Suspensão do X e Musk turbinam convocação para 7 de Setembro contra Moraes

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Perfis nas redes têm usado a suspensão do X no Brasil para reforçar as convocações para as manifestações marcadas pela extrema-direita para o 7 de Setembro — cuja principal bandeira é o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

As convocações têm sido impulsionadas, sobretudo, por parlamentares e siglas da oposição. É o caso do Novo, que desde o final de semana publicou posts criticando o que chama de “decisão autoritária” do ministro e pedindo adesão aos protestos.

 Card postado pelo Partido Novo no Facebook traz foto de Moraes sob a frase “Em nova decisão autoritária, Alexandre de Moraes derruba o X (Twitter) em todo o Brasil. Na legenda, partido diz que vai às ruas no 7 de setembro para pedir impeachment do ministro.
Partido Novo fez diversas postagens usando o bloqueio do X para convocar para 7 de Setembro (Reprodução/Facebook)

Na segunda (2), o movimento ganhou o apoio de Elon Musk, que retuitou uma série de publicações sobre o tema. Uma delas, em inglês, dizia que os brasileiros iriam “tomar as ruas para protestar contra o banimento do X pelo ditador Alexandre de Moraes e pedir seu impeachment em 7 de setembro”. “Ele deveria sofrer impeachment por violar seu juramento de posse”, comentou o empresário sul-africano.

Ao compartilhar uma publicação do deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS), Musk escreveu que “o atual governo brasileiro gosta de usar o manto de uma democracia livre, enquanto esmaga o povo sob suas botas”.

Tuíte de Musk diz, em inglês: “Ele deveria sofrer impeachment por violar seu juramento de posse”. Mensagem compartilhada pelo magnata noticiava que os brasileiros vão às ruas no 7 de setembro para pedir o impeachment de Moraes.
Após Alexandre de Moraes determinar a suspensão do X no Brasil, Elon Musk passou a usar a plataforma para reforçar convocações para o 7 de Setembro (Reprodução/X)

Moraes determinou o bloqueio do X no Brasil na sexta-feira (30), após Musk se negar a acatar ordem do STF para nomear um representante legal da rede no país.

O bilionário havia anunciado o fechamento do escritório do X no Brasil em 17 de agosto, acusando Moraes de “censura” por pedir a suspensão de perfis de investigados pelo STF por propagação de desinformação e ataques às instituições.

A decisão de Musk de fechar o escritório do X foi tomada quatro dias depois de o jornal Folha de S.Paulo publicar uma reportagem na qual afirma que Moraes teria agido “fora do rito” para investigar bolsonaristas.

Apelidado de “Vaza Toga” pela oposição, o caso exposto pelo jornal já vinha sendo explorado pelos organizadores dos atos do Dia da Independência antes do bloqueio do X.

No dia seguinte à publicação da reportagem, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) criou um site para pressionar os parlamentares a apoiarem um pedido de impeachment de Moraes.

Post mostra imagem gerada por inteligência artificial com o rosto de mulher com a boca tapada com uma fita. Ela tem o rosto pintado nas cores da bandeira do Brasil, que aparece ao fundo. Legenda diz “7 de Setembro, nas ruas”
Publicação compartilhada no Facebook evoca suposta censura no Brasil para convocar pessoas para sair às ruas no Dia da Independência (Reprodução/Facebook)

A página está sendo divulgada em posts de convocação para o 7 de Setembro e mostra os deputados contrários e favoráveis ao impeachment, divulgando os telefones de seus gabinetes e páginas nas redes sociais.

A estratégia de mobilizar eleitores para pressionar parlamentares já tinha sido usada pela extrema direita nos últimos meses para barrar a tramitação de projetos de regulação das redes sociais, como o chamado “PL das Fake News” (PL 2.630/2020).

Twitter Files Brazil

Não é a primeira vez que o empresário sul-africano intervém de forma a aumentar a pressão sobre Alexandre de Moraes. Dias após a eclosão do caso apelidado de Twitter Files Brazil, o empresário sul-africano já havia usado sua rede social para confrontar o ministro do STF.

Em 3 de abril, o ativista conservador norte-americano Michael Shellenberger, conhecido por negar as mudanças climáticas, publicou uma série de mensagens supostamente trocadas pela equipe jurídica do Twitter no Brasil entre 2020 e 2022 — antes de a rede ser adquirida por Musk.

As capturas de tela mostravam as supostas respostas dadas pela empresa a determinações do Judiciário brasileiro. Eram, sobretudo, pedidos de informações sobre usuários investigados ou para a remoção de conteúdos desinformativos ou com ameaças ao sistema eleitoral brasileiro.

Após o vazamento dos Twitter Files Brazil, no dia 6, Musk publicou um tuíte direcionado a Moraes no qual questionava: “Por que você está determinando tanta censura no Brasil?”.

O magnata fez, então, uma série de críticas ao ministro, acusando-o de atentar contra a liberdade de expressão. Também ameaçou descumprir ordens do STF, dizendo que restabeleceria contas suspensas, o que fez Moraes incluir Musk como investigado no inquérito das milícias digitais e determinar multa diária caso o X descumprisse decisões judiciais.

Como o Aos Fatos mostrou, os ataques a Moraes vindos de conservadores estrangeiros não tinham como alvo apenas as instituições brasileiras: após a reação de Musk, os Twitter Files Brazil também foram explorados no exterior para ajudar a campanha de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.

O argumento usado era de que o Brasil estaria passando por uma escalada autoritária, que também chegaria aos Estados Unidos caso os democratas vencessem as eleições.

Na época, a Suprema Corte dos Estados Unidos estava para julgar se o governo do país poderia pedir às redes sociais a remoção de conteúdos interpretados como desinformativos — a ação foi encerrada com resultado favorável ao governo Biden, mas sem entrar no mérito da discussão sobre a liberdade de expressão.

Agora, o bloqueio do X no Brasil também está sendo usado nos Estados Unidos para interferir na disputa local.

Post no X traz imagem dividida com as bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil. Publicação em inglês afirma que Biden e Harris não estariam comentando a suspensão da rede social porque o partido deles “deve ter planos similares para a América”
Bloqueio do X no Brasil está sendo usado por perfis apoiadores de Trump para acusar democratas de serem contrários à liberdade de expressão (Reprodução/X)

“O Brasil suspende ilegalmente uma empresa americana. Biden/Harris ficam em silêncio. Por quê? Porque o partido deles se opõe à liberdade de expressão e deve ter planos similares para a América”, publicou, em inglês, um perfil no X.

Ao contrário do que diz a publicação, porém, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil chegou a se manifestar sobre o conflito entre Musk e Moraes, afirmando que monitorava o caso, defendia a liberdade de expressão, mas não comentava disputas legais.

O caminho da apuração

Aos Fatos fez um levantamento de publicações nas redes sociais, por meio de palavras-chave, e verificou que o caso do X estava sendo associado aos protestos de 7 de Setembro.

Após analisar o conteúdo dos posts, a reportagem consultou notícias recentes e o histórico de investigações do Aos Fatos sobre o tema para contextualizar o caso.

Referências

  1. Folha de S.Paulo (1 e 2)
  2. Votos Deputados
  3. Aos Fatos (1, 2 e 3)
  4. Climate Feedback
  5. CNN Brasil
  6. Agência Brasil

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