Transfobia como estratégia política é pautada por desinformação e ódio

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O ódio e a desinformação muitas vezes andam lado a lado na política, especialmente quando a discussão envolve o direito de minorias. Nos últimos meses, essa combinação fez crescer de forma alarmante a transfobia, ou seja, casos de intolerância a transsexuais.

O #AosFatosNOAR desta semana explica como a transfobia vem sendo explorada por parlamentares, mesmo sendo crime de injúria racial, inafiançável e passível de pena, desde 2019.


Uma pessoa trans é aquela que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento, podendo ou não desejar terapias hormonais ou cirurgias de afirmação de gênero com o qual se identifica.

Nos últimos anos, o engajamento político da população trans em busca de direitos cresce de maneira diretamente proporcional à desinformação e aos discursos de ódio propagados por setores à direita sobre a transsexualidade. De janeiro a março deste ano, Aos Fatos detectou postagens desinformativas que ultrapassavam 4 milhões de interações nas redes.

Dentre elas, estava o post falso de uma foto que foi manipulada para forjar que um participante de uma parada LGBTQIA+ estaria com uma camiseta com os dizeres ‘crianças trans são sexy’. Na verdade, ele usava uma roupa completamente branca.

Mas essas mentiras não ficam restritas às redes sociais: em março, Aos Fatos noticiou um salto em postagens que tinham como alvo a comunidade trans, quando o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) fez um discurso transfóbico na tribuna da Câmara no Dia Internacional da Mulher.

A Câmara também foi palco de discursos transfóbicos em junho, quando parlamentares e convidados disseminaram mentiras para atacar a comunidade LGBTQIA+, em uma audiência pública sobre terapias para crianças e adolescentes trans.

Entre as afirmações falsas checadas dessa audiência, está a de que crianças e adolescentes podem passar por cirurgias de afirmação de gênero no Brasil. O Ministério da Saúde, no entanto, determina que a operação só pode ocorrer a partir dos 18 anos. O procedimento é parte de um processo que envolve uma série de etapas e conta com acompanhamento de uma equipe de saúde multidisciplinar.

Outra declaração enganosa foi a de que a taxa de mortalidade de pessoas trans é três vezes maior do que a de pessoas cis por conta dos números de suicídio e câncer. Na realidade, estudos apontam inúmeras causas para a alta mortalidade da população trans – muitas delas ligadas justamente ao estigma e ao preconceito.

E não foi só nessa audiência que a comunidade trans sofreu e sofre ataques. Em maio deste ano foi aberta uma CPI na Alesp para investigar o acompanhamento oferecido pelo Hospital das Clínicas da USP a crianças e adolescentes trans. A proposta partiu da base do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e foi encarada como um grande retrocesso pela oposição e por defensores da iniciativa do hospital.

Estratégia importada. A ofensiva política contra a comunidade trans não surgiu no Brasil. Nos Estados Unidos, existe, hoje, uma forte mobilização de políticos conservadores que visam a aprovação de leis que retiram direitos de pessoas trans.

Daí que não é por acaso que a maioria da desinformação sobre o assunto que circula entre os brasileiros venha dos Estados Unidos. Os convidados para a audiência da Câmara, inclusive, basearam suas mentiras quase que exclusivamente em dados estrangeiros.

Essa fixação em atacar uma minoria e apresentá-la como uma ameaça tem nome: pânico moral. Um fenômeno descrito nos anos 1970, mas que segue superatual. Explicamos melhor esse tema no episódio três da série Ora da Verdade. Confira:

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