🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Vídeo e posts tentam vincular Jean Wyllys a Adélio usando informações falsas

Por Luiz Fernando Menezes

25 de janeiro de 2019, 16h45

São falsas as informações trazidas em vídeo pela candidata derrotada a deputada federal pelo PSL do Ceará, Regina Villela, para tentar vincular Jean Wyllys (PSOL-RJ) a Adélio Bispo, autor do atentado a faca sofrido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) no ano passado, tais como:

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Não é verdade que Wyllys renunciou ao cargo de deputado federal porque a nova legislatura não conta com imunidade parlamentar e ele teria que se explicar à Justiça. Não houve mudança no conjunto de garantias constitucionais para o exercício do mandato, apenas nas regras do foro privilegiado, que ficou restrito a crimes cometidos durante o exercício do mandato por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal);

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Adélio Bispo foi, de fato, filiado ao PSOL até 2014, mas não há evidências de que ele tenha visitado Jean Wyllys na única vez que esteve na Câmara dos Deputados, em 2013;

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Também não é verdade que houve tentativa de forjar um álibi para Adélio no dia do atentado ao darem entrada com o nome dele na Câmara. Na verdade, como explicou na ocasião o diretor da Polícia Legislativa da Casa, Paul Pierre Deeter, um recepcionista cometeu um erro ao consultar o histórico de visitação de Adélio no sistema quatro horas após o ataque;

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O inquérito da Polícia Federal sobre a facada concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho por discordâncias políticas com Bolsonaro. Há outra investigação em curso hoje que investiga a origem dos recursos que bancam a defesa do agressor.

O vídeo de Regina Villela, originalmente postado no YouTube, foi republicado por diversas páginas em redes sociais e sites, como República de Curitiba, 1News e Blog do Cleuber Carlos, e motivou uma série de posts com desinformações semelhantes.

No WhatsApp, onde vídeo também se espalhou, dezenas de leitores do Aos Fatos o enviaram como sugestão de checagem nesta sexta-feira (25) (saiba como participar). Já no Facebook, publicações que reproduzem as informações enganosas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação (entenda como funciona).

Nos mais diversos formatos, Aos Fatos identificou que as informações falsas já foram compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais desde que o vídeo de Regina Villela foi ao ar, na noite de quinta-feira (24).

Confira abaixo os detalhes do que checamos.


FALSO

Parece que os novos deputados que assumem no dia 1º de fevereiro perdem a imunidade parlamentar

Esse cara [Adélio Bispo] frequentava o gabinete do deputado federal Jean Wyllys lá em Brasília

O Rodrigo Maia escondeu a informação de quem fez a inscrição, quem fez a entrada

Candidata derrotada a deputada federal pelo PSL do Ceará nas últimas eleições, Regina Villela gravou um vídeo no YouTube nesta quinta-feira (24) citando supostas coincidências entre o ataque a faca ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) e a desistência de Jean Wyllys (PSOL-RJ) ao novo mandato para sugerir que o parlamentar seria o mentor da tentativa de assassinato. Várias informações divulgadas por ela, porém, são falsas.

A primeira aparece logo no início do vídeo, que tem 41 minutos. Segundo Villela, os deputados federais não teriam imunidade parlamentar a partir desta legislatura, o que não procede.

Na verdade, o STF decidiu restringir a regra do foro privilegiado em maio do ano passado, determinando que serão julgados no Supremo apenas os processos que tratem de crimes praticados durante o exercício do mandato e que tenham relação com a função parlamentar.

Ou seja, além de ser incorreto dizer que os novos deputados não possuem imunidade parlamentar — que é um conjunto de garantias constitucionais para o exercício do mandato, entre elas o foro privilegiado —, a autora do vídeo também esquece que, desde a decisão do STF, crimes que não tivessem relação com a função parlamentar já não seriam mais julgados no Supremo, como seria o caso do atentado a Bolsonaro.

A segunda informação falsa divulgada por Villela é a de que Adélio Bispo frequentava o gabinete de Jean Wyllys. De fato, Adélio foi filiado ao PSOL entre maio de 2007 e dezembro de 2014, como Aos Fatos mostrou em checagem no dia do atentado. No entanto, só há um registro de entrada dele na Câmara dos Deputados, no dia 6 de agosto de 2013. Não há mais informações além da que ele visitou o Anexo IV da Câmara naquele dia.

