🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Sites desinformam ao atribuir a repórter do 'Estadão' falsa declaração

10 de março de 2019, 21h55

É falso que a repórter do jornal O Estado de S. Paulo, Constança Rezende, afirmou que “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. Alvo de uma notícia falsa que ganhou tração neste domingo (10), Constança é apontada de modo equivocado como a responsável por uma série de reportagens como a que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) — filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro — entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Essas informações constam de documentos oficiais. Em sua conta no Twitter, o próprio presidente amplificou o factóide.

A notícia falsa foi publicada originalmente pelo site Terça Livre neste domingo (10) e acumulava, quando da publicação desta reportagem, cerca de 6 mil compartilhamentos. A peça de desinformação também foi reproduzida pelo site República de Curitiba e acumulava, até a publicação desta reportagem, quase 11.500 compartilhamentos. Além dessas, outras publicações com informações falsas foram marcadas por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (entenda como funciona).


FALSO

Jornalista do Estadão: “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”

O site Terça Livre, publicou na tarde deste domingo (10) um texto em que falsamente atribui à repórter do Estadão Constança Rezende a seguinte declaração: “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. Segundo o site, a declaração foi dada, conforme “denúncia” de um jornalista francês, em uma conversa gravada. No entanto, no material em questão, sequer há registro dessa afirmação.

Em diálogo gravado, Constança não fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A repórter, em vez disso, avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”. Constança não relaciona seu trabalho a qualquer intenção de "arruinar" o senador ou o governo. A gravação, que tem pausas e trechos editados, também não foi divulgada na íntegra.

O Estadão publicou na noite deste domingo um desmentido. Segundo o jornal, o texto tem base na “denúncia” do jornalista francês Jawad Rhalib e falsamente atribui à repórter a publicação da primeira reportagem sobre as investigações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão nas contas do ex-assessor de Flávio Bolsonaro. O autor da primeira reportagem foi o jornalista Fábio Serapião, do mesmo jornal.

Diz o site Terça Livre: “Desde que Constança iniciou a temporada de caça aos Bolsonaro no Estadão, emissoras como a Rede Globo e jornais como Folha de São Paulo seguiram o mesmo caminho”. “Uma enxurrada de acusações em horário nobre, capas de revistas e nas primeiras páginas de jornais colocaram a integridade moral do filho do presidente em xeque.”

Constança Rezende não deu entrevista nem dialogou com o jornalista francês citado pelo Terça Livre, informou o Estadão. As frases da gravação foram retiradas de uma conversa que ela teve em 23 de janeiro com uma pessoa que se apresentou como Alex MacAllister, suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Com base nas falsas informações publicadas pelo Terça Livre, outro site, o República de Curitiba, amplificou a fraude. Ambos os sites já publicaram desinformação checada por Aos Fatos seis vezes.

No domingo à noite, próprio presidente publicou no Twitter o seguinte: “Constança Rezende, do ‘O Estado de SP’ diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do ‘O Globo’. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos.”

Outro Lado. Allan dos Santos, responsável pelo site Terça Livre, disse no Twitter que as informações que publicou eram de um blogue francês. Segundo ele , trata-se de uma “entrevista por áudio entre a jornalista e o blogueiro” e que “tudo que nossa jornalista fez foi divulgar em português o que fora publicado em francês”.

O blogue ao qual dos Santos se refere, na verdade, é a página de um leitor no Mediapart, jornal independente francês. O texto, intitulado “Para onde vai a imprensa?”, foi publicado por Jawad Rhalib no dia 6 de março. Nele, Rhalib conta como montou com um de seus alunos uma “investigação” contra “uma jornalista virulenta anti-Bolsonaro” que “revela que a real motivação por trás da cobertura negativa da mídia é a de ‘arruinar’ o presidente Jair Bolsonaro e provocar sua destruição”.

O texto traz uma transcrição dos áudios que, segundo o autor, deixava claro que “Rezende declara resoluta que só escreve sobre o caso Flavio Bolsonaro para ‘arruinar’ o presidente Jair Bolsonaro” e que ela “teme que a investigação sobre Flavio Bolsonaro nunca se concretize, porque neste caso não haveria um ‘processo de destituição’ do presidente Jair Bolsonaro”. Mas, como explicado anteriormente, Constança não fala sobre uma intenção de arruinar o presidente, mas sim que o caso de Flavio “pode” comprometer Bolsonaro.

No Twitter, o site Mediapart publicou uma nota de solidariedade à repórter do Estadão e confirmou serem falsas as informações publicadas no blog hospedado em seu site: "o artigo é de responsabilidade do autor e o blog é independente da redação do jornal".

A notícia falsa do blog francês também foi republicada em 8 de março no The Washington Times. O jornal, fundado em 1982 pelo Reverendo Sun Myung Moon, da Igreja da Unificação, já publicou diversas textos controversos, como o que chamava o ex-presidente Barack Obama de “primeiro presidente muçulmano da América” e o que dizia que fumantes passivos não têm sua saúde afetada pelo cigarro. O jornal não tem relação com o Washington Post.

O site República de Curitiba, contatado por Aos Fatos via email, disse que reproduziu o conteúdo do site Terça Livre e que retirou o texto do ar após terem "verificado melhor a informação e a qualidade da gravação ser duvidosa": "De fato, ela não fala em intenção, no máximo 'demonstra' uma certa empolgação com um possível resultado da investigação".


Esta checagem foi atualizada no dia 11 de março de 2019 às 10h40 para acrescentar a resposta de Allan dos Santos publicada no Twitter e também a contextualização da publicação original no Mediapart.

Esta checagem foi atualizada no dia 11 de março de 2019 às 12h40 para acrescentar informações referentes ao The Washington Times.

Esta checagem foi atualizada no dia 11 de março de 2019 às 14h10 para acrescentar o Outro Lado do site República de Curitiba.

Esta checagem foi atualizada no dia 11 de março de 2019 às 17h32 para inclusão de informações sobre o tweet do site Mediapart.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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