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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2017. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Tudo o que você precisa saber para sobreviver às discussões familiares no fim do ano

Por Tai Nalon

19 de dezembro de 2017, 01h15

É Natal — época de fartura e constrangimento à mesa. Pelo terceiro ano seguido, Aos Fatos seleciona suas mais polêmicas checagens para que você, leitor preocupado com a veracidade dos argumentos daquele seu tio-avô distante, possa enfrentar o suplício das discussões familiares com dados confiáveis. Trata-se da terceira edição do Guia Aos Fatos de Sobrevivência às Discussões Familiares 2017!

Veja, abaixo, breves respostas para perguntas que não querem calar. Clique nas perguntas para saber mais.


Quem matou mais: Hitler ou Stálin?

É difícil chegar a uma conclusão precisa a respeito da quantidade de mortos decorrentes de ambos os regimes devido à dificuldade de delimitar um período de tempo específico, além de ter informação precisa a respeito de mortes por motivações indiretas.

Em relação ao regime nazista, se levarmos em conta os militares e os civis alemães e estrangeiros mortos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os números podem chegar a aproximadamente 45 milhões. Essa é a estimativa usada pelo Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos.

No entanto, historiadores de várias nacionalidades e idades apontam para divergências que vão de 40 milhões a 70 milhões de mortes, incluindo militares, civis e atrocidades decorrentes da guerra, como fome e devastação. É consenso que se trata do maior conflito armado da história em termos de quantidade de mortos e que Adolf Hitler desencadeou o evento.

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Karl Marx defendia o 'dividir para conquistar'?

O ditado é bastante anterior a Karl Marx: originário do latim divide et impera, era parte da filosofia militar romana difundida pelo imperador Júlio César na sua obra De Bello Gallico, sobre as guerras na região da Gália. O auge do império romano data de 27 a.C. até meados dos anos 300 d.C.. A ideia era dividir o povo dominado para governar melhor.

Segundo o especialista em regimes totalitários Fábio Gentile, trata-se de uma estratégia antiga, que é retomada pelo pensamento político moderno. Um dos teóricos fundamentais para entender essa filosofia é Maquiavel, que em seu A Arte da Guerra usa a expressão como estratégia política e militar. Em outra de suas obras, O Príncipe, por exemplo, ele sugere que a melhor maneira de obter força é semeando a intriga entre os que governam, com o objetivo de dividi-los.

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Foi Lênin quem disse 'acuse-os do que você faz e xingue-os do que você é'?

Não há qualquer frase ou pensamento desta natureza atribuída a Lênin na historiografia de referência. Na verdade, o livro They never said it: a Book of Fake Quotes, Misquotes, and Misleading Attributions (na tradução livre “Eles nunca disseram isso: um livro de citações falsas, incorretas e enganosas”), dos pesquisadores norte-americanos Paul F. Boller Jr. e John George Jr. se dedica a mostrar que essa referência é equivocada.

Na página 70, eles lembram da seguinte frase, em tradução livre, falsamente atribuída a Lênin num livro do evangelizador norte-americano Billy James Hargis da década de 1960: "Destruir os opositores pela calúnia, difamação e chantagem é uma das técnicas do comunismo". Segundo os pesquisadores, o próprio assistente de Hargis, Julian Williams, afirma que a citação parece ter sido inventada para se adequar ao propósito de criticar o comunismo. "Lênin não dizia essas coisas de maneira tão direta", afirmou ao livro. A publicação de Boller Jr. e George Jr. foi encontrada por Aos Fatos graças à pesquisa do site de Otávio Pinto.

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A sentença de Moro contra Lula não tem provas?

O PT erra ao afirmar que a sentença proferida por Moro só se baseia em depoimentos de delações premiadas. Na decisão publicada na última quarta-feira, o juiz usa, por exemplo, documentos encontrados por meio de ação de busca e apreensão na casa de Lula para subsidiar seus argumentos.

No trecho abaixo, o juiz relata a apreensão de termos de adesão e compromisso de participação de abril de 2005 assinado pela mulher de Lula, Marisa Letícia, morta no início do ano.

Outros documentos também admitidos por Moro como prova se referem às declarações de imposto de renda do ex-presidente. Marisa Letícia era sua dependente e, segundo a sentença, foram pagas 50 prestações de um total de 70 para a aquisição de um apartamento original, número 141-A, no edifício do tríplex. Mas seriam termos de adesão em participação em outro apartamento, conforme narra a sentença, o levaria à condenação.

Ainda conforme a decisão, outros documentos em nome de Marisa Letícia também foram admitidos como prova na sentença de Moro. Termos de declaração, compromisso e requerimento de demissão do quadro de sócios da seccional Mar Cantábrico da Bancoop (cooperativa dos bancários de São Paulo, intermediária original do prédio onde fica o tríplex), por exemplo, constam do rol de apreensões que o juiz admitiu como elementos que incriminam Lula.

