🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Vídeo não mostra míssil ou drone em direção ao porto de Beirute antes da explosão

Por Luiz Fernando Menezes

6 de agosto de 2020, 18h57

Publicações nas redes sociais enganam ao alegar que um vídeo da explosão no porto de Beirute, no Líbano, provaria que houve ataque de míssil ou drone (veja aqui). Especialistas em artefatos explosivos que analisaram a gravação a pedido do Aos Fatos afirmam que as características da onda de impacto e da fumaça não indicam o disparo de foguetes. Além disso, o ponto indicado nas imagens tem o movimento semelhante ao de um pássaro.

No Facebook, o vídeo com a informação enganosa somava ao menos 4.000 compartilhamentos até a tarde desta quarta-feira (5). Todas as publicações foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (entenda como funciona).


FALSO

Um vídeo que mostra o momento da explosão no porto de Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), circula em publicações nas redes sociais que indicam um ponto nas imagens como míssil ou drone que teria atacado a instalação. Isso, porém, não é verdade, segundo especialistas que analisaram a gravação a pedido do Aos Fatos. Segundo eles, a explosão não teria as mesmas características se o artefato fosse disparado da altura em que o ponto aparece. Além disso, o movimento dele se assemelha ao de um pássaro.

Diógenes Lucca, tenente-coronel da reserva da PM-SP (Polícia Militar de São Paulo) e especialista em gerenciamento de crise com explosivos, afirma duvidar que o incidente tenha sido causado por um míssil “porque você vê claramente o epicentro da explosão”. Segundo ele, se o projétil fosse a causa, ele deveria ter sido lançado de cima para baixo, não lateralmente, como o vídeo sugere.

Lucca afirma ainda que é possível observar, antes da grande explosão, que já havia um incêndio com fumaça branca no local, indicando uma queima de combustível ali. Depois, ele prossegue, aparecem pequenas explosões, como as de fogos de artifício, que seriam parte da reação em cadeia que terminou na explosão do nitrato de amônio. “Quando o nitrato de amônio explode, é como se ele fosse uma dinamite gigantesca”, explicou.

A hipótese é corroborada pelo coronel Valmor Racorti, do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM de São Paulo), que também analisou o vídeo a pedido do Aos Fatos: “Nitrato de amônio transforma a velocidade do vento em 4.000 metros por segundo aproximadamente. Acredito nessa hipótese observando as imagens, mas é de fundamental importância a análise, a coleta e a produção de provas para afirmar com exatidão”.

Racorti recorda que a explosão no Líbano é muito semelhante a uma outra, ocorrida na Alemanha em 1921 justamente por causa do nitrato de amônio. O desastre daquela época matou mais de 500 pessoas e os impactos foram sentidos a 300 km de distância.

Aos Fatos também analisou o ponto indicado nas postagens e não encontrou indícios de que se trata de um míssil ou um drone. Na gravação, é possível observar que ele aumenta e diminui de tamanho e voa de maneira irregular para cima e para baixo. Esse movimento é parecido com o bater de asas de um pássaro.

Também não há nada parecido com míssil ou drone se aproximando do local da explosão nos registros do desastre, inclusive em gravações mais próximas. Em alguns vídeos, no entanto, é possível ver pássaros sobrevoando as proximidades antes do impacto.

Segundo as autoridades libanesas, a hipótese principal é a de que a explosão foi causada por 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenados de forma irregular. O primeiro ministro libanês, Hassan Diab, anunciou que está sendo feita uma investigação para apurar a causa do desastre.

Esta é a quarta peça de desinformação checada por Aos Fatos sobre a explosão que matou ao menos 137 pessoas e feriu mais 5.000. Na quarta-feira (5), também circulou nas redes brasileiras uma imagem que supostamente mostraria corpos de pessoas arremessados pela onda de choque.

Referências:

1. Deutsche Welle

2. Al Arabiya English

3. CNN

4. Al Jazeera

5. Aos Fatos


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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