🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Tabela promove 'tratamento precoce' com base em site de metodologia duvidosa

Por Priscila Pacheco

7 de abril de 2021, 19h01

Uma tabela que circula em postagens nas redes sociais (veja aqui) promove drogas sem eficácia comprovada contra a Covid-19 com base em informações de um site que apresenta graves problemas metodológicos e resultados enviesados a favor de medicamentos como a ivermectina e a hidroxicloroquina. Até o momento, nenhum estudo sólido comprovou a ação contra o novo coronavírus desses remédios, que integram o chamado "tratamento precoce" defendido pelo governo Bolsonaro e seus aliados.

Posts com a tabela enganosa reuniam ao menos 1.486 compartilhamentos nesta quarta-feira (7) e foram marcados com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma ‌(‌saiba‌ ‌como‌ ‌funciona‌).


Protocolo de tratamento para Covid-19 (Março/2021)

Não é verdade que ivermectina, vitamina D, hidroxicloroquina, azitromicina e zinco são eficazes para prevenir ou tratar a Covid-19, como sugerem posts com uma tabela que vem circulando nas redes sociais. As peças de desinformação usam a lista com nomes das substâncias, números de estudos, pacientes envolvidos e taxas de eficácia para promover um “tratamento precoce” que, na realidade, não existe.

O site c19study, que aparece como a fonte oficial dos dados, é uma plataforma que agrega resultados de estudos duvidosos e apresenta problemas metodológicos, conforme o Aos Fatos mostrou em uma publicação de fevereiro.

Alguns dos estudos citados na plataforma são apenas “preprints”, ou seja, pesquisas que carecem de requisitos básicos da comunidade científica, como avaliação de outros cientistas independentes (a chamada revisão por pares). Outro fator que já levou a plataforma ao descrédito foi a identificação de distorções de informações para tornar resultados mais favoráveis aos medicamentos analisados, como cita em publicação o Fundo de Pesquisa em Saúde de Quebec, do Canadá.

Uma análise crítica de aspectos metodológicos sobre o site publicada por pesquisadores do Centro Universitário São Camilo, Universidade Metropolitana de Santos e UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), destacou ainda problemas na plataforma como o anonimato dos autores, a ausência de declaração de conflito de interesses, a omissão do risco de viés dos estudos incluídos e a falta de critérios para a seleção de pesquisas.

A plataforma c19study foi criada em 2020 com destaque para a hidroxicloroquina, mas faz parte de uma rede que possui páginas com estudos dos outros medicamentos sem eficácia atestada contra a Covid-19. Hoje, não existe nenhuma pesquisa sólida que comprove a existência de drogas eficazes para prevenir ou tratar a infecção pelo vírus Sars-Cov-2.

Remédios. O Aos Fatos já destacou os medicamentos citados nos posts em outras checagens e em reportagem. Inclusive, uma metanálise (compilação de resultados de pesquisas científicas), publicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em março deste ano, concluiu que a hidroxicloroquina não deve ser usada para prevenção e que seu consumo não diminuiu a hospitalização ou a mortalidade de pessoas infectadas. Segundo a instituição, essa droga não deve ser mais prioridade em suas pesquisas.

A OMS também ressaltou, no dia 31 de março, que a ivermectina deve ser usada somente para pesquisas, não para uso clínico, até apresentar mais dados de eventual potencial contra a Covid-19. No momento, uma análise de 16 estudos concluiu que a evidência do vermífugo ainda é muito baixa para determinar se ele reduz o tempo de recuperação do paciente, a necessidade de hospitalização ou de ventilação mecânica e a mortalidade.

Referências:

1. Aos Fatos (Fontes 1, 2 e 3)
2. Fundo de Pesquisa em Saúde de Quebec
3. Journals Bahiana
4. BMJ
5. OMS


De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.