Retratação em estudo sobre a hidroxicloroquina não atesta eficácia da droga contra a Covid-19

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O fato de cientistas terem feito uma retratação no ano passado por falhas em um estudo observacional que não apontou eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19 não quer dizer que a droga funcione para tratar a infecção, como alegam postagens nas redes sociais (veja aqui). A pesquisa foi questionada pela comunidade científica por problemas metodológicos, como a falta de informações sobre a origem dos pacientes analisados e inconsistências em números apresentados. Entretanto, estudos mais robustos publicados após esse episódio também confirmaram a ineficácia do remédio contra a doença.

A peça de desinformação reunia ao menos 9.700 compartilhamentos nesta quinta-feira (28) e foi marcada com o selo DISTORCIDO na ferramenta de verificação do Facebook (saiba como funciona).


Peraí, na boa, DESCULPAS??? Quantas pessoas morreram do v1rus sh1nê1s POR TEREM ACREDITADO que a Hidroxicloroquina NÃO FUNCIONAVA contra o vírus??? Quantas pessoas morreram POR ACREDITAREM na OMS, em médicos, artistas, políticos, "especialistas", blogueiros, "jornalistas", TV, rádio, TODOS ESSES QUE DISSERAM QUE A HIDROXICLOROQUINA NÃO FUNCIONAVA E FAZIA MAL? Quem pagará PELA MORTE DESSAS PESSOAS? QUEM É MESMO O GENOCIDA???

Não confirma a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19 uma retratação publicada por cientistas na revista The Lancet no ano passado após terem sido apontadas falhas em um estudo observacional que concluiu que a droga não teria efeito para tratar a doença. Pesquisas mais robustas divulgadas após a invalidação desta análise também confirmaram a ineficácia do medicamento.

O estudo citado no recorte de jornal divulgado pelas postagens foi publicado na The Lancet em maio do ano passado e foi guiado por dados de 96.032 pacientes internados entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020. A análise comparava a situação dos que haviam sido tratados com cloroquina ou hidroxicloroquina com os não medicados e concluía que o uso dos medicamentos não influenciou no estado de saúde dos enfermos.

Após a publicação, a comunidade científica observou inconsistências no estudo que geraram questionamentos sobre sua confiabilidade. Não havia, por exemplo, informações sobre quais países ou hospitais tinham fornecido os dados e havia diferença entre o número de infectados citados na pesquisa e os dados oficiais de algumas regiões.

A revisão da pesquisa exigia uma nova análise dos dados por especialistas independentes, mas a empresa que havia fornecido a base de dados, a Surgisphere, não concordou, alegando que o acesso às informações violaria acordos de confidencialidade com os clientes. Sem a possibilidade de revisão, o estudo foi invalidado e retirado da revista científica no início de junho de 2020. Na retratação, os cientistas afirmaram que não poderiam assegurar a veracidade dos resultados originais.

Evidências. Apesar deste episódio, outros estudos mais robustos, conduzidos por diferentes grupos e revisados por pares, não tiveram o mesmo problema e concluíram que a cloroquina e hidroxicloroquina não são eficazes para tratar a Covid-19.

Ainda em junho do ano passado, a revista Science noticiou que três grandes pesquisas clínicas, randomizadas e controladas (veja aqui quais são os tipos de estudos científicos) não haviam mostrado benefícios dos medicamentos em pacientes gravemente doentes ou em pessoas expostas ao Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19.

Um deles era o do Recovery, maior ensaio clínico do Reino Unido, que fez testes em um grupo de 1.542 pacientes internados com Covid-19 e não encontrou benefícios da droga na redução da mortalidade. A última publicação feita pelo Recovery, em outubro, manteve a avaliação de ineficácia da droga para tratar a Covid-19.

O segundo estudo citado pela Science era da Universidade de Minnesota, nos EUA, que verificou o potencial de prevenção da hidroxicloroquina. Nele, 821 voluntários que tiveram contato próximo com infectados de Covid-19 no país e no Canadá receberam o medicamento ou placebo. A conclusão, publicada no The New England Journal of Medicine, foi que os participantes não ficaram protegidos da doença. Em outubro, outra publicação da equipe mostrou ineficácia do chamado "tratamento precoce".

Há ainda um estudo conduzido por várias instituições em Barcelona, na Espanha, que avaliou 2.300 pessoas expostas ao vírus com risco de contaminação e não encontrou diferença significativa entre o estado de saúde do grupo que tomou hidroxicloroquina e do que tomou o placebo. Em julho, esse estudo também mostrou que a hidroxicloroquina não trouxe benefícios quando ministrada a pacientes com quadro leve da Covid-19.

Outros estudos. Por não ter apresentado redução na mortalidade de pacientes hospitalizados, a hidroxicloroquina também foi retirada em junho do ano passado do Solidarity Trial, programa de pesquisas de remédios que possam agir contra Covid-19 que a OMS (Organização Mundial da Saúde) coordena com 21 países.

Em novembro, um ensaio clínico do NHI (National Institutes of Health ou Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos) concluiu que a hidroxicloroquina não havia trazido nenhum benefício clínico aos hospitalizados.

Hoje, o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina contra a Covid-19 não é recomendado pela IDSA (Infectious Diseases Society of America ou Sociedade de Doenças Infecciosas da América, nos Estados Unidos) nem pela SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), associações que reúnem infectologistas. No Brasil, tanto a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) quanto o CNS (Conselho Nacional de Saúde) desaconselham o uso.

Mais erros. A pesquisa publicada na The Lancet não foi a única sobre cloroquina a apresentar problemas. Em março de 2020, o médico e microbiologista Didier Raoult, diretor do Institut hospitalo-universitaire (IHU) Méditerranée Infection, na França, fez um ensaio clínico com 42 pacientes e propagou que a hidroxicloroquina reduzia a mortalidade causada pela Covid-19. À época, a OMS e outros cientistas ressaltaram que os estudos da equipe de Raoult não haviam sido conduzidos de acordo com os protocolos científicos padrão.

Em setembro, a SPILF (Sociedade de Patologia Infecciosa de Língua Francesa) denunciou o médico por promoção indevida do medicamento. No dia 4 de janeiro, Raoult e sua equipe publicaram no NCBI (National Center for Biotechnology ou Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia) uma carta na qual admitiam que o medicamento não havia reduzido a mortalidade.


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