Um vídeo que mostra um resultado positivo para Covid-19 após aplicação de um teste de antígeno em um kiwi não prova que os exames para detectar a doença sejam ineficazes ou facilmente manipuláveis, como sustentam postagens nas redes sociais (veja aqui). Se usados fora das condições para que foram formulados — neste caso, a mucosa do nariz humano —, os testes podem gerar falsos positivos.
As postagens enganosas contavam com centenas de compartilhamentos nesta segunda-feira (11) no Facebook e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona). O vídeo também foi enviado pelo WhatsApp por leitores do Aos Fatos como sugestão de checagem (inscreva-se aqui).
Cientistas italianos submeteram um kiwi ao teste para Corona. É. Deu positivo. Fé nos testes da "Siênssia". E você acreditando em segunda onda. Desse jeito qualquer pessoa testa positivo.
Não é verdade que um vídeo no qual profissionais de saúde italianos afirmam ter obtido resultado positivo para Covid-19 ao aplicarem um teste de antígeno a um kiwi prove que os exames que detectam a doença são ineficazes e manipuláveis, como se alega nas redes sociais. Se aplicado em condições diferentes para as quais foi formulado, o exame acusará diagnósticos aleatórios, inclusive falsos positivos. Isso não é capaz de medir sua eficácia.
De acordo com Gildo Girotto, químico e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), como o teste tem reagentes específicos, mudar as condições do pH, da temperatura ou mesmo ter contato com outras substâncias - açúcares, conservantes, etc - pode causar alterações nos componentes do exame e gerar diagnósticos falsos.
“Se quisermos fazer o teste em alimentos, teremos que construir um teste específico para as condições do alimento - pH, temperatura, composição - de modo que elas não interfiram no resultado”, afirmou .
O teste utilizado no vídeo é o de antígeno, que tem resultado mais rápido e menos preciso do que o RT-PCR. tido como padrão ouro em eficácia e recomendado para confirmar o diagnóstico da doença. Segundo o Ministério da Saúde, resultados negativos de testes rápidos não excluem a possibilidade de infecção nem os positivos podem ser usados como evidência absoluta de Covid-19.
Além disso, os testes em uso no país são avaliados e autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para obter o registro, as empresas precisam apresentar a AFE (Autorização de Funcionamento de Empresa), a CBPF (Certificação de Boas Práticas de Fabricação) e resultados de ensaios clínicos, fluxo de produção, estudo de estabilidade e outros dados que sustentem a segurança, eficácia e qualidade do produto.
Participantes do vídeo. O vídeo completo tem cerca de 36 minutos e foi compartilhado por sites italianos. Um dos participantes do experimento chama-se Mariano Amici, médico que já foi advertido por associações médicas da Itália por difundir informações falsas relacionadas à vacinação contra Covid-19. Amici também já difundiu outra desinformação sobre testes, conforme mostra uma checagem do site italiano Facta.
O homeopata Stefano Scoglio nega a existência da pandemia, questiona os dados, as vacinas e os testes. Ele faz parte de um grupo que assina um artigo publicado em preprint (sem revisão por pares) no qual é questionada a eficácia dos testes RT-PCR. O terceiro integrante do vídeo é Domenico D'Angelo, médico e técnico de laboratório.
O vídeo foi checado por diversos sites, entre eles os italianos Facta e Giornalettismo, o lituano Delfi e, no Brasil, pelo Estadão e Boatos.org.
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