China potencializou as exportações brasileiras.

Já Hyberville Neto, diretor da consultoria de mercado agropecuário HN Agro, afirmou ao Aos Fatos que a queda nos preços é resultado de uma oferta maior de gado que não está relacionada ao embargo. Com o preço do boi em alta entre 2019 e 2021, houve maior investimento no setor. Essa oferta maior de bezerros chegou ao mercado a partir do ano passado e pressionou os preços.

“Quando os preços dos bezerros caem e a rentabilidade da cria diminui, o produtor fica desestimulado e acaba aumentando o abate de vacas e novilhas, porque não está interessante produzir bezerros e porque precisa de caixa. Com isso, os abates e a produção de carne aumentam e os preços cedem”, explicou.

Referências:

1. R7
2. Agência Brasil
3. Correio Braziliense
4. Canal Rural
5. MDIC
6. G1
7. IBGE
8. Mais Soja
9. CNA

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