🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Links de TikTok e Kwai levaram desinformação sobre fraude a WhatsApp e Telegram

Por Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki, João Barbosa e Milena Mangabeira

7 de outubro de 2022, 18h35

A maioria dos links de TikTok e Kwai compartilhados em grupos de Telegram e WhatsApp monitorados pelo Radar Aos Fatos no fim de semana do primeiro turno contém ataques ou desinformação. O levantamento mostra como conteúdos desinformativos trafegam entre redes e podem ter grande alcance mesmo sem serem distribuídos pelos algoritmos.

  • Dos 500 conteúdos analisados, quase todos são sobre a eleição ou sobre candidatos;
  • 294 vídeos têm desinformação ou ataques;
  • Ao menos 145 vídeos levantam dúvidas infundadas sobre a lisura do processo eleitoral — quase um terço de todos os links compartilhados.

Alguns posts traziam relatos já desmentidos, como um vídeo gravado por eleitores em Sapiranga (RS) que alegavam que ao votar em um candidato aparecia a foto de outro. O juiz eleitoral Felipe Lumertz explicou ao Aos Fatos que as pessoas que aparecem na gravação estavam tentando votar em um político que não estava concorrendo e fizeram uma confusão. O conteúdo foi publicado nas duas plataformas e circulou em grupos de Telegram e WhatsApp no final de semana das eleições.

Outros vídeos apresentavam relatos sem provas de que eleitores não teriam conseguido votar pois ao chegar na sessão seus nomes constavam como se já houvessem votado. Muitos deles não traziam informações sobre localização, impossibilitando a checagem. O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais esclareceu em nota que os casos registrados no estado foram isolados e que “não houve fraude, mas falha na identificação do eleitor”.

Nos links compartilhados, quaisquer tumultos nas sessões eleitorais, como filas longas ou necessidade de troca de urna, serviam como evidências de fraude. Uma postagem do Kwai que circulou no Telegram e Whatsapp mostrava mesários imprimindo a zerésima das urnas como se fosse algo suspeito, mas se trata de procedimento padrão de segurança. “Urnas sendo abertas agora. Já saiu tanto papel assim? Que história é essa? Eu não entendo muito bem, mas tá estranho”, dizia o vídeo.

A ausência de comemorações em estados do Nordeste durante a apuração dos votos também foi usada para alimentar a narrativa de fraude. “Se o povo baiano realmente tivesse eleito Lula isso aqui tava cheio de fogos. O povo está triste porque os votos não foram para quem eles queriam”, dizia o narrador em vídeo viral no TikTok.

Também foram comuns — presentes em 16 dos links compartilhados — vídeos que levantavam suspeição sobre o processo eleitoral devido ao alto número de candidatos ao legislativo apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) terem sido eleitos, enquanto o presidente ficou em segundo lugar. A diferença nos resultados pode ser explicada pelo número de votos exigido para eleição no legislativo ser menor do que para governador ou presidente. Além disso, é possível que eleitores tenham votado em aliados de Bolsonaro para o legislativo, mas tenham escolhido outro candidato para a presidência.

Outro lado. O Kwai foi o sétimo domínio mais compartilhado no Telegram e oitavo no WhatsApp, nos grupos monitorados durante o final de semana de eleições. Já o Tiktok ficou com a 10ª posição no mensageiro da Meta, mas seus links foram pouco compartilhados no Telegram, em apenas 15 ocorrências.
Além dos links, conteúdos dessas plataformas de vídeos curtos circularam também em forma de mídia, sem estarem linkados aos sites originais.

Nem o TikTok e nem o Kwai possuem uma API para coleta de conteúdos aberta para pesquisadores e jornalistas, o que dificulta o monitoramento de conteúdos virais dentro da plataforma.

Questionado, o Kwai informou que possui uma política específica para eleições e que os mecanismos de segurança do app atuam 24 horas por dia, “combinando inteligência artificial e análise humana para identificar e remover o mais rápido possível conteúdos que violem ou infrinjam as políticas da comunidade”.

Porém, a empresa afirmou que essas políticas valem para conteúdos que ocorram estritamente dentro da plataforma, sem informar se dão atenção especial a conteúdos que viralizam em aplicativos de mensagem. “O app é destinado a usuários que queiram criar e compartilhar seus conteúdos e esses são responsabilidade exclusiva de quem os disponibiliza.”

Já o TikTok não informou se mantém controle sobre conteúdos que viralizam fora da rede, repetindo o posicionamento da empresa contra conteúdos desinformativos. “As pessoas encontram no TikTok um ambiente seguro e acolhedor. Sempre que sentirem que algum vídeo tem conteúdo impróprio, os usuários podem denunciar o conteúdo dentro da própria plataforma. Além disso, nós temos uma combinação de tecnologia (de Inteligência Artificial) e profissionais para detectar, de maneira proativa, vídeos que possam violar as nossas Diretrizes de Comunidade”, disse a empresa em nota.

Ambas as plataformas firmaram compromissos com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no início do ano para combater a desinformação sobre o processo eleitoral e desenvolveram campanhas conjuntas.

METODOLOGIA

O Radar Aos Fatos coletou todas as urls que circularam em mensagens de texto em 287 grupos públicos de WhatsApp e 1.299 comunidades no Telegram monitoradas durante os dias 1 e 2 de outubro. Depois, separou os links que pertenciam aos domínios das plataformas TikTok e Kwai e analisou os conteúdos com base na presença de desinformação e temática.

Referências:

1. Aos Fatos

2. TRE-MG

3. Kwai

4. TSE

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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