Não é verdade que uma gravação exibida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca, mostra uma homenagem a mais de mil fazendeiros brancos mortos em razão de sua raça na África do Sul. As cenas registram um protesto ocorrido em setembro de 2020 após a morte de dois fazendeiros brancos, assassinados durante uma invasão de propriedade. Não há evidências de que o crime teve motivação racial.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam milhares de visualizações no TikTok e centenas de compartilhamentos no Facebook e no X.
Esse é o vídeo que a globo não mostrou pra vc. Cada cruz representa um fazendeiro branco que foi assassinado na África do Sul. E algumas pessoas ainda negam que os sul-africanos brancos/boeres sejam perseguidos e dizem que eles não merecem asilo porque são brancos.

Posts nas redes têm compartilhado uma gravação que registra uma procissão de carros em uma estrada rural repleta de cruzes brancas como se fosse uma homenagem feita na África do Sul a mais de mil fazendeiros brancos mortos em razão de sua raça. Isso não é verdade.
A alegação viralizou nas redes após uma reunião entre Donald Trump e Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, na qual o líder americano mostrou a gravação e declarou, sem provas, que se trataria de sepulturas de mais de mil fazendeiros brancos no país africano.
Por meio de busca reversa, Aos Fatos verificou que o vídeo mostra uma manifestação realizada em 5 de setembro de 2020 na cidade de Normandien. O ato foi motivado pelas mortes de Glen e Vida Rafferty, dois fazendeiros brancos mortos após terem sua propriedade invadida. Quatro invasores foram presos entre 2021 e 2022, e não há evidências de que o crime tenha tido motivação racial.
Segundo a polícia local e o filho do casal, Nathan Rafferty, o objetivo dos criminosos era acessar um cofre e demais bens presentes dentro da propriedade.

As cruzes colocadas na estrada em memória do casal foram um protesto temporário, sendo removidas dias depois, como mostram imagens da rodovia registradas em 2023 no Google Earth.
Antes de ser mostrada por Trump durante reunião com o presidente sul-africano, a gravação já havia sido publicada pelo bilionário Elon Musk em seu perfil no X. O empresário é um dos principais proponentes da teoria do suposto genocídio branco que estaria atingindo fazendeiros na África do Sul, país em que nasceu.
Governada entre 1948 e 1994 por um sistema segregacionista e discriminatório que privilegiava a população branca, a África do Sul é, de fato, palco de tensões raciais ainda nos dias de hoje. Diferentemente do que sugerem Trump e Musk, no entanto, não há dados que comprovem a alegação de que haveria um genocídio branco.
De acordo com estatísticas da polícia sul-africana, entre abril e dezembro 2024 houve um total de 19.696 assassinatos no país. Destes, 36 foram de pessoas em comunidades rurais, sendo sete de fazendeiros.
O caminho da apuração
Por meio de busca reversa, Aos Fatos encontrou reportagens locais que cobriram o caso à época e constatou que o vídeo mostra um memorial à morte de dois fazendeiros, e não a milhares de vítimas, conforme alegam as peças desinformativas. Também consultamos a imprensa internacional e dados do governo sul-africano para contextualizar o caso.




