Da corrupção à ideologia de gênero, Bolsonaro repete mentiras no Sete de Setembro

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O presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), voltou a dizer nesta quarta-feira (7) que não existem casos de corrupção em seu governo, o que é mentira. Também disse combater a "ideologia de gênero", expressão usada em teorias da conspiração promovidas por setores religiosos conservadores. Em discurso durante o desfile de comemoração dos 200 anos de independência do Brasil, em Brasília, ele ainda falou de inflação, aborto e pandemia.

Aos Fatos checou em tempo real as declarações do mandatário. A reportagem está aberta a contestações da assessoria do Planalto e registrará o outro lado caso necessário.

A íntegra da transcrição do discurso é feita automaticamente pelo Escriba. Erros de digitação e pontuação são comuns nesse tipo de tecnologia, mas Aos Fatos está fazendo atualizações e formatações durante a cobertura em tempo real e nas horas seguintes.

Jair Bolsonaro

Brasil, Terra Prometida. Brasil, um pedaço do paraíso. Alegria de ser brasileiro. Orgulho de ter nascido nessa terra. Cores preferidas? O verde e amarelo. O nosso objetivo? A liberdade eterna. Tenho certeza, mais que oxigênio: a nossa liberdade é essencial pra nossa vida. Nenhum país do mundo tem o que nós temos. Temos tudo. Para sermos ainda mais felizes ainda.

Pode ter certeza, com a graça de Deus, que me deu uma segunda vida, e pela missão também que me deu de comandar o nosso país, nós atingiremos juntos o nosso objetivo. Hoje vocês tem um presidente que acredita em Deus. Que respeita os seus policiais e seus militares. Um governo que defende a família. E um presidente que deve lealdade ao seu povo.

Vocês sabem a beira do abismo que o Brasil se encontrava há poucos anos. Atolado em corrupção e desmando. Temos uma nova vida a essa esplanada dos ministérios com pessoas competentes, honradas e patriotas. Começamos a mudar o nosso Brasil.

Veio uma pandemia. Lamentamos as mortes.

A declaração é contraditória, já que, durante a pandemia de Covid-19, o presidente acumulou episódios em que minimizou a letalidade da doença e debochou de vítimas. Em abril de 2020, ao ser questionado sobre a escalada de mortes pela infecção, Bolsonaro afirmou: “Eu não sou coveiro, tá certo?”. O presidente também associou a doença a uma “gripezinha” e criticou medidas de proteção, chegando a afirmar que o Brasil não deveria ser um “país de maricas”. Em duas lives em 2021, ele imitou pessoas com falta de ar para criticar protocolos adotados por seu ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Em algumas situações, o presidente chegou a lamentar as mortes, mas ponderou que elas poderiam ter sido evitadas com remédios que não se provaram eficazes contra a Covid-19. “Lamento todos os óbitos. Lamento muito. Qualquer óbito é uma dor na família. E nós, desde o começo, o governo federal teve coragem de falar em tratamento precoce”, disse em entrevista dois dias depois de o Brasil atingir 500 mil óbitos, em junho de 2021.

Veio aquela errada política do fica em casa que a economia a gente vê depois. Enfrentamos também consequências de uma guerra lá fora. Quando parecia que tudo estaria perdido para o mundo eis que o Brasil ressurge com uma economia pujante.

Com uma gasolina entre as mais baratas do mundo.

O Brasil tem atualmente a 36ª gasolina mais barata entre 168 países analisados, de acordo com o site Global Petrol Prices, que lista os valores dos combustíveis no mundo. Em 5 de setembro, o insumo custava, em média, US$ 1,019 por litro, acima do cobrado em países como Bolívia (US$ 0,542), Colômbia (US$ 0,557) e Emirados Árabes (US$ 0,898), mas abaixo da média mundial, de US$ 1,34.

Com um dos programas sociais mais abrangentes do mundo, que é Auxílio Brasil.

