Willian Moreira, Arnaldo Nunes e Renato S. Cerqueira /Futura Press

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Russomanno, Covas e Boulos se contradizem em declarações e propostas

Por Priscila Pacheco

21 de outubro de 2020, 15h33

Candidatos à Prefeitura de São Paulo que ocupam as primeiras posições nas pesquisas eleitorais têm dado declarações que contradizem posicionamentos que adotavam anteriormente ou até mesmo expressos em programa de governo.

O deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), por exemplo, mudou de discurso sobre as medidas de combate à Covid-19 ao receber apoio do presidente Jair Bolsonaro. Se antes ele se mostrava a favor de um isolamento social abrangente e até elogiava a atuação do governo de São Paulo durante a pandemia, agora afirma que, se eleito, vai pôr em prática o isolamento apenas de pessoas do grupo de risco.

Já o prefeito Bruno Covas (PSDB) chama de “Bolsa Crack” o benefício financeiro oferecido a usuários de drogas da Cracolândia pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT), mas, em 2019, adotou medida semelhante ao entregar de bolsas para os atendidos pelo “Programa Redenção”, substituto do projeto do petista.

Por fim, Guilherme Boulos (PSOL) disse durante evento de campanha que não vai aumentar o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de ninguém, mas em seu programa de governo há a promessa de aumento do imposto para mansões.

Confira abaixo detalhes do que o Aos Fatos checou.


1. Isolamento vertical

O deputado federal Celso Russomanno tem dito em entrevistas que, se eleito prefeito de São Paulo, deve aplicar o isolamento vertical, quando somente pessoas que fazem parte do grupo de risco (no caso da Covid-19, por exemplo, idosos e indivíduos com comorbidades) devem ser mantidas em casa. No entanto, em março, o candidato se manifestava a favor da restrição de circulação de toda a população.

“O governo de São Paulo está sempre buscando deixar todos informados, cuidando e protegendo a população. Durante esse período de pandemia, a informação é primordial para seguirmos nos prevenindo. Faça sua parte também. Fique em casa e respeite a quarentena”, disse, em postagem publicada em sua conta autenticada do Facebook no dia 25 de março.

A quarentena no estado de São Paulo foi decretada no dia 21 de março e passou a valer a partir do dia 24 daquele mês. No início de outubro, a capital entrou na chamada fase verde, na qual são permitidos eventos culturais e reabertura de cinemas e museus. Lugares como bares e restaurantes já estão abertos desde julho.

A mudança de discurso de Russomanno sobre isolamento social ocorreu em paralelo ao apoio que o candidato recebeu do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também defensor da restrição de circulação apenas para grupos de risco. Segundo o presidente, ele não tinha intenção de participar das eleições municipais, mas, como Russomanno é um amigo de “velha data”, estava pronto para ajudá-lo no que fosse preciso. O nome de Bolsonaro tem sido constantemente usado na propaganda eleitoral de Russomanno de rádio e televisão.

Apoio ao PSDB. A aproximação entre os dois também se refletiu em uma mudança no discurso de Russomanno sobre a atuação do governador João Doria (PSDB) e do prefeito Bruno Covas diante da pandemia. No dia 16 de março, ele disse na sua página do Facebook que o governo de São Paulo agia com responsabilidade e transparência diante do desafio de conter o avanço da Covid-19.

Já em caminhada no dia 2 de outubro, afirmou que a forma que Doria e Covas estão combatendo a pandemia é “insana”. Além disso, ressaltou que a população das periferias não tem possibilidade de manter distanciamento, pois precisa trabalhar. “O governo federal não prega isso [isolamento social horizontal], nunca pregou, o federal prega um distanciamento vertical e não horizontal", disse.

O Aos Fatos entrou em contato com a campanha de Russomanno para que pudesse comentar a sua mudança de posicionamento, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

2. Bolsa Crack

O candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), se contradiz ao chamar de “Bolsa Crack" o auxílio financeiro oferecido a dependentes químicos em recuperação pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) no Programa de Braços Abertos. Em debate realizado no dia 1º de outubro na Band, Covas disse: “Nós acabamos com o Bolsa Crack do PT”.

Entretanto, em 2019, ao lançar a segunda fase do Programa Redenção, criado por João Doria em 2017, Covas também propagandeou a entrega de bolsas a dependentes, que entrou em vigor na ocasião. Os beneficiados em tratamento iriam receber R$ 698 por 20 horas de trabalho semanal. Atualmente, o benefício é de R$ 731,46 e quem o recebe deve fazer serviços como limpeza e jardinagem, além de participar de capacitação técnica e formação pessoal e cidadã.

À época, o prefeito disse que a diferença em relação ao programa do governo de Haddad era que as bolsas seriam entregues somente na fase final do tratamento. "Na gestão anterior [Haddad] a bolsa era vista como parte do tratamento. Agora a gente vê como uma ação já na fase de reinserção na vida social. Antes era vista como uma 'bolsa droga', agora é uma porta de saída", disse.

A assessoria de campanha de Bruno Covas não respondeu ao pedido de esclarecimento feito pelo Aos Fatos.

3. Aumento do IPTU

Candidato do PSOL, Guilherme Boulos, foi contraditório ao dizer que não vai aumentar o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de ninguém, apesar de seu programa de governo registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) prometer a “elevação da alíquota de ISS para instituições financeiras e aumento do valor da tarifa do IPTU para mansões”.

Em evento no dia 9 de outubro sobre o Renda Solidária, programa de distribuição de renda para os mais pobres que pretende oferecer, se eleito, Boulos disse: "Não vamos aumentar IPTU de ninguém, não vamos aumentar imposto para encarecer nada para ninguém, mas banco vai ter que começar a pagar conta para que a gente possa sustentar e financiar programas sociais".

Procurada pelo Aos Fatos, a assessoria de campanha do candidato disse: “Não haverá aumento de IPTU em São Paulo. O que propomos, por questão de justiça tributária e social, é o aumento do ISS cobrado dos bancos e do IPTU das mega mansões que têm a alíquota defasada”.

Referências:

1. El País Brasil
2. G1 (Fontes 1, 2, 3, 4 e 5)
3. Folha de S. Paulo
4. Band
5. Governo de São Paulo
6. Prefeitura de São Paulo
7. TSE
8. Facebook do Celso Russomanno (Fontes 1 e 2)
9. YouTube


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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