O que se sabe sobre o assassinato de Fernando Villavicencio, candidato no Equador

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Após o assassinato do jornalista e político Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, na noite de quarta-feira (9), as redes brasileiras foram tomadas por teorias conspiratórias e acusações sem provas que tentam relacionar o caso a uma disputa por motivações políticas.

  • Usuários tentam estabelecer ligações entre o crime e a esquerda, particularmente com o Foro de São Paulo e o ex-presidente equatoriano Rafael Corrêa, adversário político de Villavicencio e aliado de Lula (PT);
  • Outras publicações apontam sem apresentar provas que membros do crime organizado, que assumiram a autoria do atentado, teriam apoio do ministro da Justiça e Segurança Pública brasileiro, Flávio Dino (PSB).

Com eleições marcadas para o próximo dia 20, o Equador entrou em estado de exceção nesta quinta-feira (10) por conta do atentado. O presidente Guillermo Lasso afirmou, em pronunciamento durante a madrugada, que a data do pleito será mantida e que as Forças Armadas serão mobilizadas para apoiar o trabalho da polícia.

Abaixo, o Aos Fatos explica o que se sabe até agora sobre o caso.

  1. Quem é Fernando Villavicencio?
  2. Qual era a posição política do candidato?
  3. Como e onde ocorreu o atentado?
  4. Quem são os autores?
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1. Quem é Fernando Villavicencio?

Ex-parlamentar na Assembleia Nacional, Fernando Villavicencio era jornalista e candidato à Presidência do Equador pelo Movimiento Construye. Com bandeira de combate à corrupção, ele construiu sua campanha sob o slogan “É hora dos corajosos”. Em pesquisas recentes, o político aparecia entre segundo e quinto lugar nas intenções de voto, a depender do instituto responsável.

Villavicencio defendia repressão máxima ao crime organizado e à corrupção, com a construção de presídios de segurança máxima, a militarização dos portos para o controle do narcotráfico e a criação de uma unidade antimáfia, que atuaria com apoio estrangeiro.

Antes de assumir a carreira política, ele atuou como dirigente sindical da Petroecuador e posteriormente como repórter especializado na cobertura de casos de corrupção, em especial no setor petrolífero.

Villavicencio foi alçado à fama por sua oposição ao ex-presidente Rafael Corrêa:

  • Em 2014, o jornalista foi condenado a 18 meses de prisão por difamação contra Corrêa após denunciar um possível crime contra a humanidade ocorrido durante incursão armada em um hospital em 2010;
  • Para evitar cumprir pena, ele se refugiou em uma comunidade indígena na Amazônia;
  • Condenado mais uma vez à prisão em 2016 por usar emails hackeados em uma investigação sobre corrupção, o jornalista se refugiou em Lima e retornou ao Equador apenas em 2017, com permissão do então mandatário Lenín Moreno;
  • Em outra investigação, ele também revelou um esquema de suborno que envolvia Corrêa e funcionários do alto escalão do governo;
  • Condenado a oito anos de prisão pelo caso em 2020, o ex-presidente equatoriano abandonou o país e se refugiou na Bélgica.

Eleito parlamentar em 2021, Villavicencio presidiu a Comissão de Fiscalização da Assembleia Nacional. Ele foi destituído do cargo em maio deste ano, após o presidente Guillermo Lasso acionar um dispositivo constitucional que dissolveu o Congresso. O mandatário era alvo de um processo de impeachment por ter supostamente permitido favorecimento a empresas do setor do petróleo em contratos estatais.

2. Qual era a posição política do candidato?

De acordo com perfil publicado no El País, Villavicencio se considerava um candidato de esquerda. Ele integrava, no entanto, o Movimiento Construye, partido apontado como de centro ou centro-direita.

