O número de manifestantes que compareceram à avenida Paulista para o ato convocado por Jair Bolsonaro (PL), no domingo (25), se tornou motivo de disputa e desinformação nas redes sociais após duas estimativas discrepantes serem divulgadas por instituições paulistas.
O primeiro número foi divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) — ex-ministro e aliado de Bolsonaro que compareceu ao evento —, sem detalhamento da metodologia usada. O segundo cálculo, feito por pesquisadores da USP, parte de fotos aéreas e utiliza software especializado que conta cabeça por cabeça, com margem de erro estabelecida.
- Cerca de 185 mil pessoas compareceram ao ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na avenida Paulista no último domingo (25), segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP;
- A estimativa divulgada pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) do governo paulista, no entanto, é quatro vezes maior: 750 mil pessoas;
- Sem mencionar a metodologia adotada, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), que é aliado de Bolsonaro, reafirmou em publicação no X (ex-Twitter) o mesmo público divulgado pela pasta;
- Questionada pela Folha de S.Paulo se a Polícia Militar teria sido a responsável pela contagem, a SSP negou de início, mas depois enviou nota em que confirma que o cálculo teria sido feito pela corporação;
- Não houve nenhum comentário sobre uma possível mudança de procedimento, já que não é usual que a PM faça estimativas de público. Também não foi mencionada a metodologia adotada;
- Já a equipe ligada à USP explica a metodologia: os números foram calculados com o uso de 43 fotos aéreas tiradas entre 15h e 17h. A partir das imagens, um software treinado para identificar cabeças estimou um público de 185 mil pessoas;
- De acordo com os pesquisadores, a metodologia tem um erro percentual médio de 12% para mais ou para menos. Logo, segundo os cálculos, o número máximo dentro da faixa de erro seria de 207,2 mil pessoas.
- O Aos Fatos procurou a SSP-SP para questionar qual foi o órgão responsável pela estimativa divulgada pelo secretário e qual a metodologia usada, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
DISPUTA
A diferença significativa nas estimativas gerou uma disputa de versões nas redes: enquanto bolsonaristas usaram os números divulgados pelo governo de São Paulo para afirmar que a USP estaria mancomunada com a esquerda, críticos ao ex-presidente acusaram a SSP de maquiar os dados do ato para favorecer aliados do governador Tarcísio de Freitas.
“Quem está mentindo?”, questionou um usuário em publicação no Instagram que compartilhava duas manchetes: uma com a estimativa da PM e a outra com o cálculo da USP. Em outro post, um apoiador de Bolsonaro coloca o print de um texto do jornal O Globo que noticia a conta da universidade ao lado de uma lata de lixo.
Algumas publicações bolsonaristas também se aproveitam de um erro do Brasil 247 para disseminar desinformação. No último domingo (25), o portal publicou a informação de que pesquisadores da USP teriam estimado um público de 32.691 pessoas na Paulista. O cálculo, no entanto, era referente à manifestação ocorrida em 7 de setembro de 2022. Apesar de o texto ter sido posteriormente apagado pelo site, o print da manchete segue circulando nas redes.
Apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também compartilharam informações falsas sobre o número de manifestantes para sugerir que o ato do último domingo teria sido um fracasso. Um dos argumentos é o de que a avenida Paulista teria ficado muito mais cheia durante a vitória de Lula no segundo turno das eleições de 2022.
A própria USP, no entanto, desmente essa alegação em seu relatório: em 30 de outubro de 2022, cerca de 58 mil pessoas compareceram à avenida. O público daquele momento, portanto, era um terço do que o registrado na manifestação do último domingo.
“O ato de ontem foi a maior manifestação que a gente já mediu nos dois últimos anos, desde que a gente mede manifestações políticas na cidade de São Paulo. A manifestação foi enorme, não precisaria nem ter contado”, afirmou o professor de Gestão de Políticas Públicas da USP Pablo Ortellado ao UOL nesta segunda-feira (26).