🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Youtuber distorce falas de Barroso ao alegar mudança de opinião sobre voto impresso

Por Priscila Pacheco

13 de julho de 2021, 13h59

Em vídeo que circula nas redes sociais (veja aqui), o youtuber Gustavo Gayer interpreta de maneira distorcida duas declarações de Luís Roberto Barroso, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e leva a crer que o magistrado já foi favorável ao voto impresso e agora é contrário. Isso não é verdade.

Apesar de ter elogiado em 2017 um protótipo de urna com impressão do voto, Barroso disse no mesmo evento que a medida era um retrocesso. Já na declaração "nós vamos judicializar o resultado das eleições" se houver voto impresso, dada à rádio CBN em maio deste ano, o ministro se referia às candidaturas, não a si próprio, como alegou o youtuber.

O vídeo reunia centenas de compartilhamentos no Facebook nesta terça-feira (13) e foi sinalizado como desinformação na ferramenta de verificação da rede (saiba como funciona).


Como vocês sabem, a posição do Barroso é bem clara. Se tiver voto impresso, "nós vamos judicializar o resultado das eleições", diz Barroso. Ou seja, se tiver voto impresso, eu não vou aceitar o resultado...

Esta declaração do ministro Luís Roberto Barroso destacada no vídeo de Gustavo Gayer está fora de contexto. Ele não se referia a si mesmo quando, em entrevista à rádio CBN em 21 de maio deste ano, disse que "nós vamos judicializar o resultado das eleições" se o voto impresso for adotado. A menção era às candidaturas que poderiam se sentir prejudicadas.

“Imagina que um percentual pequeno, uma fração desse número [de candidatos] peça na Justiça recontagem dos votos. Vai contratar os melhores advogados eleitoralistas do Brasil para encontrar uma inconsistência, uma incongruência, cavar uma nulidade… nós vamos judicializar o resultado das eleições. Num país em que judicializa tudo, nós não precisamos disso, nós queremos que o poder emane das urnas, não do juízo”, disse Barroso.


Veja ali [no vídeo], em 2017, quatro anos, nós temos ministros defendendo [o voto impresso], dizendo que seria bom, que viria somar ao sistema de apuração, o próprio Barroso dizendo isso. O que mudou de lá pra cá?

É verdade que, no vídeo de 2017 apresentado por Gayer, Barroso elogia a aparência de um protótipo da urna eletrônica com impressora e diz que ela iria se integrar “a esse sistema extraordinário de apuração eleitoral que nós temos no Brasil”. A declaração, entretanto, não pode ser interpretada como uma defesa do voto impresso, como faz o youtuber. Na realidade, no mesmo evento em que a urna foi apresentada, o ministro disse que a medida representava um retrocesso, como noticiou na época o site do TSE.

A impressão do voto dado na urna eletrônica constava na minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso em 2015. A medida, entretanto, foi derrubada pelo STF em 2018. No julgamento, a maioria dos ministros concordou com a argumentação da PGR (Procuradoria Geral da República) de que haveria risco ao sigilo do voto.

Os dois vídeos do TSE mostrados por Gayer, o que contém a declaração de Barroso e outro com uma animação que explica o funcionamento da nova urna, foram gravados neste intervalo em que a norma esteve em vigor e que a Justiça Eleitoral teve que agir para cumprir o determinado pela lei. O tribunal disse ao Aos Fatos que o desenho animado foi tirado do ar após a derrubada da regra pelo STF para não causar confusão.

O Aos Fatos entrou em contato com o youtuber Gustavo Gayer, que publicou o vídeo original, para que pudesse comentar sobre a checagem, mas não houve retorno.

Referências:

1. TSE (Fontes 1, 2, 3 e 4)
2. Facebook TSE
3. Site do Senado
4. G1
5. Folha de S. Paulo
6. CBN


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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