🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Recuo do mar em Maceió é natural e não é indício de tsunami

Por Marco Faustino

2 de março de 2023, 15h47

Vídeos que mostram o mar recuando em uma praia de Maceió têm sido compartilhados com a informação falsa de que isso representaria risco de tsunami no Brasil. Na verdade, o fenômeno que aparece nas imagens é natural e recorrente e também ocorre em outros lugares do mundo, como no mar Mediterrâneo, sem risco de tsunami. Além disso, um vídeo que mostra a ressaca na praia do Forte em Cabo Frio, em 2019, tem sido difundido como um registro atual de onda gigante, o que não ocorreu.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 5 milhões de visualizações no Tik Tok e 35 mil compartilhamentos no Facebook nesta quinta-feira (2) e circulam também no Telegram e WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance (fale com a Fátima).


Selo falso

Isso é um sinal que vem um tsunami

Vídeos difundidos nas redes que mostram a maré baixa na praia Ponta Verde, em Maceió, têm sido usados para alegar que o mar recuou de forma anormal e que isso seria um indício de tsunami, o que é falso. A prefeitura da capital alagoana, o IMA (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas) e um especialista consultado pelo Aos Fatos afirmam que o recuo no litoral alagoano é normal, recorrente e não significa que haverá tsunami.

Em vídeo enviado pelo IMA ao Aos Fatos, o coordenador de Gerenciamento Costeiro do instituto, Ricardo César, explicou que as marés altas e baixas são mais intensas em duas das quatro fases da lua: cheia e nova. Durante o Carnaval deste ano, houve a ocorrência da lua nova, o que fez com que a maré ficasse muito baixa, como foi vista nos vídeos difundidos pelas peças checadas. A explicação também foi publicada no perfil do IMA no Instagram.

O pesquisador Henrique Ravi, doutor em geociência e líder do Grupo de Estudos Integrados ao Gerenciamento Costeiro, explicou ao site Maceió sem Fake, mantido pela prefeitura local, que o movimento das marés ocorre duas vezes por dia, com intervalos aproximados de seis horas, e a diferença é de no máximo dois metros de altura. Há registros, inclusive, que mostram a maré baixa em Ponta Verde desde a década de 1950.

A variação das marés é maior nas regiões tropicais. No Brasil, o fenômeno é mais intenso nas praias do Norte e do Nordeste em razão da proximidade da Linha do Equador. A maior variação de maré no país ocorre no Maranhão, cuja diferença pode chegar a oito metros. Contribui também para essa amplitude o formato do litoral maranhense.

Ravi afirmou que não há estudos ou evidências científicas que indiquem a possível ocorrência de tsunamis na costa brasileira. O último relato do Brasil ter sofrido reflexo de um tsunami é de 1755, quando houve o maior terremoto sentido na Europa e que atingiu fortemente Portugal. O risco de um tsunami atingir o Brasil foi descartado pelo geólogo Sérgio Sacani em entrevista ao Aos Fatos.

“Estamos no meio de uma placa tectônica, a placa sul-americana. Exceto que seja um evento de destruição global, não teremos um tsunami. Em 2020, o pessoal chegou a falar sobre a erupção em La Palma que poderia destruir a ilha e isso gerar um tsunami que iria atingir o Recife. Na época eu tive que desmentir isso, pois gerou muita confusão por lá”, disse Sacani.

O oceanógrafo Gabriel Le Campion lembrou que o avanço de um tsunami levaria apenas poucos minutos para ocorrer após um rápido recuo da água do mar, o que não aconteceu em Maceió. “A energia do tsunami não forma onda no oceano, mas propaga-se como uma vibração, que viaja entre 650 a 850 km/h, ou seja, em no máximo quatro minutos atingiria a costa”, calculou.

Mediterrâneo. O mar também recuou em países como Turquia, Egito, Grécia e Líbano, por uma combinação de fatores que envolveram desde a variação natural das marés até um sistema atmosférico de alta pressão. O fenômeno gerou boatos de um eventual tsunami, que foi descartado por especialistas.

“Durante os últimos 14 dias [desde 7 de fevereiro] foi observado um padrão contínuo de altos valores de pressão atmosférica sobre o Mediterrâneo Oriental, o que resultou em uma queda do nível do mar em várias áreas da bacia”, disseram os cientistas Leonidas Perivoliotis e Dimitris Sakellariou, cientistas do Centro Helênico de Pesquisa Marinha, na Grécia, em reportagem publicada pelo site NewArab, em 23 de fevereiro.

Imagens mostram o recuo do mar em áreas do Mar Mediterrâneo
Mediterrâneo. Captura de tela do site Middle East Monitor mostram imagens do recuo do mar em áreas do Mar Mediterrâneo

Ambos afirmaram que o recuo não era um sinal de terremoto ou tsunami iminente. Na época, publicações nas redes sociais passaram a alegar falsamente que o recuo tinha relação com o terremoto que matou mais de 50 mil pessoas na Turquia em 6 de fevereiro.

Masdouq Al-Taj, professor de Geologia Estrutural e Sismologia da Universidade Hachemita da Jordânia, explicou, em entrevista ao Arab Weather, que um outro tremor no sul da Turquia, em 20 de fevereiro, colaborou para recuar águas costeiras da região. Segundo ele, esse tremor “foi causado por uma fenda que se move lateralmente com um movimento vertical para baixo”. O recuo do mar, no entanto, já estava ocorrendo gradualmente antes do terremoto, ressalvou Amr Zakaria, chefe do Instituto Egípcio de Ciências Marinhas.

Cabo Frio. Um vídeo que mostra uma onda atingindo banhistas na praia do Forte, em Cabo Frio (RJ), também tem sido difundido como atual e uma prova de que uma onda gigante atingiu o litoral fluminense, o que é falso. O registro é de 2019 e mostra o efeito de uma ressaca marinha, outro fenômeno natural.

O vídeo circula fora de contexto desde 2021 na plataforma de vídeos Kwai, na qual acumula mais de 3,7 milhões de visualizações.

A peça desinformativa sobre Maceió também foi checada pela Agência Tatu.

Referências:

1. Maceió contra o Fake
2. História de Alagoas
3. G1 (Fontes 1 e 2)
3. BBC Brasil
4. The New Arab
5. Climatempo
6. Middle East Monitor
7. Arab Weather
8. Globoplay
9. Agência Tatu

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