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Bolsonaro é corrupto?

O nome de Jair Bolsonaro aparece em uma lista de propinas pagas pela JBS a 28 partidos durante as eleições de 2014. O documento foi apresentado pelo executivo Ricardo Saud ao firmar um acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo o delator, o valor pago ao deputado corresponde a R$ 200 mil. Na época, Bolsonaro-pai era filiado ao PP. A doação também consta do site do Tribunal Superior Eleitoral, declarada oficialmente. Até o momento, Jair Bolsonaro não é alvo de inquérito específico.

Em abril deste ano, Bolsonaro-pai foi condenado a pagar R$ 50 mil por danos morais por declarações consideradas preconceituosas sobre os quilombolas. A ação, movida pelo Ministério Público Federal, foi julgada na 26ª Vara Federal do Rio de Janeiro pela juíza Frana Elizabeth Mendes. Bolsonaro afirmou que vai recorrer da decisão.

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O preço dos combustíveis disparou sob Dilma ou Temer?

Segundo os números da ANP, é possível afirmar o seguinte que, sim, os preços dos combustíveis nunca estiveram tão altos, mas não, eles não começaram a aumentar só “depois das panelas” — a carestia é constante e tem altos e baixos, com viés de alta.

Ao calcular as médias dos preços por governo, é possível verificar que os combustíveis nunca estiveram tão caros quanto agora. No entanto, o maior aumento na média ocorreu entre o governo Dilma 1 e o governo Dilma 2. Só a gasolina comum, por exemplo, teve alta de 21% na média entre os dois mandatos. O diesel, de 28%.

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80% das denúncias de estupro são falsas?

Argumento frequente em páginas conservadoras, a afirmação de que 80% das denúncias de estupro são falsas tem origem em uma reportagem do jornal Extra de maio de 2012. A matéria atribui à psicóloga do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Glícia Barbosa de Mattos Brazil a informação de que, nas 13 varas de família do município do Rio de Janeiro, 80% das denúncias são falsas.

Algumas páginas também citam reportagem de fevereiro de 2013 do site JCNet, de Bauru (SP), que afirma que, das 100 ocorrências de estupros registradas por ano na cidade, cerca de dez envolvem crimes com autoria desconhecida. Desses dez, cinco são revelados falsos após o início das investigações. Os dados são da Delegacia da Defesa da Mulher do município.

Não é possível extrapolar qualquer uma dessas informações, de caráter local, para o plano nacional. Tampouco é seguro usar o número como subsídio para estatísticas gerais de registros de estupro, já que o primeiro se refere a violência sexual infantil e o segundo, a casos em que o acusado é desconhecido.

Não existem dados oficiais no país que deem conta de subsidiar a afirmação — seja para confirmá-la ou para derrubá-la. As estatísticas brasileiras mal dão conta de agregar registros de abuso sexual, já que a subnotificação é grande.

No entanto, para fins de colocar as estatísticas do Rio de Janeiro em perspectiva, levantamento do Ministério Público do Estado revelou no ano passado que 6% dos casos de estupro registrados em 2015 foram a julgamento. Isso significa que, enquanto houve 4.887 casos de estupro oficialmente registrados em todo o Estado só em 2015, só 291 investigações foram concluídas. As demais sequer conseguiram localizar o acusado.

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O projeto que quer proibir todo tipo de aborto usa dados científicos qualificados?

Em abril deste ano, uma pesquisa foi publicada na revista Nature demonstrando resultados positivos da “Biobag”, um útero artificial que foi testado em oito fetos de ovelha nascidos prematuramente. Depois de quatro semanas na Biobag, os fetos foram retirados e não foi encontrado nenhum problema, mesmo nos órgãos mais vulneráveis dos prematuros. O autor principal do estudo, Alan Flake, acredita que, no futuro, o útero artificial possa ajudar em casos de nascimento prematuros de bebês humanos, mas descarta a possibilidade de uma gestação completa: “é ficção científica acreditar que você pode pegar um embrião, passar pelos processos iniciais de desenvolvimento e colocá-lo na nossa máquina sem a figura da mãe ser um elemento crítico aí”.

Mas existem pesquisadores que acreditam que a ectogênese — termo usado para se referir à produção de bebês fora do corpo da mãe — possa ser alcançada. Em maio de 2016, um grupo de cientistas americanos conseguiu fazer com que um embrião sobrevivesse 13 dias fora do corpo e só interrompeu a pesquisa porque há uma regra limite de que os embriões só podem permanecer no laboratório por 14 dias. Ou seja, hoje já é a ética que impede os avanços nessa área, e não mais a tecnologia.

Mesmo assim, são poucos os estudos preocupados com a gestação artificial. Hoje, as pesquisas estão muito mais focadas em diminuir a mortalidade de fetos prematuros e em garantir que a formação do bebê seja completa, mesmo fora do útero.

