Convergência entre Trump e ‘big techs’ marca eleições nos EUA

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Dias após a invasão ao Congresso dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, as principais redes sociais suspenderam perfis de Donald Trump, que havia acabado de deixar a Casa Branca e era acusado de ter incitado a violência. Esse foi o ponto mais baixo das relações entre o ex-presidente e o Vale do Silício.

Três anos e meio depois, com a possibilidade de Trump retornar ao cargo — as principais pesquisas de intenção indicam empate técnico entre ele e a vice-presidente Kamala Harris —, movimentações de donos e executivos das big techs indicam que eventuais desavenças ficaram para trás.

As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm sido marcadas pela convergência de interesses entre o candidato republicano e as principais empresas de tecnologia do país — que, em pleitos anteriores, mostraram-se mais simpáticas às candidaturas do Partido Democrata.

Analistas têm atribuído o movimento ao medo de vingança contra as empresas em caso de vitória de Trump. Outro fator seria a insatisfação do setor com o combate antitruste promovido pelo governo Joe Biden, que abriu processos contra Google, Amazon e Apple.

Elon Musk representa o caso mais notório de apoio a Trump. No último dia 27, ele discursou em prol da candidatura do republicano em comício no Madison Square Garden, em Nova York.

O dono do X também tem se empenhado em ataques a Kamala Harris e chegou a compartilhar a mentira de que a candidata democrata planejava censurar a plataforma dele caso eleita, como o Aos Fatos mostrou.

Além de Musk, outros figurões do setor também fizeram acenos ao ex-presidente nas últimas semanas, ainda que de forma mais discreta.

Em outubro, Trump revelou em um podcast que teria recebido uma ligação de Tim Cook, CEO da Apple, que queria se queixar sobre os problemas jurídicos que enfrenta na União Europeia — onde também o Google está na mira das autoridades.

Ao comentar o contato de Cook, Trump sugeriu que poderá interferir no caso, se for eleito. “Todas essas empresas serão libertadas, se você tiver o presidente certo”, disse Trump, segundo a CNN.

Na mesma semana, o candidato do Partido Republicano disse ter sido contactado pelo diretor-executivo do Google, Sundar Pichai, que o queria parabenizar pela ação de campanha realizada no McDonald’s.

O gesto ocorreu dias após Trump ameaçar o Google de processo, acusando a plataforma — sem provas — de “só mostrar notícias ruins” sobre ele, ao mesmo tempo em que estaria beneficiando sua concorrente, a democrata Kamala Harris.

Pouco tempo depois, porém, o candidato republicano mudou o discurso. “Se você olhar para o Google recentemente, acho que verá que eles se tornaram muito mais inclinados a Trump”, declarou o ex-presidente em entrevista. “Eles estão começando a gostar de Trump, porque estão começando a entender.”

Nos últimos anos, a gigante da tecnologia registrou uma série de atritos com o governo Biden, à frente de uma cruzada contra o monopólio das buscas online que pode resultar na cisão da empresa.

Outra sinalização pró-Trump partiu do fundador da Amazon, Jeff Bezos — empresário que, em 2019, acusou Trump de interferir injustamente em uma licitação para favorecer a Microsoft.

Bezos deixou o comando da Amazon em 2021, mas segue como acionista e presidente-executivo do conselho da empresa. Seus acenos ocorreram por meio de seus outros negócios — embora, de acordo com a CNN, o atual CEO da Amazon, Andy Jassy, também teria contactado a campanha de Trump.

Trump também se reuniu com executivos da Blue Origin, empresa de exploração espacial de Bezos, como revelou a Associated Press. Além disso, o magnata anunciou que neste ano o jornal The Washington Post, que comanda, não iria declarar apoio a nenhum candidato, acabando com a tradição de alinhamento com os democratas.

Embora oficialmente mantenha neutralidade, o dono da Meta, Mark Zuckerberg, beneficiou a campanha do republicano ao enviar ao Congresso uma carta na qual acusa a administração Biden de tentar censurar o Facebook durante a pandemia de Covid-19.

Em julho, quando Trump foi alvo de um atentado, Zuckerberg deu declarações elogiando a resiliência do ex-presidente. “Como americano, é difícil não se emocionar com esse espírito e essa luta, e acho que é por isso que muitas pessoas gostam dele”, disse à Bloomberg.

Apesar dos acenos dos bilionários do Vale do Silício para Trump, a campanha de Kamala liderava com folga as doações provenientes de funcionários de empresas de tecnologia, segundo levantamento da organização de vigilância política OpenSecrets.

A candidata democrata também conta com o apoio de altos executivos do LinkedIn e da OpenAI.

Combate à ‘censura’

Antes da atual aproximação, as tensões entre Trump e as big techs tinham entre seus eixos centrais as restrições a publicações que violavam políticas das plataformas.

O conflito atingiu seu ápice na suspensão das redes do próprio ex-presidente, após a tentativa de golpe que sucedeu as eleições de 2020, e embasou a retórica republicana de que a liberdade de expressão estaria sob ameaça nos Estados Unidos.

Como o Aos Fatos mostrou, esse argumento vem sendo alimentado na atual campanha por peças que exploram a suspensão do X no Brasil para atribuir falsamente aos democratas intenções de censurar as plataformas também nos Estados Unidos.

O caminho da apuração

Aos Fatos consultou publicações recentes da imprensa internacional para levantar o posicionamento dos empresários de tecnologia americanos na atual campanha à presidência.

A reportagem buscou contextualizar essas posturas levantando os conflitos antigos de Trump com as empresas do setor e os atuais atritos entre a administração Biden e o Vale do Silício.

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