Perfis nas redes têm usado a suspensão do X no Brasil para reforçar as convocações para as manifestações marcadas pela extrema-direita para o 7 de Setembro — cuja principal bandeira é o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
As convocações têm sido impulsionadas, sobretudo, por parlamentares e siglas da oposição. É o caso do Novo, que desde o final de semana publicou posts criticando o que chama de “decisão autoritária” do ministro e pedindo adesão aos protestos.
Na segunda (2), o movimento ganhou o apoio de Elon Musk, que retuitou uma série de publicações sobre o tema. Uma delas, em inglês, dizia que os brasileiros iriam “tomar as ruas para protestar contra o banimento do X pelo ditador Alexandre de Moraes e pedir seu impeachment em 7 de setembro”. “Ele deveria sofrer impeachment por violar seu juramento de posse”, comentou o empresário sul-africano.
Ao compartilhar uma publicação do deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS), Musk escreveu que “o atual governo brasileiro gosta de usar o manto de uma democracia livre, enquanto esmaga o povo sob suas botas”.
Moraes determinou o bloqueio do X no Brasil na sexta-feira (30), após Musk se negar a acatar ordem do STF para nomear um representante legal da rede no país.
O bilionário havia anunciado o fechamento do escritório do X no Brasil em 17 de agosto, acusando Moraes de “censura” por pedir a suspensão de perfis de investigados pelo STF por propagação de desinformação e ataques às instituições.
A decisão de Musk de fechar o escritório do X foi tomada quatro dias depois de o jornal Folha de S.Paulo publicar uma reportagem na qual afirma que Moraes teria agido “fora do rito” para investigar bolsonaristas.
Apelidado de “Vaza Toga” pela oposição, o caso exposto pelo jornal já vinha sendo explorado pelos organizadores dos atos do Dia da Independência antes do bloqueio do X.
No dia seguinte à publicação da reportagem, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) criou um site para pressionar os parlamentares a apoiarem um pedido de impeachment de Moraes.
A página está sendo divulgada em posts de convocação para o 7 de Setembro e mostra os deputados contrários e favoráveis ao impeachment, divulgando os telefones de seus gabinetes e páginas nas redes sociais.
A estratégia de mobilizar eleitores para pressionar parlamentares já tinha sido usada pela extrema direita nos últimos meses para barrar a tramitação de projetos de regulação das redes sociais, como o chamado “PL das Fake News” (PL 2.630/2020).
Twitter Files Brazil
Não é a primeira vez que o empresário sul-africano intervém de forma a aumentar a pressão sobre Alexandre de Moraes. Dias após a eclosão do caso apelidado de Twitter Files Brazil, o empresário sul-africano já havia usado sua rede social para confrontar o ministro do STF.
Em 3 de abril, o ativista conservador norte-americano Michael Shellenberger, conhecido por negar as mudanças climáticas, publicou uma série de mensagens supostamente trocadas pela equipe jurídica do Twitter no Brasil entre 2020 e 2022 — antes de a rede ser adquirida por Musk.
As capturas de tela mostravam as supostas respostas dadas pela empresa a determinações do Judiciário brasileiro. Eram, sobretudo, pedidos de informações sobre usuários investigados ou para a remoção de conteúdos desinformativos ou com ameaças ao sistema eleitoral brasileiro.
Após o vazamento dos Twitter Files Brazil, no dia 6, Musk publicou um tuíte direcionado a Moraes no qual questionava: “Por que você está determinando tanta censura no Brasil?”.
O magnata fez, então, uma série de críticas ao ministro, acusando-o de atentar contra a liberdade de expressão. Também ameaçou descumprir ordens do STF, dizendo que restabeleceria contas suspensas, o que fez Moraes incluir Musk como investigado no inquérito das milícias digitais e determinar multa diária caso o X descumprisse decisões judiciais.
Como o Aos Fatos mostrou, os ataques a Moraes vindos de conservadores estrangeiros não tinham como alvo apenas as instituições brasileiras: após a reação de Musk, os Twitter Files Brazil também foram explorados no exterior para ajudar a campanha de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.
O argumento usado era de que o Brasil estaria passando por uma escalada autoritária, que também chegaria aos Estados Unidos caso os democratas vencessem as eleições.
Na época, a Suprema Corte dos Estados Unidos estava para julgar se o governo do país poderia pedir às redes sociais a remoção de conteúdos interpretados como desinformativos — a ação foi encerrada com resultado favorável ao governo Biden, mas sem entrar no mérito da discussão sobre a liberdade de expressão.
Agora, o bloqueio do X no Brasil também está sendo usado nos Estados Unidos para interferir na disputa local.
“O Brasil suspende ilegalmente uma empresa americana. Biden/Harris ficam em silêncio. Por quê? Porque o partido deles se opõe à liberdade de expressão e deve ter planos similares para a América”, publicou, em inglês, um perfil no X.
Ao contrário do que diz a publicação, porém, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil chegou a se manifestar sobre o conflito entre Musk e Moraes, afirmando que monitorava o caso, defendia a liberdade de expressão, mas não comentava disputas legais.
O caminho da apuração
Aos Fatos fez um levantamento de publicações nas redes sociais, por meio de palavras-chave, e verificou que o caso do X estava sendo associado aos protestos de 7 de Setembro.
Após analisar o conteúdo dos posts, a reportagem consultou notícias recentes e o histórico de investigações do Aos Fatos sobre o tema para contextualizar o caso.