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Legalizar a maconha gerou aumento na criminalidade em outros países?

É difícil achar consenso quando o tema é o aumento ou diminuição da criminalidade depois da descriminalização ou legalização da maconha. Os estudos sobre o assunto não são conclusivos.

Nos Estados Unidos, segundo dados do FBI, 643 mil pessoas foram presas por maconha em 2015 — uma pessoa a cada 49 segundos. Dessas prisões, 574 mil eram por posse, em vez de distribuição e venda. Mas as prisões diminuíram constantemente desde 2007, quando 872,7 mil pessoas foram presas. 2015 foi, na verdade, o ano com menor número de prisões relacionadas a maconha desde 1996.

Um estudo da fundação norte-americana Drug Policy, ONG que promove debate público sobre o uso de drogas e temas relacionados, diz o mesmo: que as prisões por posse, cultivo e distribuição de maconha caíram desde que os eleitores legalizaram o uso adulto de maconha nos Estados Unidos. No Colorado, o número total de prisões por posse de maconha diminuiu 46% entre 2012 e 2014. Em Washington, a queda foi de 85% entre 2014 e 2015, com as prisões por posse caindo 98%. No Alasca, a redução foi pela metade entre 2013 e 2015, assim como em Oregon de 2011 a 2014.

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Maconha vicia?

O professor Wayne Hall, da King's College, no Reino Unido, mostrou em 2014 que "aproximadamente 9% das pessoas que já usaram maconha se tornaram dependentes, contra 32% para nicotina, 23% para heroína e 15% para o álcool".

A UNODC, departamento de monitoramento de drogas da ONU, defende o que se convencionou chamar de Regra 80/20 — baseada no Princípio de Pareto — , segundo a qual 80% dos usuários de drogas no mundo consomem 20% das drogas disponíveis no mercado, enquanto 20% dos usuários consomem 80% dos psicoativos mundialmente. Isso significa que grande parte dos usuários de drogas são pequenos consumidores, indicando níveis baixos de demanda e, por consequência, pouco descontrole.

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Países que liberaram drogas voltaram atrás?

Estudo recente da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) afirma que, dentre os 10 países da América do Sul, seis da América Central, dois da América do Norte e 29 europeus pesquisados, algumas legislações não incriminam o uso , mas a posse de drogas. "Em última instância, trata-se de uma distinção quase teórica, pois, na prática, não há como usar uma droga sem possuí-la", diz o órgão.

O levantamento oficial concluiu que quase 41% dos países pesquisados descriminalizaram a posse para uso pessoal de todas as drogas. Na América do Sul, há tendência, seja por lei, seja por decisão de cortes supremas, pela descriminalização. Nenhum deles voltou atrás. Essas mudanças também são recomendadas pela ONU.

Outro estudo que reuniu dados de vários países que implementaram leis liberalizantes sobre o uso e o porte de drogas revelou que, no Reino Unido, na Itália, na Espanha e nos Estados Unidos, por exemplo, não foi verificado aumento significativo do consumo de drogas — tampouco generalizado. A pesquisa também mostrou que, embora tenham verificado aumento nas notificações por porte de drogas, não houve aumento dos índices de violência.

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A terceirização precariza o trabalho?

Em relação à questão salarial, existem diferenças de impacto demonstradas em dois estudos independentes analisados por Aos Fatos. Um deles tem problemas metodológicos que distorcem o resultado.

Estudo de agosto de 2015 publicado pela Escola de Economia da FGV-SP revela que, embora de fato haja perda salarial para trabalhadores terceirizados em relação àqueles com registro formal, isso acontece de maneira diferente a depender da qualificação do empregado.

Conforme os pesquisadores, terceirizados ganham em média 17% menos do que trabalhadores contratados pela empresa. Se for excluído o impacto do nível de escolaridade dos trabalhadores, idade, tempo de serviço entre outras características observáveis, essa diferença cai para 3%.

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Homens trabalham mais que mulheres?

Segundo o estudo Síntese de Indicadores Sociais do IBGE de 2015, em 2004, somando-se a ocupação remunerada e os afazeres domésticos, as mulheres trabalhavam quatro horas a mais do que os homens por semana. Em 2014, a dupla jornada semanal feminina já possuía cinco horas a mais.

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Além de Dilma, Lula e FHC 'pedalaram' também?

As chamadas “pedaladas” fiscais — atrasos em repasses de recursos para bancos públicos pelo governo federal — durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) tiveram um saldo 35 vezes maior do que as praticadas nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) juntos.

Foram quase R$ 33 bilhões de reais em operações durante a administração da petista — quando somados seguro desemprego, abono salarial e Bolsa Família — contra pouco mais de R$ 933 milhões de ambos os governos anteriores somados.

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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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