Após apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) destruírem patrimônio público e privado e tentarem invadir a sede da Polícia Federal em Brasília, nesta segunda-feira (12), perfis bolsonaristas nas redes publicaram posts sem provas em que acusam os responsáveis pelos atos de vandalismo de serem “infiltrados”.
O termo ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter entre a noite de segunda (12) e a manhã desta terça (13), com mais de 280 mil menções.
A fim de disseminar a versão falsa, influenciadores publicaram fotos e vídeos que, na verdade, não mostram nenhum indício de que os vândalos seriam militantes de esquerda infiltrados para causar confusão.
Foram consideradas provas, por exemplo:
- Imagens de um homem encapuzado atirando pedras no prédio da PF com o auxílio de um estilingue. Segundo as publicações, o fato de o homem estar vestido de preto e escondendo seu rosto mostraria que ele, na verdade, seria um infiltrado;
- Fotos e vídeos que mostram pessoas de preto nos atos violentos. Na mesma linha que a foto citada acima, as publicações alegam que as vestimentas não estariam de acordo com o padrão bolsonarista;
- Um dos registros de ônibus incendiados, que vem sendo compartilhado junto de uma legenda que diz que os manifestantes teriam gritado “fora, Bolsonaro” e “Lula livre” durante o ato de vandalismo. A baixa qualidade do áudio, no entanto, não permite identificar as falas do vídeo;
- Um vídeo que mostra indígenas dentro de um ônibus em que uma delas diz que não sabe para onde estão indo. O vídeo vem sendo utilizado para sugerir que se tratariam de pessoas pagas para tumultuar os atos ou até falsos indígenas. O registro, que está nas redes ao menos desde o início do mês, não traz indício sequer de que o grupo estaria em viagem a Brasília;
- Uma foto publicada em um perfil inativo no Facebook chamada Black Bloc ABC que mostra dois homens com camisetas do Corinthians e a legenda “missão dada é missão cumprida”. Nada, no entanto, permite relacionar os homens da foto aos ataques.
Essas cinco publicações acumulavam centenas de milhares de visualizações no Facebook, no Instagram, no Kwai e no TikTok, além de terem sido compartilhadas também em grupos de mensagens, no WhatsApp e no Telegram.
Tese premeditada
A tentativa de desassociar os manifestantes bolsonaristas dos atos de vandalismo começou antes mesmo de as cenas de violência irromperem por Brasília. Às vésperas da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), grupos que organizavam manifestações pela cidade alertavam para uma suposta “armadilha da esquerda”, que levaria os manifestantes a invadir prédios públicos e causar confusão.
As correntes orientavam os manifestantes a permanecer em frente aos quartéis e não irem para a Esplanada dos Ministérios ou para a praça dos Três Poderes. “Querem nos usar para inventar a invasão de algum prédio público”, dizia um tuíte publicado às 13h21 desta segunda-feira (12) que somou 2,5 mil interações e também foi compartilhado em grupos no WhatsApp.
Outras correntes diziam que atos de vandalismo serviriam aos interesses do STF (Supremo Tribunal Federal). Para isso, elas levantam teorias sobre a ausência das grades da frente do Congresso Nacional no momento da diplomação. “URGENTE: STF retira as grades para que o povo invada o Congresso e culpem Bolsonaro”. Na verdade, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) montou um esquema reforçado de segurança para a data.
Mensagens desse tipo foram encontradas em dez dos grupos de WhatsApp monitorados pelo Radar Aos Fatos.
Confusão em Brasília
Na tarde de segunda (12), manifestantes se reuniram em diferentes pontos do Distrito Federal desde o período da manhã para protestar contra a diplomação de Lula e Alckmin, que ocorreu na sede do TSE.
Horas depois, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão temporária do indígena José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsereré, em meio a uma investigação contra crimes contra o Estado de Direito. A decisão do ministro atendeu a um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) e foi fundamentada na necessidade de garantia da ordem pública.
Após a PF prender Tsereré, manifestantes que estavam em Brasília para protestar contra o resultado das eleições iniciaram uma onda de atos violentos pela capital:
- primeiro, por volta das 19h30, atacaram e violaram a sede da polícia, no centro da cidade;
- depois, seguiram para a Asa Norte, onde fecharam vias, incendiaram cinco carros e três ônibus e entraram em confronto com a Polícia Militar.
A SSP-DF (Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal) informou, em nota, que está investigando os atos de vandalismo e que, uma vez identificados, os responsáveis serão responsabilizados. Até a publicação desta reportagem, no entanto, não houve nenhuma prisão.