O Aos Fatos foi incluído na lista de alvos monitorados pela chamada “Abin Paralela” — esquema que usava a estrutura da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para espionar pessoas e organizações consideradas adversárias do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A informação consta do relatório final da PF (Polícia Federal) sobre a organização, que apontou Bolsonaro como “principal destinatário” do resultado das ações clandestinas e indiciou uma série de pessoas por suposto envolvimento no esquema, entre elas o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Segundo a investigação, as ações “demonstram o desvio de finalidade
que corrobora a estrutura e o objetivo da organização criminosa” ao monitorar e expôr organizações e indivíduos.
O documento foi tornado público nesta quarta-feira (18), após a retirada do sigilo pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O inquérito será agora encaminhado à PGR (Procuradoria-Geral da República), que vai avaliar se denuncia os indiciados, arquiva ou pede mais investigações à PF.
O relatório lista mais de 200 ações de monitoramento irregulares efetuadas pela organização clandestina, contra dezenas de alvos. Além de jornalistas, a relação inclui políticos — tanto opositores como aliados de Bolsonaro —, ministros do STF e servidores, além de pessoas comuns, como ativistas, caminhoneiros, influenciadores e humoristas.
Aos Fatos foi citado ao lado da Lupa como alvo de pedidos de investigação por agentes da “Abin Paralela”, que consideravam os veículos “críticos” ao ex-presidente. Segundo a PF, foi feito um levantamento e elaborado um dossiê contra as organizações com o objetivo de publicar em um jornal e divulgá-las nas lives do ex-presidente. O relatório não dá detalhes sobre como esses monitoramentos aconteceram.
“Isso confirma que o Aos Fatos era visto como um opositor político, não como uma organização de checagem, não como jornalismo”, avalia Christiano Mourão, advogado da empresa, que considera que o documento mostra que “havia uma preparação para perseguir os jornalistas integrantes do Aos Fatos”.
Mourão classifica o episódio como um “ataque à liberdade de imprensa e, com isso, um ataque à Constituição” e afirma que está estudando o inquérito para entender como ele afeta o Aos Fatos e quais ações jurídicas tomar.