Mídia Ninja

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Um ano depois, difusores de notícias falsas contra Marielle seguem impunes

Por Luiza Bodenmüller

14 de março de 2019, 09h00

Um ano após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, disseminadores de informações falsas sobre sua atuação política nas redes sociais seguem impunes. Os boatos, desmentidos à época por Aos Fatos, ganharam força dias após o crime e relativizavam as mortes ao acusá-la de manter ligações com o tráfico de drogas.

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) ainda não concluiu investigação sobre a conduta da desembargadora do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), Marília Castro Neves, que acusou a parlamentar de ter sido eleita com apoio do Comando Vermelho. Já o processo aberto no Conselho de Ética da Câmara contra o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) foi arquivado em maio do ano passado. Ele twittou que a vereadora havia sido casada com o traficante Marcinho VP. E, apesar de decisão favorável, ações judiciais contra Google e Facebook não foram suficientes para conter a proliferação de notícias falsas e caluniosas sobre Marielle nas duas plataformas.

Confira abaixo, em detalhes.


Marília Castro Neves

Dias após o crime, a desembargadora do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) Marília Castro Neves disseminou em seu perfil no Facebook informações falsas para vincular Marielle Franco à facção criminosa Comando Vermelho. O PSOL pediu na Justiça a retirada do post, que foi apagado posteriormente.

Hoje, Marília é alvo de representação junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a pedido do PSOL, por falta de conduta ética, e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, por prática de crimes de ódio. Procurado, o CNJ informou que o processo segue em segredo de justiça, se encontra na fase de informação e não há prazo para sua conclusão.

Se o colegiado do CNJ entender que houve prática indevida, será instaurado um Processo Administrativo Disciplinar para avaliar a conduta e uma possível reprimenda. Segundo o CNJ, a punição pode variar entre uma advertência até a aposentadoria compulsória.

Nas redes sociais da desembargadora ainda é possível encontrar publicações com ataques à esquerda e em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), além de compartilhamento de notícias falsas. Marília também já usou seus perfis para criticar o CNJ, o qual chamou de “órgão espúrio, cabideiro de empregos, trampolim para os tribunais superiores criado pelo PT”.

Há uma quebra na linha do tempo do Facebook da magistrada e postagens entre 2015 e setembro de 2018 não estão mais visíveis, o que quer dizer que eles foram apagados ou tiveram a privacidade alterada e, portanto, não estão mais públicos.

Alberto Fraga

O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) foi um dos primeiros a espalhar nas redes sociais informações falsas que tentavam ligar Marielle a traficantes, por meio de um tweet em 16 de março de 2018. A publicação, que continha uma série de informações falsas sobre a biografia da parlamentar, foi apagado posteriormente. Segundo Fraga, o post “gerou muita polêmica” e que era melhor “deixar a Polícia trabalhar e com certeza essas acusações, de ambos os lados, serão sanadas”.

A pedido do PSOL, um processo foi aberto no Conselho de Ética da Câmara para investigar a conduta do deputado, mas acabou arquivado em maio de 2018. O relator do processo, deputado Adilton Sachetti (PRB-MT), entendeu que a postagem foi equivocada, mas não teria extrapolado as prerrogativas do mandato.

Fraga continua espalhando informações falsas em seu perfil do Twitter. A mais recente envolve o caso da jornalista Constança Rezende, do Estado de S.Paulo, que foi alvo de ataques após ter uma declaração sua distorcida pelos sites Terça Livre e República de Curitiba.

O deputado é coronel reformado da Polícia Militar do Distrito Federal e preside hoje a Frente Parlamentar da Segurança Pública.

Pastor Marcos Carvalho

O subtenente da Polícia Militar em Arraial do Cabo, Marcos Carvalho, que também é pastor evangélico, notabilizou-se ao publicar a foto de uma mulher sentada no colo de um homem e dizer, de maneira falsa, tratar-se de Marielle Franco e do traficante Marcinho VP.

Com a repercussão negativa, o pastor apagou o post e gravou um vídeo pedindo desculpas por disseminar a desinformação: “se a foto é falsa, não sei, eu apaguei, exclui, antes de 24h, não ficou nem 24h no meu Face”.

A foto tem origem numa publicação do Fotolog em 13 de agosto de 2005, como checou Aos Fatos.

Google e Facebook

As duas empresas de tecnologia enfrentam hoje na Justiça ações movidas por Anielle Silva e Mônica Benício, respectivamente irmã e companheira da vereadora Marielle Franco. A primeira sentença já foi proferida em favor das familiares, mas Google e Facebook recorreram.

A ação contra o Google tramita desde 21 de março do ano passado, uma semana após o assassinato, e pede a retirada de vídeos no YouTube que exibissem calúnias ou ofensas à imagem da vereadora. Na peça inicial da ação, consta uma lista com 40 vídeos que, à época, haviam alcançado mais de 13 milhões de visualizações. Dos conteúdos listados, seis permanecem no ar até hoje, somando mais de 3 milhões de visualizações. Nos autos, o Google argumentou que os vídeos mantidos não feriam as práticas de uso da plataforma.

No dia 27 de março de 2018, Mônica e Anielle também entraram com uma ação contra o Facebook, pedindo a retirada do ar de conteúdos falsos e caluniosos e a identificação dos responsáveis pelo compartilhamento.

De acordo com as advogados, a próxima etapa nas duas ações é o mapeamento e a responsabilização individual de pessoas responsáveis por perfis e páginas que compartilharam notícias e informações falsas ou caluniosas. Além de responderem por dano moral, há também a possibilidade de uma ação criminal, dependendo do teor do conteúdo.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.