No Roda Viva, Tabata Amaral distorce dados sobre empreendedorismo e omite que conta com apoio da máquina política

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Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (19), a deputada federal e candidata à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB) selecionou apenas parte dos dados de uma pesquisa a fim de sustentar que a cidade “não é nem uma das cinco melhores para se fazer negócio no país” — sendo que a capital paulista lidera o ranking geral.

A pessebista também alegou que não conta com a ajuda de nenhuma máquina governamental, quando na verdade é correligionária e tem o apoio do vice-presidente e ex-governador paulista Geraldo Alckmin. Além disso, a parlamentar conta com divulgação massiva pelo governo federal de um de seus projetos aprovados, o Pé de Meia, que virou um programa oficial.

A candidata também disse que seu nome foi o mais buscado no Google após os três debates que ocorreram até agora, o que não é verdade.

Veja um resumo do que checamos:

  1. É FALSO que São Paulo não esteja entre as cinco cidades brasileiras com melhor ambiente de empreendedorismo. A capital ocupa a primeira posição no ranking de 2023 da Enap (Escola Nacional de Administração Pública);
  2. Também não é verdade que Amaral tenha sido a candidata mais buscada no Google após os debates para a Prefeitura de São Paulo. Os dados do Google Trends mostram que ela não esteve no topo das pesquisas nos dias seguintes a nenhum dos três eventos;
  3. Diferentemente do que sugere a candidata, já existem contratos de concessão de publicidade em pontos de ônibus na cidade;
  4. A parlamentar também foi imprecisa ao sugerir que a atual gestão não realiza ações educativas de combate ao racismo. A Secretaria Municipal de Educação organiza eventos formativos e produz materiais curriculares sobre o tema;
  5. Para exaltar sua atuação na Câmara, Amaral citou projetos que não são de sua autoria, como o que instituiu mudanças nas diretrizes do ensino técnico;
  6. Ao mencionar a condenação de Pablo Marçal (PRTB) por furto qualificado, a candidata afirmou que o empresário teria roubado a aposentadoria de idosos, o que não pode ser provado pelos autos do processo;
  7. A parlamentar engana ao afirmar que sua campanha não conta com o apoio da máquina pública. O PSB integra a base do governo e é a sigla do vice-presidente, Geraldo Alckmin. Além disso, seus projetos contam com propaganda de órgãos do Executivo;
  8. É verdade que o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) é recordista em obras sem licitação. A candidata faz menção a uma reportagem do UOL que se baseia em um levantamento do TCM (Tribunal de Contas do Município);
  9. De fato, a principal ocorrência policial registrada em 2023 via 190 foi a perturbação de sossego.

São Paulo não é nem uma das cinco melhores cidades para se fazer negócio no país quando você olha pro ambiente de empreendedorismo.

A declaração da candidata é FALSA. De acordo com o último ICE (Índice das Cidades Empreendedoras), divulgado em 2023 pela Enap (Escola Nacional de Administração Pública), São Paulo estava na primeira posição do ranking de municípios com melhor ambiente de empreendedorismo.

A pesquisa leva em consideração sete critérios: Ambiente Regulatório, Infraestrutura, Mercado, Acesso Capital, Inovação, Capital Humano e Cultura Empreendedora. A cidade aparece fora das dez primeiras colocações em Mercado (11ª posição), Capital Humano (52ª posição) e Cultura Empreendedora (39ª posição).

Outro lado. Em mensagem enviada ao Aos Fatos, a assessoria de Tabata Amaral afirmou que a candidata fazia menção especificamente ao quesito Cultura Empreendedora, e não aos dados gerais da pesquisa.

Fui o nome mais pesquisado no Google [depois dos debates]

Entre os dias 9 e 15 de agosto, período após o debate da Band, e do jornal O Estado de S. Paulo, que foram realizados nos dias 8 e 14 de agosto, respectivamente, o candidato à Prefeitura de São Paulo mais buscado no Google foi Pablo Marçal (52%), seguido de Guilherme Boulos (21%). Com 11% das buscas, Amaral ocupou o terceiro lugar.

Infográfico do Google mostra que Tabata Amaral foi a terceira candidata mais buscada na plataforma entre os dias 9 e 15 de agosto
Tabata Amaral foi a terceira candidata mais buscada no Google entre 9 e 15 de agosto, período que abrange o pós-debate da Band e do jornal O Estado de S. Paulo (Reprodução/Google)

Na quarta-feira (19), logo após o debate realizado pela Veja e pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), dados do Google Trends — ferramenta do Google que oferece dados de padrões de pesquisa ao longo do tempo — apontam que Amaral foi a quinta candidata com o maior interesse de busca por moradores do Estado de São Paulo, incluindo a capital. A deputada também ocupou o quinto lugar em interesse logo após o debate realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Não há dados disponíveis publicamente por horário, no Google Trends, antes de 13 de agosto, o que impossibilita verificar o ranqueamento de Amaral logo após o debate da Band.

