Vídeo mente ao associar mortes e internações de crianças à vacina contra a Covid-19

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Não é verdade que a vacinação contra a Covid-19 tenha causado complicações cardíacas em três crianças que aparecem em vídeo compartilhado nas redes sociais. Os posts omitem que um dos casos ocorreu antes do início da campanha de imunização infantil, em dezembro de 2021, e que autoridades não registraram os outros dois como complicações decorrentes das vacinas.

As peças de desinformação somavam centenas de curtidas no Instagram até a tarde desta segunda-feira (7).

[Vídeo mostra crianças vítimas das vacinas contra a Covid-19]

Post engana ao fazer crer que um menino, de pele clara e cabelo castanho, que aparece deitado em uma cama de hospital coberto por um lençol branco na altura do peito, teria sofrido uma parada cardíaca em razão da vacina contra a Covid-19. A criança teve o rosto borrado pelo Aos Fatos para preservar sua identidade. Legenda diz: ‘Menino tem parada cardíaca por 10 minutos e ao acordar, diz que falou com Deus; vídeo viralizou’

Um vídeo que circula nas redes engana ao associar os casos médicos de três crianças à imunização contra a Covid-19. Diferentemente do que sugerem as publicações, um dos casos ocorreu antes do início da vacinação infantil e os outros dois não foram registrados como complicações decorrentes das vacinas.

Nicolas. A primeira criança mostrada pelas peças de desinformação é um menino brasileiro de dez anos que vive na Espanha e que passou mal em 2 de dezembro de 2021, enquanto jogava futebol.

A criança sofreu duas paradas cardiorrespiratórias, mas sobreviveu sem sequelas. O caso não pode ser atribuído à vacina contra a Covid-19, porque o início da imunização de crianças entre 5 e 11 anos na Espanha começou em 15 de dezembro de 2021 — dias depois do caso.

Lívia. O vídeo enganoso também alega que uma menina de Rolândia (PR) teria morrido em fevereiro deste ano após um infarto causado pela vacina.

Aos Fatos localizou registros que informam sobre o sepultamento da criança e notícias em páginas locais sobre o caso, mas em nenhuma delas há a informação de que o infarto sofrido por ela teria sido causado pelos imunizantes.

Em nota à reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná afirmou que monitora eventos relacionados a possíveis condições adversas à vacinação e que não há nenhum registro de óbito no Paraná relacionado à aplicação da vacina.

Danielly. O último caso é o de uma menina que morreu em março após passar mal enquanto brincava na escola, em Moraújo (CE).

Parentes e autoridades do Ceará apresentaram versões diferentes para a morte, mas nenhuma delas faz menção à vacina contra a Covid-19.

Familiares afirmaram que a criança manifestou sinais de infarto e que tinha problemas cardíacos, além de histórico familiar de doenças no coração. Em nota à imprensa, a Polícia Civil do Ceará informou que a menina sofreu uma queda durante o intervalo das aulas.

A Secretaria de Saúde do Ceará informou ao Aos Fatos na última sexta-feira (4) que ainda não tinha sido notificada sobre o caso e que, por isso, não consegue afirmar qual a causa exata da morte da criança.

Dados. As peças de desinformação também alegam, sem apresentar fontes ou provas, que os casos de infarto, AVC (acidente vascular cerebral), trombose e miocardite cresceram mais de 180% em crianças e adultos de todas as faixas etárias após a vacinação contra a Covid-19.

Os números absolutos de morbidade hospitalar do SUS entre 2019 e 2024 compilados pelo Aos Fatos não mostram uma variação percentual anual igual ou superior a 180%. A informação foi corroborada pelo analista de dados e doutorando em epidemiologia pela USP, Isaac Schrarstzhaupt.

Segundo o especialista, só seria possível chegar a um aumento de 180% comparando os dados referentes aos anos com maior e menor número de casos. Além de a comparação ser equivocada, é importante considerar que o ano com menor número de registros foi 2020, quando a pandemia levou a uma queda no total de atendimentos hospitalares.

“A literatura tem estudos mostrando o impacto da própria Covid-19 em desfechos cardiovasculares, principalmente à exposição continuada. Por isso, o efeito da doença pode ter impacto nesse aumento. Isso é muito mais plausível do que a vacina, que teve sua segurança atestada em ensaios clínicos”, afirmou Schrarstzhaupt.

A análise foi corroborada pelo pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Os eventos adversos como trombose com as vacinas de vetor viral (Astra e Jansen) e miocardite com as de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna) são extremamente raros e não mudam a incidência geral”, afirmou.

O caminho da apuração

Aos Fatos extraiu dados do DataSUS e entrou em contato com especialistas para corroborar a análise dos números. Contextualizamos também os casos das crianças que aparecem no vídeo a partir de informações divulgadas pela imprensa e fornecidas por autoridades públicas.

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