Com o recorde na criação de empregos.

Um relatório divulgado pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) no final de agosto mostra que o Brasil registrou um estoque de 42,2 milhões de empregos formais, o maior da série histórica do levantamento. Isso, no entanto, não permite afirmar que houve recorde na criação de empregos, porque a base de dados sofreu mudanças metodológicas em janeiro de 2020, o que impede a comparação com anos anteriores. A partir daquela data, o Caged passou a considerar outras fontes e a captar mais dados. Os registros de trabalhadores temporários, por exemplo, eram opcionais até 2020 e agora são obrigatórios, permitindo uma contabilização mais precisa.

Com a inflação despencando.

Em julho de 2022, dado mais recente disponível, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) apresentou queda de 0,68% em comparação com o mês anterior. Essa foi a maior queda para o índice mensal de toda a série histórica, que começa em julho de 1994. Para os últimos 12 meses, a inflação acumulada medida pelo índice do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é de 10,07%. O boletim Focus, divulgado toda segunda-feira pelo BC (Banco Central), mostra na edição desta semana que a expectativa de economistas de instituições financeiras e bancos para o IPCA de 2022 é de 6,61% — a décima queda consecutiva no relatório. Entretanto, o índice segue acima da meta do Banco Central para a inflação, projetada em 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual.

E com o povo maravilhoso. E entendendo aonde o seu país poderá chegar.

Somos uma pátria majoritariamente cristã,

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em janeiro de 2022, a grande maioria dos brasileiros se declara cristã, sendo 51% católicos e 26% evangélicos, entre outras denominações do cristianismo.

... que não quer a liberação das drogas, ...

É verdade que a população brasileira é resistente à liberação das drogas. Uma pesquisa de 2019 do instituto Ipsos, que avaliou 29 países, mostra que apenas 24% é favorável ao uso recreativo legal da maconha. Já um estudo publicado pelo Senado em 2014 apontou que somente 9% dos brasileiros eram favoráveis à liberação da maconha para qualquer finalidade.

... não quer legalização do aborto, ...

De fato, a maioria da população brasileira é contrária à legalização do aborto, segundo duas pesquisas publicadas em maio. Levantamento do PoderData apontou que 59% dos entrevistados são contra a interrupção voluntária da gravidez. Já o Datafolha indicou que 39% acreditam que a legislação deve permanecer como está — ou seja, com permissão somente em casos de estupro, risco para a mãe e anencefalia do feto — e outros 32% afirmaram que a medida deve ser proibida em qualquer caso. A mesma pesquisa apontou que 18% são favoráveis ao aborto em mais situações do que as previstas em lei, e que 8% concordam com a interrupção da gravidez em qualquer situação.

... que não admite a ideologia de gênero.

O termo “ideologia de gênero” é usado por setores religiosos conservadores desde o final dos anos 1990 para criticar discussões relacionadas a gênero e sexualidade e serve de base para uma teoria da conspiração sobre um plano para minar a heterossexualidade e a família cristã. Além disso, uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Cenpec (Centro de Pesquisas e Estudos Em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e pela Ação Educativa, publicada em julho de 2022, indica que a maioria dos brasileiros acredita que questões de gênero e sexualidade devem ser debatidas em sala de aula. Quando questionados sobre se as escolas devem promover o direito de as pessoas viverem livremente sua sexualidade, sejam elas heterossexuais ou LGBTQIA+, 66% disseram concordar totalmente com a afirmação e 15% concordar em parte. Entre os entrevistados, 71% disseram concordar que a escola está mais preparada do que os pais para explicar temas como sexualidade e puberdade. A pesquisa foi realizada com 2.090 brasileiros, com idades entre 16 anos ou mais, em 130 municípios do país, de 8 a 15 de março deste ano.

Um país que defende a vida na sua concepção, que respeita as crianças na sala de aula,

... que respeita a propriedade privada...