Outro lado. A assessoria alega que a deputada estava se referindo a “determinados momentos do debate” e não aos dias posteriores.

“Então qual é a nossa ideia? (…) Pensar em outras formas de financiamento [para o transporte público]. Uma delas é você explorar os pontos de ônibus para publicidade.”

Diferentemente do que sugere a candidata, já existem atualmente contratos de concessão de publicidade em pontos de ônibus, que contam com painéis digitais. Isso torna sua declaração FALSA.

Nessa modalidade publicitária, a empresa arca com o valor da instalação e da manutenção dos abrigos de ônibus, mas ganha “o direito de explorar a publicidade” nos locais, conforme explica a SP Obras.

Registro de abril de 2024 mostra totem com propaganda do MASP em ponto de ônibus em São Paulo
Totem da Eletromidia localizado no ponto de ônibus do Parque Trianon, na Avenida Paulista (Reprodução/Google Maps)

Outro lado. Em nota enviada ao Aos Fatos, a assessoria afirmou que “a candidata se referiu a ampliar a exploração comercial dos terminais e paradas de ônibus para diversificar as fontes de receitas para investimento no transporte público”.

“Quando a gente fala da educação são três compromissos principais que a gente tem com o combate ao racismo. Um deles é a efetivação de uma lei muito importante, que é a lei 10.639, que é justamente da gente trazer a perspectiva não só da história por meio do ponto de vista da África, mas também da cultura afro-brasileira, e poder trazer outros pontos de vista para o currículo escolar.”

A declaração da candidata é enganosa, porque omite que a cidade de São Paulo já tem iniciativas que impulsionam a efetivação da lei 10.639/2003.

O Neer (Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais), da Secretaria Municipal de Educação, tem como objetivo fomentar e promover práticas antirracistas por meio de ações formativas e materiais curriculares. Isso inclui cursos de capacitação, seminários, congressos e palestras sobre o tema para profissionais da rede municipal de ensino.

Outros exemplos são:

Outro lado. De acordo com a assessoria de Amaral, “em momento algum a candidata afirma que a prefeitura não tem qualquer iniciativa relacionada à lei 10.639/2003. O que ela indica é seu compromisso com um trabalho para garantir a implementação efetiva da lei”.

Eu tenho um histórico de seis anos de Brasília em que aprovei Pé de Meia, absorvente na escola, ensino técnico, mudanças climáticas, Marco das Startups.

A declaração de Amaral carece de contexto. Dos cinco projetos citados pela deputada, apenas dois são de sua autoria: o PL 54/2021, que criou o programa Pé de Meia, e o PL 4.129/2021, que dispõe sobre diretrizes gerais para a elaboração de planos de adaptação à mudança do clima.

Já em relação aos outros três, há imprecisões:

  • A deputada foi coautora do PLP 146/2019, que criou o Marco Legal das Startups;
  • Já o PL 428/2020, de sua autoria, que previa a distribuição de absorventes em escolas, foi apensado ao projeto aprovado, protocolado por Marília Arraes (Solidariedade-PE).
  • Por fim, o PL 6.494/2019, que muda as diretrizes do ensino técnico, foi protocolado por João Campos (PSB-PE). Amaral foi co-autora e a relatora do projeto na Câmara dos Deputados.

Outro lado. De acordo com a assessoria, a aprovação de um PL envolve o protocolo, assim como articulação política e construção da relatoria. “Ao utilizar a expressão 'aprovei', a candidata evoca esses três processos”, afirmou em nota.

A gente está falando de uma eleição em que a gente tem candidatos com históricos muito pesados. Gente [Pablo Marçal] que já foi condenado por roubar aposentadoria de idoso, gente que responde por crime de homicídio.

A declaração de Amaral é incorreta porque distorce os crimes pelos quais Pablo Marçal (PRTB) foi condenado.

A candidata já havia feito referência aos aposentados em entrevista anterior ao mencionar a condenação de Pablo Marçal (PRTB) por furto qualificado em 2010. O caso, que teve a pena extinta por prescrição, envolve uma quadrilha condenada por enviar mensagens de spam com vírus para infectar computadores das vítimas e obter acesso às senhas de suas contas bancárias.

Embora não seja possível excluir que aposentados tenham sido vítimas do golpe, as decisões da Justiça mencionam apenas os prejuízos que o esquema gerou aos bancos responsáveis pelas contas invadidas. Uma das decisões explicita que a Caixa Econômica Federal precisou ressarcir os clientes que caíram no golpe.

Além disso, Pablo Marçal está sendo investigado por tentativa de homicídio privilegiado — e não homicídio, como sugeriu a candidata — em virtude do caso da expedição que liderou para escalar o Pico dos Marins, em São Paulo, em 2020.

