Relator da anistia, Paulinho da Força é alvo de pressão bolsonarista nas redes

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Após ser escolhido relator do PL da Anistia, que teve a urgência aprovada pela Câmara dos Deputados na última quarta-feira (17), o deputado federal Paulinho da Força Sindical (Solidariedade-SP) se tornou alvo de uma campanha de pressão nas redes conduzida por bolsonaristas.

Apenas três publicações feitas pelo parlamentar no Instagram na quinta-feira (18) — dia em que foi oficializado no posto — receberam 6.403 comentários. O número é sete vezes maior do que a soma de todos os comentários em posts do seu perfil no mês de agosto, de acordo com levantamento do Aos Fatos.

Há, inclusive, indícios de que o alto volume de engajamento seja resultado de uma ação coordenada:

  • Mauro Rosa, assessor parlamentar do deputado estadual Alan Lopes (PL-RJ), soma 124 mil seguidores em seu perfil no Instagram e publicou um vídeo pedindo para usuários pressionarem Paulinho da Força pela anistia “ampla, geral e irrestrita”;
  • A orientação era não só escrever comentários no Instagram do deputado, mas também enviar mensagens diretas na rede social e para o seu número de WhatsApp;
  • Outro indício de coordenação é a repetição das mesmas palavras de ordem — “anistia ampla, geral e irrestrita” — em milhares de comentários.
A imagem mostra uma publicação do Instagram. À esquerda está o vídeo, que mostra a parte superior do rosto de uma pessoa (branca e com cabelos grisalhos) ao fundo de uma sala, e sobre essa imagem há um grande sobreposto mostrando prints dos perfis do deputado Paulinho da Força em diversas redes sociais, incluindo o número do contato no WhatsApp. À direita, está o texto em fundo escuro com texto em letras brancas, que diz: 'É hora de inf3rn1zar a vida do Paulinho da Força, o relator do PL da Anistia! Vamos com tudo pra c1m4 dele, pessoal. Vamos lotar o WhatsApp, o Instagram, o Facebook dele com a expressão Ant1t1a já!!! #anistiajá'.
Assessor parlamentar pede que usuários pressionem Paulinho da Força nas redes sociais pela anistia dos envolvidos na trama golpista (Reprodução/Instagram)

A enxurrada de comentários no perfil do parlamentar começou ainda no dia 17, quando seu nome passou a circular como o possível relator do PL da Anistia, após o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), colocar a urgência do texto para votação.

Com a confirmação, as interações em seu perfil dispararam. Se em agosto foram registrados 867 comentários em seus posts, entre os dias 1º e 18 de setembro foram 7.319.

Em geral, os comentários seguem um padrão: a maioria pressiona o parlamentar por uma anistia “ampla, geral e irrestrita”. Esta vem sendo a principal bandeira de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pela trama golpista, e foi o mote para a convocação de atos no 7 de Setembro, como mostrou o Aos Fatos.

A imagem mostra uma captura de tela de uma seção de comentários do Instagram. Vários perfis (com nomes e fotos parcialmente desfocados) repetem frases semelhantes, destacando a expressão 'Ampla, geral e irrestrita!'.
Comentários nas publicações de Paulinho da Força pressionam por ‘anistia ampla, geral e irrestrita’ (Reprodução/Instagram)

A pressão bolsonarista é motivada pelo posicionamento de Paulinho da Força que, ao ser escolhido, já disse que “uma anistia geral e irrestrita é impossível” e rebatizou a proposta de “PL da Dosimetria” — ao invés de perdão aos condenados, ele defende a redução das penas.

PL da Dosimetria

Print de publicações nas redes com textos que criticam os deputados Paulinho da Força (Solidariedade-SP) — homem branco, de cabelos escuros, que aparece ao centro das imagens vestindo uma camisa laranja e uma jaqueta preta —, Aécio Neves (PSDB-MG) — homem branco, de cabelos grisalhos, que usa uma camisa azul e aparece do lado esquerdo das imagens — e o ex-presidente Michel Temer (MDB) — homem branco, de cabelos grisalhos, que usa uma camisa preta e está do lado direito das imagens. A primeira imagem tem a frase: ‘os abutres, vampiros e múmias estão afoitos. Enterraram a anistia! Para agirem contra a direita e o Brasil’. A segunda imagem tem a frase: ‘Alô, Trump! Paulinho da Força se une a Temer, Aécio e muda o nome do PL da anistia para PL da dosimetria’. E a terceira imagem diz: ‘Anistia significa APAGAR o crime. Eles estão nomeando a decisão por eles tomada de: ‘dosimetria’. Na verdade, o que eles querem é a COMUTAÇÃO, que é o tempo de prisão reduzido após a condenação. O combinado é ANISTIA GERAL E IRRESTRITA, fora isso, é balela!’. 
Publicações nas redes mostram o descontentamento de bolsonaristas com a escolha de Paulinho da Força como relator (Reprodução/Instagram)

Levantamento feito pelo Aos Fatos também identificou dezenas de publicações nas redes — que, juntas, alcançaram mais de 70 mil curtidas e compartilhamentos — que criticam a escolha do deputado do Solidariedade como relator e sua decisão de adotar o “PL da Dosimetria”.

A decisão de nomear Paulinho — que tem boa interlocução com ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e é alinhado à esquerda, apesar de fazer oposição ao governo — tem sido classificada por bolsonaristas como uma estratégia do presidente da Câmara para enterrar a pauta.

O encontro de Paulinho da Força com o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) na casa do ex-presidente Michel Temer (MDB), em São Paulo, para tratar sobre o tema também foi alvo de críticas.

Prints de comentários críticos em publicações que criticam a escolha do deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP) como relator do projeto de lei da anistia aos presos pelo 8 de Janeiro. 
Comentários reprovam a escolha de Paulinho da Força como relator (Reprodução/Instagram)

Fora das redes, as declarações de Paulinho da Força também têm deixado a oposição descontente. O líder do PL na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), já afirmou que o partido rejeita qualquer ideia de substituir a “anistia ampla, geral e irrestrita” por uma redução de pena.

O relator tem defendido um acordo que não inclua o perdão de crimes, mas sim uma redução de penas que deve, inclusive, beneficiar Jair Bolsonaro. O objetivo é não entrar em conflito com o STF.

A ideia de Paulinho da Força é votar um texto alternativo à anistia já na próxima quarta-feira (24) para superar a discussão do tema o mais rápido possível.

Outro lado. O Aos Fatos entrou em contato com o gabinete do deputado estadual Alan Lopes (PL-RJ) e com o assessor parlamentar Mauro Rosa para comentarem sobre o tema. Também procuramos o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP) para comentar a pressão da qual vem sendo alvo.

Em nota, Mauro Rosa afirmou que não se trata de uma ação coordenada, mas de uma "sugestão feita por um professor respeitado e ouvido por seus seguidores". Ele também alegou que considera o feito como "a única forma legitimamente democrática existente para deixar claro para o relator que a parcela conservadora do Brasil clama pela anistia ampla, geral e irrestrita".

O caminho da apuração

Aos Fatos agrupou manualmente os dados das publicações do deputado federal Paulinho da Força e utilizou o Flourish para produzir uma visualização gráfica. Também realizamos uma busca por publicações feitas nas redes em geral sobre o parlamentar e o PL da Dosimetria.

Por fim, a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do político, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. Também acionamos o gabinete do deputado estadual Alan Lopes e com o assessor parlamentar Mauro Rosa, que ainda não responderam ao nosso contato.

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