🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Site engana ao dizer que não há restrições a jornalistas na posse de Bolsonaro

Por Luiz Fernando Menezes

1 de janeiro de 2019, 14h41

Uma publicação do site Terça Livre TV engana ao classificar como mentirosos os relatos de jornalistas que estão sofrendo restrições ao trabalho na posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Desde a manhã desta terça-feira (1º), profissionais de veículos de comunicação nacionais e internacionais informaram problemas como longo tempo de espera para o credenciamento; impedimentos na circulação livre pelas áreas do evento; confisco de frutos redondos; proibição de ingresso com garrafas d’água, entre outras limitações. O Terça Livre TV também omite que teve acesso privilegiado às áreas da posse e que estava em um local diferente de onde partiu grande parte dos relatos.

Desta forma, a publicação foi marcada por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta da verificação do Facebook (entenda como funciona).


FALSO

ATENÇÃO: os jornalistas NÃO ESTÃO sofrendo restrição no trabalho!

Ao negar que jornalistas estão sofrendo restrições durante a cobertura da posse presidencial — como a proibição de livre deslocamento pela Esplanada até o confisco de alguns alimentos e garrafas d’água —, o site Terça Livre TV desconsidera as informações relatadas por uma série de profissionais de diferentes órgãos de imprensa e omite que ele próprio foi favorecido no credenciamento para a posse de Bolsonaro.

As reclamações dos jornalistas tiveram início logo pela manhã, dando conta de longos períodos de espera: o horário de encontro dos credenciados foi marcado para as 7h no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), ainda que a cerimônia de posse estivesse marcada para 15h, como relatou Carol Pires, jornalista do The New York Times. A repórter Alessandra Azevedo, do Correio Braziliense, também postou declaração semelhante.

Em O Globo, Miriam Leitão classificou o tratamento dado aos jornalistas como “impensável e inaceitável”. Segundo ela, “quem tem credencial para o Congresso teria que chegar às 7h para um evento que começa às 15h. Fica no seu setor e de lá não pode sair. Se tiver conseguido também a credencial para outro momento da posse não poderá ir. Terá que ficar no mesmo local, depois de tudo terminado no Congresso, esperando a hora que o governo quiser retirá-lo do local para levá-lo de volta ao ponto inicial”.

Na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, há também detalhes das mesmas restrições relatadas por outros profissionais da imprensa. Segundo a jornalista, além do que já foi falado, “apenas um jornalista de cada veículo poderia entrar no palácio, e com acesso restrito às autoridades” e “os outros ficariam do lado de fora, na portaria ou num corredor aberto no meio da população. E a assessoria alertava: neste local, era preciso evitar movimentos bruscos. Fotógrafos não deveriam erguer suas máquinas. Qualquer movimento suspeito poderia levar um sniper a abater o ‘alvo’”.

Aos Fatos também colheu nas redes sociais relatos de jornalistas internacionais pedindo para deixar o local de cobertura antes mesmo da posse. Segundo a repórter Basilia Rodrigues, da CBN, “Jornalistas internacionais de agências da China e França ficaram irritados com as restrições no Itamaraty e pediram pra deixar o local de cobertura da posse”.

Um relato semelhante foi twittado pela jornalista do Estadão Renata Agostini: “Alguns jornalistas estrangeiros abandonaram a cobertura diante das condições a que estão sendo submetidos os profissionais de imprensa - confinados e com acesso restrito a água e banheiro. Mas a 'imprensa amiga' tem acesso liberado (os que fazem cobertura favorável a Bolsonaro)”.

A jornalista Ana Clara Costa, da revista Veja, também narrou o ocorrido, ressaltando que as restrições eram particularmente mais evidentes para quem cobria a posse a partir dos salões do Congresso: "especificamente no Congresso, a manutenção dos jornalistas em locais alijados das fontes, sem poderem se locomover ou sequer terem condição de abordar os presentes impediu o exercício da profissão".

"Vencido pelo cansaço, um jornalista se sentou no chão do mezanino e abriu o laptop, enquanto transcorria o discurso presidencial. Foi abordado com truculência para que se levantasse, pois atrapalharia a passagem. Ao dizer que não iria se levantar, foi ameaçado de ser tirado do local. No mezanino havia seis cadeiras para mais de 30 jornalistas convidados", continuou.

A alimentação dos profissionais da imprensa também foi alvo de restrições da equipe de segurança. A editora do Destak Jornal, Iara Lemos, relatou que os “jornalistas não podem levar maçãs inteiras para a posse, apenas as cortadas passam pela revista da segurança”.

Tais relatos desmontam a afirmação do conforme mostra esta imagem. Nos último dia 29, o site informou, inclusive, que teria acesso livre a todos os locais do evento, inclusive no Itamaraty.

O privilégio foi concedido pela equipe de Bolsonaro a essa e outras páginas, como o Conexão Política e o Brasil Paralelo.

Manifestações de entidades. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou nota em que protesta contra as limitações ao trabalho de jornalistas durante a posse. "Confinados desde as 7h, alguns com acesso limitado a água e a banheiros, eles não puderam interagir com autoridades e fontes, algo corriqueiro em todas as cerimônias de início de governo desde a redemocratização do país", afirmou nesta terça-feira.


Esta reportagem foi atualizada às 11h07 de 2 de janeiro de 2019 para acrescentar mais relatos de constrangimentos a jornalistas.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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