Um vídeo publicado no Facebook por um usuário brasileiro no dia 3 de janeiro, com uma convocação para atos golpistas em Brasília, passou por todas as instâncias de moderação da empresa, inclusive revisão humana — e não foi retirado do ar. Escolhido para ser analisado pelo Comitê de Supervisão do Facebook, o caso levou a Meta, controladora da plataforma, a admitir que houve erro.
Em busca na rede, no entanto, Aos Fatos encontrou disponível um vídeo que se enquadra na descrição presente no caso a ser analisado pelo comitê. Esse conteúdo estava disponível até a última quinta-feira (30), mas foi removido após contato feito pela reportagem.
- O vídeo mostra trecho de um discurso de um general da reserva, em que ele defende que a população vá protestar em frente ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal);
- “Vamos tomar de assalto!!! Vamos sitiar os três poderes”, dizia a legenda que acompanhava a gravação;
- A publicação foi denunciada sete vezes até o dia 5 de janeiro, de acordo com o Comitê de Supervisão, mas não foi removida pela moderação da plataforma, que não identificou violações;
- A Meta não apresentou os motivos que levaram os moderadores a permitir que o conteúdo continuasse circulando;
- O vídeo somou 18 mil visualizações;
- A informação foi divulgada pelo comitê no início de março, quando o julgamento do caso se tornou público;
- O vídeo original havia sido excluído no dia 20 de janeiro — não está claro se antes ou depois da intervenção do conselho.
Aos Fatos encontrou cinco posts no Facebook com um trecho de uma palestra do general da reserva Rocha Paiva que convocavam as pessoas a se manifestarem em frente ao Congresso Nacional. Em seguida, apareciam na gravação desenhos e imagens de manifestações em Brasília com palavras de ordem de teor golpista idênticas às descritas no caso analisado pelo Comitê de Supervisão.
Em resposta, a Meta — dona de Facebook, Instagram e WhatsApp — enviou posicionamento antigo sobre o caso e não quis comentar as exclusões.
Procurado, o Comitê de Supervisão do Facebook não confirmou que os vídeos identificados pela reportagem eram o mesmo do caso analisado por motivos de privacidade, embora tenha reconhecido a semelhança. O grupo também afirmou que ainda não tomou uma decisão final sobre o caso. Isso deve acontecer nas próximas semanas e pode incluir a recomendação para novas exclusões ou para mudanças nas políticas da plataforma, que podem ser aceitas integral ou parcialmente pela empresa.
Outras redes. Fora do Facebook, Aos Fatos encontrou o vídeo circulando em outras cinco redes sociais: Telegram, Twitter, YouTube, TikTok e Kwai.
- Foram identificadas, ao todo, 75 publicações com o vídeo, feitas entre os dias 3 e 9 de janeiro de 2023, que somavam 186 mil visualizações até a última quinta (30);
- A plataforma em que o conteúdo golpista teve maior alcance foi o Telegram, onde foi visto quase 70 mil vezes e compartilhado em 12 grupos ou canais diferentes;
- No TikTok, segunda plataforma em que houve maior viralização, o vídeo alcançou mais de 66 mil visualizações;
- Após o contato da reportagem, TikTok e Kwai removeram as publicações; o vídeo, no entanto, segue disponível no YouTube e no Telegram.
“As Diretrizes da Comunidade do TikTok deixam claro que não permitimos desinformação que possa prejudicar processos cívicos, como eleições, ou conteúdo que incite à violência. Quando esse tipo de conteúdo é encontrado, ele é removido”, informou o TikTok em nota ao Aos Fatos.
As outras plataformas não responderam ao contato até a publicação desta reportagem.