Marcos Correa/PR

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2017. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Temer omite rejeição popular ao criticar campanha contra reforma da Previdência

Por Tai Nalon

5 de maio de 2017, 20h40

Em entrevista à RedeTV!, o presidente Michel Temer afirmou nesta quinta-feira (4) que quem faz campanha contra a reforma da Previdência ganha "20, 15, 16 [mil reais]" e tem pouco tempo até a aposentadoria. Ele disse ainda que quem está fazendo a campanha contra não são os mais vulneráveis, mas os poderosos.

Aos Fatos recorreu a pesquisas de opinião sobre a adesão à PEC da Previdência, ao endosso formal de entidades sindicais e patronais à reforma e mesmo à remuneração de líderes sindicais para entender quem faz e quem não faz oposição à reforma. A reportagem verificou que a afirmação de Temer é EXAGERADA, já que, enquanto a maior parte da população, de qualquer faixa de renda, diz rejeitar a reforma, grandes e ricas entidades patronais e sindicais se dividem em dois extremos.

Veja o que checamos.


EXAGERADO

Quem está fazendo campanha [contra a reforma da Previdência] são aqueles que ganham 20, 15, 16 [mil reais], que tinham cinco anos a menos, para se aposentar. — presidente Michel Temer

Uma reforma da Previdência cujo objetivo é aumentar a idade mínima para a aposentadoria não costuma ser popular, como Aos Fatos já havia mostrado no ano passado a partir de uma declaração do próprio Temer. Pesquisa Datafolha realizada entre os dias 26 e 27 de abril e publicada no jornal Folha de S.Paulo nesta semana confirma essa tendência.

Segundo o levantamento, quanto menor a renda familiar mensal declarada pelo entrevistado, maior a rejeição à proposta do governo — ainda assim, trata-se de uma diferença de cinco pontos percentuais. Se declararam contra a reforma 70% dos entrevistados cujas famílias ganham menos de dois salários mínimos contra 22% favoráveis. Outros 7% não souberam responder e mais 1% se disseram indiferentes. Dentre aqueles cujas famílias ganham mais de dez salários mínimos, 65% são contra a reforma, 29% são a favor, 3% não souberam responder e 2% são indiferentes.

Além disso, as faixas de idade que mais se opõem à reforma são aquelas que, diferentemente do que diz Temer, têm bem mais de cinco anos até se aposentar: dos 25 aos 34 anos, 76% são contra. Dos 35 aos 44 anos anos, 74% são contra. Dos 45 aos 59, 71% são contra. Com 60 anos ou mais, 67% são contra.

Além disso, ao longo dos últimos meses de discussão da proposta no Congresso, entidades patronais como CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Febraban (Federação Brasileira de Bancos) defenderam publicamente a proposta encaminhada pelo governo. Algumas das maiores fortunas brasileiras integram esses grupos.

Embora o agronegócio e a indústria tenham registrado perdas consecutivas desde 2015, estão entre os maiores doadores de campanha no país e não só fazem campanha, como também patrocinam reformas a seu favor no Congresso.

Sindicatos. Próximos aos governos petistas dos últimos 13 anos, os sindicatos tiveram trânsito no Palácio do Planalto, mas obter dados a respeito de sua atuação e da remuneração de seus líderes é tarefa difícil. O motivo é que falta transparência ao setor. Exemplo disso é que apenas em 2015 o Ministério do Trabalho passou a publicar informações relativas à coleta da contribuição sindical obrigatória sob as diretrizes da Lei de Acesso à Informação. Responsável por registrar as entidades sindicais brasileiras, é também a pasta que informa à Caixa Econômica Federal quais entidades estão aptas a receber o imposto.

É possível ter uma ideia, entretanto, do volume de dinheiro movimentado pelas principais entidades no Brasil a partir de reportagens. Segundo o jornal Valor Econômico com dados do Ministério do Trabalho, cerca de cem entidades no país receberam valores acima de R$ 3,6 milhões cada uma a título de contribuição sindical obrigatória — o suficiente para se enquadrarem no regime tributário de empresas de médio porte.

São os sindicatos as principais organizações sociais na campanha contra a reforma da Previdência, mas não há dados para saber o salário de seus principais dirigentes — até por ser sigiloso. Há reportagens, contudo, como um especial do jornal O Globo, que relatam, de fato, ganhos milionários em sindicatos do Rio e de São Paulo a partir de investigações policiais.

Centrais grandes, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), que contemplava até ano passado cerca de 30% dos trabalhadores sindicalizados brasileiros, defendem a extinção da contribuição sindical, sob a alegação de que os repasses estimulem a criação de sindicatos de fachada e, por isso, abram precedentes como os apontados nas reportagens.

Selo. A oposição à reforma da Previdência é, de fato, centralizada em sindicatos — muitos deles irrigados com milhões de reais ao ano. No entanto, a insatisfação com a reforma da Previdência é generalizada entre todas as classes sociais, segundo o Datafolha. O presidente também não menciona entidades patronais interessadas na reforma — cuja participação no PIB é relevante. Por isso, Aos Fatos considera EXAGERADA a fala de Temer.



Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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