Site distorce fatos sobre doações eleitorais da Odebrecht a Marina Silva

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Voltou a circular no Facebook postagem do site Plantão Brasil de 14 de abril de 2017 que distorce informações sobre doações de campanha feitas em 2014 pela Odebrecht a Marina Silva, atual pré-candidata da Rede Sustentabilidade à Presidência da República. O conteúdo foi denunciado por usuários da rede social na última terça-feira (3) (entenda como funciona). De lá para cá, o post já acumula 14 mil compartilhamentos no Facebook.

A postagem do Plantão Brasil reproduz parte de reportagem da Folha de S.Paulo, também publicada em 14 de abril de 2017, que relata trechos da delação de um executivo da empreiteira baiana sobre a relação estabelecida entre Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora, e Marina Silva, então candidata à Presidência pelo PSB, em 2014. Naquele ano, segundo o delator, a Odebrecht teria doado, legalmente, R$ 1,25 milhão à campanha da ex-senadora.

Ao trazer o título “Cai a hipócrita: Odebrecht delata Marina Silva: mais de R$ 1 milhão” e ao omitir o trecho da reportagem da Folha com a versão da ex-senadora pelo Acre, o Plantão Brasil distorce o caso para fazer parecer que os recursos doados pela empreiteira foram irregulares. Hoje, Marina Silva não é alvo de investigações da Lava Jato que apuram casos de corrupção envolvendo a construtora.

No trecho omitido pela postagem, Marina confirmou ter se encontrado com Marcelo Odebrecht, mas negou que, na ocasião, tenha tratado de financiamento de campanha. Ela também reconheceu que a empreiteira doou recursos para sua candidatura. Segundo Marina, foram duas as doações ao seu comitê, somando R$ 698.574,41. Um terceiro repasse, de R$ 600 mil, teria sido direcionado ao PSB, sem ter sido usado na campanha.

Com as mesmas distorções, essa história foi uma das cinco usadas como provas pela ex-senadora e pela Rede em pedido de liminar feito ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para retirada do ar dos conteúdos, classificados como notícias falsas. Nesta ação, porém, as postagens denunciadas foram as publicadas pela página do Facebook Partido Anti-PT. A corte decidiu favoravelmente a Marina Silva e, entre outras medidas, obrigou a página a apagar os posts.

Por conter informações verdadeiras, mas omitir pontos importantes para a compreensão do fato, além de sugerir, no título, que as doações foram irregulares, o conteúdo do Plantão Brasil foi classificado como DISTORCIDO.

Veja abaixo, em detalhes, o que verificamos.


DISTORCIDO

Cai a hipócrita: Odebrecht delata Marina Silva: mais de R$ 1 milhão

Em 14 de abril de 2017, a Folha de S.Paulo publicou reportagem em que relata trechos do depoimento de Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, responsável por acertar repasses eleitorais a políticos, no acordo de delação premiada fechado com o Ministério Público Federal.

Nele, o executivo fala da relação que foi estabelecida entre Marcelo Odebrecht, então presidente da empreiteira baiana, e Marina Silva nas eleições de 2014, quando ela concorria à Presidência pelo PSB.

Segundo o depoimento de Alexandrino, o primeiro encontro de Marina e Marcelo foi em um hotel em Guarulhos, mas, nele, só teriam sido discutidos “valores culturais, não monetários”. Após as conversas, a empreiteira acertou a doação de R$ 1,25 milhão à campanha da ex-senadora, em recursos que foram declarados à Justiça Eleitoral.

Até aqui, as informações que constam na postagem do site Plantão Brasil coincidem com as da reportagem da Folha que lhe serviu de fonte. O post, porém, deixa de fora a versão de Marina Silva para o ocorrido, o que constava no texto do jornal paulista. O título também sugere falsamente que as doações teriam sido irregulares, como, por exemplo, os repasses por caixa dois descobertos por meio das delações premiadas da empreiteira baiana.

De acordo com a nota enviada pela ex-senadora à Folha de S.Paulo, o comitê de captação da sua candidatura em 2014 foi procurado pela Odebrecht para “conhecer as suas propostas, demanda recorrente de vários setores da sociedade”.

Marina Silva reconheceu que participou de reunião com Marcelo Odebrecht e outros dirigentes no hotel Pullman, em Guarulhos, “onde foram expostas as principais propostas para o desenvolvimento sustentável do país”. No encontro, afirmou a dirigente da Rede, “não se abordou nenhum assunto referente a financiamento de campanha”.

Mais adiante, Marina Silva detalhou as doações recebidas posteriormente da Odebrecht: R$ 98.574,41, por meio da empresa Odebrecht Ambiental, em dois depósitos; e R$ 500 mil, por meio da empresa Ecosteel Gestão de Águas Industriais. O Diretório Nacional do PSB recebeu, ainda, no período eleitoral, R$ 600 mil. Mas, segundo Marina Silva, esses recursos não foram direcionados para a sua campanha.

A nota ressaltou ainda que o Ministério Público Federal concluiu que “não havia elementos que justificassem o pedido de abertura de inquérito ou o encaminhamento às demais instâncias da Justiça”.

Nesta terça-feira (10), Aos Fatos não conseguiu entrar em contato com os responsáveis pela página Plantão Brasil. Tanto o post como a página não têm informações de autoria.

Decisão do TSE. A versão publicada pelo Plantão Brasil - página dedicada a defender o PT e seus quadros políticos — é a mesma disseminada pela página do Facebook Partido Anti-PT — que, como expressa o nome, é crítica ao Partido dos Trabalhadores.

Foi sobre esta última que recaiu decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em junho último, atendendo pedido de liminar movido por Marina Silva e a Rede Sustentabilidade. Entre os cinco posts da página Partido Anti-PT usados como prova na ação, consta o caso da doação da Odebrecht.

Na decisão, o TSE aplicou pela primeira vez a resolução nº 23.551, de 18 de dezembro de 2017, que regulamenta a propaganda eleitoral no pleito deste ano. O artigo 84, por exemplo, prevê punição de dois meses a um ano de detenção ou pagamento de 120 a 150 dias-multa para quem divulgar “fatos que se sabem inverídicos, em relação a partidos políticos ou a candidatos, capazes de exercer influência sobre o eleitorado”.

Ao deferir a liminar, o ministro substituto Sérgio Banhos determinou ao Facebook a remoção das publicações em 48 horas. A rede social também foi obrigada a fornecer os registros de acessos a uma das postagens, dados sobre a origem do cadastro da página Partido Anti-PT, além dos dados pessoais de seu criador e administradores.

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