Não é verdade que o senador Cleitinho (Republicanos-MG) tenha gravado um vídeo para avisar que o Procon obrigou as administradoras de cartões de crédito a estornar valores referentes a milhas obtidas desde 2015. O conteúdo foi manipulado por criminosos com a ajuda de inteligência artificial. Não há qualquer medida judicial nesse sentido contra as administradoras de cartão.
Os posts enganosos somavam mais de 1,6 milhão de visualizações no Facebook até a tarde desta terça-feira (3).
Tenho uma notícia urgente para vocês. Acaba de ser decretado a medida judicial contra as bandeiras de cartões. Essas bandeiras ocultaram mais de R$ 39 bilhões por ano em milhas dos seus usuários. E por isso quem utiliza cartão de crédito ou débito para pagar suas compras desde 2015 pode ter mais de R$ 3 mil de cashback e mais 60 mil pontos em milhas para sacar em dinheiro ainda hoje [Senador Cleitinho]
Posts difundem um vídeo enganoso em que o senador Cleitinho alerta sobre uma medida judicial que obrigaria administradoras de cartões de crédito a devolver aos consumidores valores arrecadados com milhas desde 2015. Mas isso é falso.
A gravação foi adulterada por criminosos com a ajuda de IA (inteligência artificial). Aos Fatos não identificou na imprensa, no site do Procon nem em tribunais qualquer medida com esse teor.
O vídeo original foi publicado em 10 de setembro, e Cleitinho cita o apoio de colegas para pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a pautar um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O Senado é responsável por processar e julgar ministros do STF quanto a crimes de responsabilidade. O processo pode resultar na perda do cargo, e a inabilitação, até cinco anos, para o exercício de qualquer função pública. Até hoje, no entanto, nunca foi aprovado um pedido de impeachment contra ministros do STF.
Os criminosos também inseriram no vídeo adulterado uma imagem para simular uma notícia do g1 sobre a devolução de valores. Mas tal notícia nunca foi publicada. O texto tem erros de ortografia e elementos visuais não utilizados pelo g1. Todos esses detalhes denotam uma montagem e ajudam a identificar a tentativa de golpe financeiro.
As publicações fazem crer que o usuário será encaminhado ao site do Procon, mas, na realidade, é utilizado um serviço para mascarar o endereço verdadeiro, que por sua vez não tem qualquer relação com o órgão de defesa do consumidor.
Esses elementos juntam-se aos anteriores e denotam mais uma vez que trata-se de um golpe.
Na tarde desta terça-feira (3), Aos Fatos verificou que as publicações não estavam mais direcionando os usuários a páginas que levassem ao pagamento de valores, o que impossibilitou descrever o mecanismo utilizado pelos criminosos.
O caminho da apuração
Por meio de busca reversa de imagens localizamos o vídeo original e constatamos que criminosos usaram IA para adulterar a gravação feita pelo senador Cleitinho. Verificamos também que a suposta notícia da decisão judicial contra bandeiras de cartões é falsa e nunca foi publicada pelo g1. Por fim, listamos os indícios de que trata-se de um golpe para enganar consumidores.