Virologista não disse que vacinados contra Covid-19 morrerão em dois anos

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É falso que o virologista francês Luc Montagnier, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2008, afirmou que os vacinados contra a Covid-19 morrerão dois anos após a imunização, como alegam postagens nas redes sociais (veja aqui). Tal declaração não consta na entrevista que ele deu ao site que é citado como fonte dos posts. Nesta ocasião, porém, o cientista afirmou que a vacinação pode causar novas variantes do vírus, o que não teria amparo científico, segundo especialistas ouvidos pelo Aos Fatos.

As postagens enganosas contam com 1.730 compartilhamentos nesta quarta-feira (2) no Facebook e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma (veja como funciona).


“Todas as pessoas vacinadas morrerão dentro de dois anos”, prêmio Nobel Luc Montagnier. Em entrevista chocante o maior virologista do mundo afirmou sem rodeios: “não há esperança e nenhum tratamento possível para aqueles que já foram vacinados. Devemos estar preparados para cremar os corpos”. O gênio científico apoiou as afirmações de outros virologistas eminentes após estudar os ingredientes da vacina. “Todos eles morrerão devido a intensificação dependente de anticorpos. Isso é tudo o que pode ser dito”

Não é verdade que o virologista francês Luc Montagnier, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2008, afirmou em uma entrevista que todas as pessoas vacinadas contra a Covid-19 vão morrer dois anos após a imunização. A declaração não consta na entrevista que ele concedeu a um site francês chamado Divulgation, conhecido por publicar e amplificar teorias conspiratórias e negacionistas, à qual as postagens fazem referência, e tampouco em outros registros.

No entanto, durante a gravação, o cientista diz que as vacinas podem criar novas variantes do Sars-Cov-2, vírus causador da doença, o que, segundo especialistas ouvidos pelo Aos Fatos, é falso e não encontra qualquer amparo na ciência.

Letícia Sarturi, mestre em imunologia pela USP (Universidade de São Paulo), explica que as mutações que geram novas variantes ocorrem a partir de um excesso de replicação do vírus onde a taxa de transmissão está alta - caso do Brasil - e que a vacinação em massa tem a capacidade de desacelerar este processo, minimizando, portanto, o potencial de criação de novas cepas.

Além disso, o surgimento de variantes em ambientes onde a aplicação dos imunizantes ainda não havia começado ou em regiões com baixa taxa de cobertura vacinal mostra que não é possível traçar uma relação causal entre as vacinas e a geração de variantes do Sars-Cov-2 de preocupação global.

A P.1, conhecida como “variante de Manaus”, por exemplo, surgiu em dezembro de 2020. A campanha de vacinação no país começou oficialmente no dia 17 de janeiro quando o Amazonas já passava por um colapso.

Da mesma forma, a B.1.1.7 circulava no Reino Unido desde setembro, enquanto a vacinação começou apenas em 8 de dezembro. Outra variante que causa preocupação, a B.1.617.2, foi descoberta na Índia em outubro do ano passado, e o país começou a vacinar somente em janeiro deste ano.

As vacinas contra Covid-19 já têm apresentado bons resultados na inibição da doença. Além da queda no Reino Unido, Israel, que vacinou a população em massa, viu novas infecções diárias caírem de um pico de 10 mil em janeiro para cerca de cem em abril.

Resultados de um projeto de vacinação em massa do Instituto Butantan na cidade de Serrana (SP) mostram que as mortes por Covid-19 caíram 95% após o fim da pesquisa que durou quatro meses. O estudo, divulgado no último domingo (30), também aponta que a pandemia pode ser controlada com 75% da população vacinada com a CoronaVac.

Fenômeno. Montagnier ainda desinforma ao dizer que as vacinas contra Covid-19 podem ser nocivas pelo potencial de gerar um fenômeno conhecido como Aprimoramento Dependente de Anticorpos (ADE, na sigla em inglês), que deixaria o paciente em condições mais vulneráveis após a vacinação do que antes de receber o imunizante.

Segundo a pesquisadora Ariane Abreu, filiada ao INC (Instituto Nacional de Cardiologia), apesar de ter sido uma preocupação no início das pesquisas, este fenômeno não foi identificado nas vacinas contra a Covid-19.

Esta peça de desinformação também foi checada no Brasil pelo Boatos.org e o Fato ou Fake, e nos EUA pelo Politifact e pela Reuters.


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