Em relação à política brasileira, Villavicencio fez críticas tanto a Lula quanto a Jair Bolsonaro (PL):

  • Em dezembro de 2020, o jornalista publicou vídeo em que pede que o ditador venezuelano Nicolás Maduro deixe o poder após o alto índice de abstenção nas eleições. No post, ele afirma que o povo do país repudia o governante, como repudia “Kirchners, Evo, Ortega, Lula e toda essa organização criminosa”;
  • O presidente brasileiro também é citado em posts em que Villavicencio faz menção a investigações sobre a atuação da Odebrecht no Equador e critica o ex-presidente Rafael Corrêa, aliado do petista;
  • Em post publicado na véspera das eleições brasileiras de 2018, Villavicencio afirma que Bolsonaro é “um produto da traição do PT, da maior corrupção da história”, e que não “compartilha nada” com o então candidato;
  • O jornalista também criticou declarações de Bolsonaro sobre a Amazônia e compartilhou reportagens sobre denúncias de corrupção contra os filhos dele.

Prints mostram duas cenas do momento do atentado contra Fernando Villavicencio: na primeira imagem, ele sai de um local escoltado por seguranças; na segunda, seguranças fecham porta de carro para proteger político de tiros
Atentado. Vídeo divulgado nas redes mostra momento em que Fernando Villavicencio é alvo de criminosos (Reprodução)

3. Como e onde ocorreu o atentado?

O atentado ocorreu na noite de quarta-feira (9), quando Villavicencio deixava um comício em Quito. No momento em que entrava no carro, o político foi alvejado por uma série de tiros. Em meio à confusão, outras nove pessoas ficaram feridas, entre elas uma candidata à Assembleia Nacional e dois policiais.

Em post nas redes, a Procuradoria-Geral do país afirmou que seis pessoas foram detidas por suspeita de participação no atentado. Outro suspeito morreu durante uma troca de tiros com seguranças.

Na madrugada desta quinta-feira (10), o atual presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou estado de exceção e afirmou que o crime “não ficará impune”. De acordo com ele, estão mantidas as eleições gerais do país, marcadas para o próximo dia 20, após o acionamento de um dispositivo constitucional que dissolveu o Congresso. Com o estado de exceção, o presidente pode suspender ou limitar direitos civis, como a liberdade de trânsito e de informação e a inviolabilidade de residência e correspondência.

4. Quem são os autores?

Em vídeo publicado nas redes, um grupo que se identificou como a facção criminosa Los Lobos assumiu inicialmente a responsabilidade pelo assassinato de Villavicencio. Na noite da última quinta (10), no entanto, foi divulgado um novo comunicado em que a facção desmente a autoria do crime e afirma que as pessoas encapuzadas que aparecem na primeira gravação não pertencem à Los Lobos.

  • "Esclarecemos que repudiamos o assassinato do candidato presidencial, senhor Fernando Villavicencio. E deixamos claro que nunca assassinamos pessoas do governo ou civis", afirmou um dos integrantes do grupo no novo vídeo;
  • Apontada como a segunda maior organização criminosa do país pelo observatório InSight Crime, a Los Lobos possui em torno de 8.000 membros;
  • A facção está envolvida em atividades como tráfico de drogas e garimpo ilegal;
  • Em maio do ano passado, o grupo foi responsável por organizar uma rebelião que levou à morte de 43 pessoas;

A facção é uma dissidência do grupo Los Choneros, que já havia ameaçado Fernando Villavicencio no passado. Com a morte de seu líder em 2020, a Los Choneros perdeu espaço para a Los Lobos, que atualmente lidera uma união de organizações criminosas apontada como fornecedora de armas e segurança para o cartel mexicano Jalisco Nova Geração.


Esta reportagem foi atualizada às 11h51 do dia 11 de agosto de 2023 para que fosse acrescentada a informação de que a facção criminosa Los Lobos, que havia supostamente assumido a autoria do atentado, publicou novo vídeo negando ser responsável pelo crime.

Referências

  1. G1 (1, 2 e 3)
  2. UOL (1, 2, 3 e 4)
  3. El País (1, 2 e 3)
  4. Twitter (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9)
  5. BBC Brasil
  6. O Estado de S. Paulo
  7. Infobae
  8. InSight Crime (1 e 2)
  9. O Globo
  10. Canal 26
  11. Primicias

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