Publicações nas redes tiram de contexto o trecho de um filme da Netflix para dar a entender que se tratam de imagens recentes de tortura contra opositores do ditador Nicolás Maduro, na Venezuela. Lançado no ano passado, o filme é sobre a repressão do regime de Maduro a protestos em 2017 — e, portanto, não tem relação com a eleição do último domingo (28).
Publicações com o conteúdo enganoso circulam em vários idiomas no X (ex-Twitter) e acumulavam mais de 16 mil compartilhamentos na plataforma até a tarde desta sexta-feira (2).
[Comentário sobre imagens de ficção:] Estamos vendo o horror da ditadura venezuelana
Um trecho de um filme dirigido pelo venezuelano Diego Vicentini tem circulado nas redes como se mostrasse imagens atuais da tortura de opositores ao regime de Nicolás Maduro, que teriam sido presos após o Conselho Nacional Eleitoral declarar o ditador vitorioso na eleição presidencial do último domingo (28). Mas essas publicações são enganosas.
As postagens tiraram de contexto um trecho do filme Simón, lançado em setembro de 2023 e disponível na Netflix. A obra de ficção foi baseada em relatos reais de pessoas que foram presas e torturadas durante os protestos de 2017 na Venezuela (veja abaixo).
Ainda que o longa-metragem retrate um cenário verdadeiro de repressão promovida pelo regime de Maduro em 2017, as publicações enganam ao afirmar que a gravação registre agressões sofridas por opositores presos recentemente.
Eleição na Venezuela. Estados Unidos, Argentina e Uruguai reconheceram o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, como presidente eleito da Venezuela, após o Conselho Nacional Eleitoral descumprir o prazo estipulado para divulgação do total de votos e das atas eleitorais.
Brasil, México e Colômbia, em nota conjunta publicada ontem (1), pediram a divulgação dos votos e uma “verificação imparcial dos resultados”.
O conselho declarou o ditador Nicolás Maduro como vencedor do pleito eleitoral que aconteceu no domingo (28). A oposição alegou fraude e não reconheceu o resultado, o que desencadeou uma série de manifestações contra a decisão do conselho.
O caminho da checagem
O Aos Fatos fez uma busca reversa e identificou que o vídeo usado nas publicações falsas se tratava de um trecho do filme Simón, disponível na Netflix.
A reportagem analisou no longa-metragem o momento do qual o trecho foi retirado, e identificou que consta na minutagem 1h09min15s do filme.
Aos Fatos buscou ainda notícias sobre os protestos e a eleição na Venezuela para contextualizar a verificação.