O fato de Jean Wyllys ter seu gabinete alocado naquele anexo na época também não é garantia de que ele foi visitado por Adélio, já que outros 432 deputados também mantinham gabinetes no mesmo prédio, inclusive outros dois parlamentares do PSOL — Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ). Além disso, não há evidências de que Adélio teria visitado qualquer gabinete parlamentar naquele dia.

No vídeo, Villaça diz ainda que “no dia que o Bolsonaro foi esfaqueado, registraram a presença do Adélio lá no Congresso Nacional”, insinuando que Jean Wyllys teria tentado forjar um álibi. Uma declaração parecida foi proferida por Bolsonaro em entrevista a José Luiz Datena em setembro do ano passado e foi checada como falsa por Aos Fatos.

Realmente foi registrado, no dia do atentado, duas entradas de Adélio Bispo na Câmara dos Deputados. Os registros, no entanto, teriam sido um erro do recepcionista, como foi explicado pelo diretor da Polícia Legislativa da Câmara, Paul Pierre Deeter. Segundo ele, ao consultar no sistema quando havia sido a entrada de Bispo na Câmara, o funcionário registrou, por engano, a presença dele novamente na Casa. Isso aconteceu cerca de quatro horas após o esfaqueamento, o que também enfraquece a hipótese de álibi forjado.

Também carece de comprovação o trecho do vídeo em que Vilela diz que o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria escondido “a informação de quem fez a inscrição, quem fez a entrada”. Não há qualquer informação nesse sentido nem ela apresenta qualquer prova verificável durante a filmagem.

Além disso, Jean Wyllys sequer foi chamado pela Polícia Federal para depor sobre o caso de Adélio Bispo e, portanto, não é suspeito de envolvimento no atentado. O inquérito da PF concluiu que Bispo agiu sozinho por discordância política com as propostas de Jair Bolsonaro. Há, hoje, um segundo inquérito em curso que apura quem financiou a defesa do autor do atentado a Bolsonaro.

Defesa. Sem qualquer relação com a investigação tocada pela PF, o deputado Jean Wyllys foi indicado por Zanone Manuel, advogado de Adélio, como testemunha de defesa, não como um participante do atentado, mas para que pudesse falar “sobre o discurso de ódio de Bolsonaro que, segundo o próprio Adélio, foi o que motivou seu ato”.

Além de Wyllys, Zanone indicou também o ex-presidente Lula, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) e a cantora Preta Gil, alvos contumazes de críticas do atual presidente e de seus apoiadores. Isso não os torna suspeitos no atentado, pois, segundo o Código Penal brasileiro, "toda pessoa poderá ser testemunha".

Nesta sexta-feira (25), o vice-presidente General Mourão (PRTB) também refutou uma suposta ligação entre Wyllys e Adélio: “em nenhum momento apareceu alguma coisa que ligasse um com outro”, disse, em entrevista à Folha de S.Paulo.

Regina Villela, a autora do vídeo, foi candidata à deputada federal pelo PSL do Ceará nas eleições de 2018, mas recebeu apenas 2.988 votos e não conseguiu ser eleita. Segundo pesquisa no Consulta Sócio, ela é dona da empresa RvNews Comunicação Ltda.

O seu vídeo tornou-se viral e resultou na publicação de diversos textos com as mesmas informações falsas. Enquanto alguns sites citaram a fonte, como o República de Curitiba, outros, como o Blog do Cleuber Carlos, publicou uma lista de “coincidências” que ligariam Wyllys à tentativa de assassinato. Uma listagem similar foi publicada pelo presidente Jair Bolsonaro em sua conta no Twitter, mas sem citar o nome de Jean Wyllys.

Essa não foi a primeira informação falsa referente a Wyllys divulgada após sua renúncia. Aos Fatos também checou nesta sexta-feira (25) um texto que dizia que o deputado estaria fugindo de uma investigação da PF envolvendo desvio de verbas de movimentos sociais.

Procurado por Aos Fatos nesta sexta-feira (25), o deputado Jean Wyllys respondeu, por meio de sua asssessoria, que não fará mais comentários a respeito da desistência do novo mandato para além da entrevista concedida à Folha de S.Paulo, onde estariam os reais motivos para o anúncio, e que “todo o resto é boato”.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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