Mesmo se Amaral estivesse se referindo ao coronel Mello Araújo (PL), candidato a vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB), a afirmação ainda estaria incorreta. Em seu atestado de antecedentes criminais apresentado à Justiça Eleitoral, Mello Araújo cita processos referentes a dois homicídios em que teria se envolvido quando era policial militar da ativa. Os casos, no entanto, já foram arquivados.

Outro lado. A candidata discordou da checagem e disse que o trecho da sentença condenatória diz que Marçal entregava lista de emails para outra pessoa, que “infectava os endereços com programas invasores, objetivando a obtenção de dados e senhas dos correntistas lesados”.

Amaral também considera que a investigação sobre o Pico dos Marins “é sim sobre conduta enquadrada sob o tipo penal 'homicídio'”.

Os únicos dois que conseguiram trazer qualquer apoio são os candidatos de máquina. Eu venho pra essa disputa disputando contra o Nunes, que está com a máquina na mão, e o Boulos que tem a máquina do governo federal, tem o apoio do PT e já disputou outras eleições majoritárias.

Ao alegar que Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) seriam “candidatos de máquina”, Amaral ignora que é deputada federal há seis anos e filiada ao PSB, que é base do governo federal e sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin.

A própria deputada já se referiu à sua ligação com Alckmin como um “trunfo” perante o eleitorado de São Paulo.

Além disso, o programa Pé de Meia, do qual Amaral é autora, conta com a propaganda de órgãos do governo federal, como o Ministério da Educação e a Caixa Econômica Federal.

Outro lado. Em nota, a assessoria da candidata afirmou que "Máquina pública" ou "máquina de governo" são expressões da ciência política que “referem-se ao conjunto das estruturas de governo com função executiva” e “É inverossímil atribuir ao PSB e ao vice-presidente Geraldo Alckmin características semelhante apenas porque são parte da coalizão que elegeu o presidente Lula e integram seu governo”.

[Ricardo Nunes] é recordista em obras sem licitação.

A declaração é VERDADEIRA. A candidata cita um dado publicado pelo UOL em novembro do ano passado com base em levantamento do TCM (Tribunal de Contas do Município) sobre contratos emergenciais da prefeitura.

Os dados mostram que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) gastou R$ 3,7 bilhões entre janeiro de 2022 e outubro de 2023 em obras desse tipo, o que representa 294,5% de todo o valor pago nesta modalidade de contratos entre 2009 e 2021.

De acordo com o levantamento, a prefeitura contratou 298 obras entre 2022 e 2023, e há indícios de superfaturamento em ao menos 18 delas.

Na época, a prefeitura negou que houve superfaturamento e afirmou que as contratações emergenciais se deram “pelo agravamento das situações de risco em encostas e margens de córregos”.

O principal chamado que a PM atende hoje é por ruído.

Amaral se refere a um dado divulgado pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) em junho deste ano sobre o número de chamados feitos via 190. De acordo com o órgão, o maior número de ocorrências registradas em 2023 na capital e na região metropolitana de São Paulo se referia a perturbação de sossego: foram atendidos 727 mil chamados do tipo, o que representa 24,7% de todas as demandas.

Em segundo lugar, aparecem as discussões em geral (367 mil chamados), seguidas de averiguação de atitude suspeita (311 mil chamados), violência doméstica (215 mil chamados) e furtos (137 mil chamados).

O caminho da checagem

A entrevista da candidata ao Roda Viva foi transcrita ao vivo com a ajuda do Escriba, ferramenta de transcrição automática desenvolvida pelo Aos Fatos. Durante o programa, as declarações que continham informações verificáveis foram distribuídas aos repórteres, que produziram as checagens com a ajuda de editores. Os dados foram apurados com base em documentos, pesquisas, levantamentos de órgãos oficiais e reportagens publicadas na imprensa.

Ao fim do processo, na manhã desta terça-feira (20), procuramos a assessoria de imprensa da candidata via email e abrimos espaço para que as checagens feitas pela equipe fossem comentadas.


Esta checagem foi atualizada às 16h25 do dia 20.ago.2024 para acrescentar o outro lado da candidata (veja a íntegra da nota aqui). Também foi incluída a informação de que Amaral é co-autora do Marco Legal das Startups.

Referências

  1. ICE
  2. Google Trends (1 e 2)
  3. O Globo (1 e 2)
  4. SP Obras
  5. Planalto
  6. Farol Antirracista
  7. Secretaria Municipal de Educação de São Paulo
  8. Prefeitura de São Paulo (1, 2, 3 e 4)
  9. Câmara dos Deputados (1, 2, 3, 4, 5 e 6)
  10. Metrópoles (1, 2 e 3)
  11. CNN Brasil
  12. UOL (1 e 2)
  13. MEC
  14. Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

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