O que são os Twitter Files, vazados pelo próprio Musk, e como eles chegaram ao Brasil

Por Ethel Rudnitzki

8 de abril de 2024, 19h26

Supostas trocas de emails de funcionários do Twitter no Brasil liberadas por Elon Musk e divulgadas por jornalistas conservadores serviram de artilharia para ataques contra o ministro Alexandre de Moraes, o TSE e o STF ao longo do fim de semana.

Os conteúdos, que não têm qualquer prova de autenticidade, supostamente mostram como integrantes da antiga equipe de consultoria jurídica da plataforma teriam reagido a pedidos feitos por autoridades brasileiras entre 2020 e 2022, antes de Musk comprar a empresa.

Embora não revelem a quais decisões se referem as supostas medidas tomadas pela Justiça contra a plataforma, os vazamentos iniciaram uma série de acusações contra Moraes nas redes. Os ataques foram insuflados por publicações de Musk, que pediu o impeachment do ministro e ameaçou descumprir decisões. Ao menos um perfil bloqueado pela Justiça brasileira voltou a ser exibido, como o Aos Fatos mostrou.

Em resposta, Moraes incluiu o empresário na lista de investigados em inquérito sobre milícias digitais no Brasil.

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Os conteúdos — chamados de Twitter Files Brazil — fazem parte de um pacote mais amplo de documentos vazados por Musk desde dezembro de 2022, logo após assumir o controle da plataforma.

Por aqui, a história começou na semana passada, quando o jornalista e ativista conservador Michael Shellenberger, conhecido por negar a gravidade das mudanças climáticas e se opor a ambientalistas, publicou supostas mensagens trocadas por funcionários da antiga equipe de consultoria jurídica da plataforma no Brasil entre 2020 e 2022.

Ao todo foram 22 capturas de tela, que mostravam as supostas respostas dadas pela empresa a investigações e decisões judiciais emitidas no Brasil. As medidas pediam ao Twitter o fornecimento de informações de usuários investigados por disseminação de desinformação e a remoção de publicações com conteúdo enganoso ou com ameaças ao sistema eleitoral brasileiro.

As mensagens não mostram os pedidos exatos feitos pelas autoridades judiciais à plataforma, que estão sob sigilo. Também não foi possível comprovar a veracidade dos conteúdos dos emails.

Da mesma forma como ocorreu nos Estados Unidos em 2022, o vazamento foi feito em conjunto com jornalistas de sites conservadores — o colunista da Gazeta do Povo, Eli Vieira, e o fundador do portal A Investigação, David Ágape — e repercutiu entre políticos e influenciadores de extrema-direita, que acusaram Moraes de censura e pediram seu impeachment.

“O Brasil está à beira de uma ditadura”, dizia o título de uma transmissão ao vivo feita por Shellenberger, da qual participaram a comentarista da Revista Oeste Ana Paula Henkel e o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS). Nela, os integrantes acusaram o ministro Alexandre de Moraes e o TSE de abusos durante o pleito de 2022.

Nos Estados Unidos

As primeiras publicações do Twitter Files nos Estados Unidos ocorreram ainda em 2022. Divulgados por jornalistas americanos conservadores, os registros também não tiveram a autenticidade confirmada e revelaram:

  • A política oculta de shadow banning, ou redução do alcance de publicações de usuários em redes sociais, que afetaria as contas de alguns influenciadores de direita no país, entre outras pessoas — a lista completa não foi divulgada;
  • A colaboração da plataforma com investigações do FBI e do Pentágono;
  • Como foi a tomada de decisão sobre o banimento do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump da plataforma;
  • Diálogos de funcionários da empresa com autoridades de Justiça e saúde dos Estados Unidos sobre moderação de conteúdo desinformativo.

Na época, os vazamentos foram usados por Musk como estratégia para desqualificar a gestão anterior da empresa e justificar mudanças que foram implementadas nos meses seguintes, como a demissão de equipes de moderação, o fim de políticas contra conteúdos sobre Covid-19 e a mudança na política de selos de verificação.

As mensagens também serviram como munição para políticos e influenciadores de extrema-direita nos Estados Unidos, que acusaram o governo e as plataformas de praticarem censura e desrespeitarem a liberdade de expressão.

O caso motivou uma ação na Suprema Corte do país movida pelos estados republicanos de Louisiana e Missouri que pede a restrição da comunicação entre o governo de Joe Biden e as plataformas — embora os vazamentos não tenham revelado uma comunicação com a Presidência, apenas com outras autoridades do Executivo.

Referências:
1. Aos Fatos
2. Agência Brasil
3. Climate Feedback
4.
X (@elonmusk)
5. Núcleo
6. The New York Times
7. NPR
8. Reuters

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