... e que combate a corrupção para valer.

Os exemplos de interferência política em órgãos de investigação e as suspeitas de corrupção no governo, corroboradas por depoimentos e documentos, tornam a declaração de Bolsonaro FALSA. Desde o início do mandato, o presidente já determinou cinco vezes a troca do diretor-geral da Polícia Federal e substituiu delegados responsáveis por investigações sobre ele ou membros de sua família. O procurador-geral da República, Augusto Aras, arquivou 104 pedidos de investigação contra o presidente até o fim de julho, segundo levantamento do UOL. Durante o governo Bolsonaro, o Brasil também perdeu posições no CCC (Índice de Capacidade de Combate à Corrupção), elaborado pela Americas Society/Council of the Americas. O último relatório, publicado em junho deste ano, mostra o país em 10º lugar na América do Sul. O documento aponta como recuos no combate à corrupção as tentativas do presidente de controlar órgãos de investigação e os cortes orçamentários de agências anticorrupção independentes. Sobre os casos de corrupção na atual gestão, uma série de membros e ex-membros do governo são investigados por delitos ligados à administração pública, como o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL).

Isso não é virtude. É obrigação de qualquer chefe do executivo. Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. O mal que perdurou por quatorze anos em nosso país, que quase quebrou a nossa pátria e que agora deseja voltar a cena do crime.

Não voltarão. O povo está do nosso lado. O povo está do lado do bem, o povo sabe o que quer. A vontade do povo se fará presente no próximo dia dois de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós. Vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil.

Podemos fazer várias comparações. Até entre as primeiras damas. Não há o que discutir uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é ao meu lado não. Muitas vezes ela está é na minha frente. E eu tenho falado para os homens solteiros. Para os solteiros que estão cansado de serem infelizes. Procure uma mulher, uma princesa. Se case com ela para serem mais felizes ainda.

Obrigado meu Deus pela minha segunda vida, obrigado pela missão.

Imbrochável, imbrochável, imbrochável, imbrochável, imbrochável.

Obrigado pela minha segunda vida, pela missão que me deste,

pelas mãos de 58 milhões de pessoas para estar à frente do Executivo Federal.

A missão não é fácil. Sabemos que é difícil mas sempre tenho pedido a ele, mais que sabedoria, tenho pedido força pra resistir e coragem para decidir. Pode ter certeza.

É obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Com uma reeleição, nós traremos pra dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora dela. Tenho certeza nessa Esplanada, aqui a origem das leis que mudam o nosso país. Muito feliz em ter ajudado chegar até vocês a verdade. Também ter mostrado para vocês que o conhecimento também liberta. Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é a Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é o Senado Federal. E também todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal.

A voz do povo é a voz de Deus. Todos nós mudamos. Todos nós nos aperfeiçoamos. Todos nós poderemos ser melhores no futuro. Muito obrigado, meu Deus. Por esse momento, por mais esse momento junto com o povo aqui na Esplanada dos Ministérios. Nunca vi um mar tão grande aqui com essas cores verde e amarela.

Aqui não tem a mentirosa Datafolha. Aqui é o nosso data povo. Aqui a verdade, aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador.

Daqui a pouco eu embarco para o Rio de Janeiro. E estarei na praia de Copacabana participando de um evento semelhante a esse. Evento que une os brasileiros dos quatro cantos do país. Evento onde entre nós não há qualquer diferença. Somos todos iguais. Todos nós queremos o bem da nossa pátria. O bem do nosso país. Tenho certeza que juntos em outubro daremos mais um grande passo para o futuro do nosso país e das nossas famílias.

Muito obrigado a todos vocês pela oportunidade, pela confiança, pelo carinho e pelo calor. A recíproca é verdadeira. Muito obrigado mais uma vez e até a vitória. Brasil acima de tudo… Agora estou indo para Copacabana e o meu grito de despedida para vocês…

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