🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Vírus usado na vacina da AstraZeneca não é o mesmo da varíola dos macacos

Por Marco Faustino

10 de junho de 2022, 16h24

Não é verdade que o adenovírus de chimpanzé usado na vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca seja o mesmo que transmite a varíola dos macacos, como afirmam postagens nas redes sociais (veja aqui). O microorganismo presente no imunizante é incapaz de transmitir doenças ao ser humano, segundo a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que produz a vacina no Brasil, e especialistas consultados por Aos Fatos. O vírus da varíola é da família Poxviridae, enquanto o da vacina é da família Adenoviridae.

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Selo falso

FALTA DE AVISO NÃO FOI, A MÍDIA TODA EM SILÊNCIO ! VARÍOLA DO MACACO EXPLODE, AS VACINAS PRO-COVID FORAM FEITAS DO ADENOVÍRUS DO CHIMPANZÉ ESTÁ NA BULA

Post faz crer que a vacina AstraZeneca é responsável pelo atual surto de varíola dos macacos, o que é falso

O adenovírus (tecnologia de vetor viral) que está na vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 não é o mesmo que transmite a varíola dos macacos, como afirmam postagens nas redes sociais. Segundo a Fiocruz, o imunizante utiliza uma versão modificada geneticamente de um adenovírus que causa resfriado comum em chimpanzés, o ChAdOx1, inofensivo para o ser humano. Já o vírus da varíola dos macacos é o MPV (monkeypox virus), de família diferente do que está no imunizante.

“São vírus completamente diferentes. A varíola do macaco é causada por um vírus da família Poxviridae, subfamília Orthopoxviridae. Já o adenovírus, usado para construir o vírus recombinante expressando antígeno de SARS-CoV-2 (coronavírus) em laboratório, é um vírus da família Adenoviridae”, informou a Fiocruz.

Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), descartou qualquer relação do adenovírus da vacina da AstraZeneca com o atual surto de varíola dos macacos. “O adenovírus usado é um vetor inócuo ao ser humano”, conclui.

Em checagem anterior, Aos Fatos mostrou que as vacinas de vetor viral usam uma versão modificada de um vírus diferente (o vetor) para fornecer instruções importantes às células humanas, a fim de produzir resposta imune. As vacinas que empregam essa tecnologia não são capazes de nos infectar com o vírus da Covid-19, tampouco com aquele usado como vetor.

“Tanto o adenovírus modificado quanto a proteína do Sars-Cov-2 [transportada para gerar resposta imune] não possuem qualquer relação com o vírus causador da varíola dos macacos e em seu processo de desenvolvimento e/ou produção, não ocorre qualquer relação com a inoculação ou isolamento em primatas não humanos”, diz a Fiocruz.

Após a vacinação. Segundo a fundação, não existe a possibilidade de que a varíola dos macacos seja um EAPV (evento adverso pós-vacinação) da vacina contra a Covid-19. “Não há relato ou mesmo identificação de qualquer EAPV que possa sequer se assemelhar ou ser confundida com as lesões ou patologias causadas pelo monkeypox”, diz.

A varíola dos macacos não aparece na lista de efeitos colaterais reportados por pacientes que participaram dos estudos de fase III da vacina AstraZeneca. Também não há qualquer relato da doença como consequência da aplicação do imunizante na plataforma Yellow Cards (“cartões amarelos”, em poruguês), da MHRA (Medicines & Healthcare Products Regulatory Agency), agência reguladora de saúde do Reino Unido, desde janeiro de 2021, e em plataforma análoga da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O virologista Flávio Guimarães, presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia), pontua que, apesar do nome, a doença não tem origem em macacos. Ela é chamada assim porque foi descrita originalmente na década de 1950 por afetar macacos, que são hospedeiros acidentais, como o ser humano. “Os reservatórios, ou seja, os organismos onde ele se esconde na natureza são os roedores. É um vírus transmitido por roedor, que pode infectar macacos e seres humanos. Ele não é um vírus de macaco”, conclui.

Referências:

1. Fiocruz
2. Aos Fatos
3. NEJM
4. MHRA
5. Anvisa


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