🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Publicações falseiam dados para sugerir que mortes por Covid-19 no Brasil seriam menores que 25 mil

Por Luiz Fernando Menezes

12 de agosto de 2020, 12h55

Não é verdade que a diferença de óbitos registrados por doenças com sintomas semelhantes à Covid-19 entre 2019 e 2020 prove que os dados de mortes pela infecção estão superestimados (veja aqui). O próprio Ministério da Saúde afirma que, até a última segunda-feira (10), o país acumulava mais de 101 mil mortes pela doença. Além disso, segundo os números disponíveis no Portal da Transparência do Registro Civil, que estão em atualização, houve um aumento de 57 mil mortes por causas cardiovasculares e respiratórias entre março e julho de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019.

O tweet que traz a desinformação foi publicado por um perfil pessoal no dia 9 de agosto e passou a ser compartilhado no Facebook um dia depois. Publicações semelhantes já acumulavam mais de 1.700 compartilhamentos até a tarde desta quarta-feira (12). Todas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (entenda como funciona).


FALSO

Uma suposta diferença entre o número de óbitos registrados em 2019 e 2020 por doenças como pneumonia, septicemia e AVC (acidente vascular cerebral) tem sido compartilhada nas redes como se provasse que o número de mortes por Covid-19 no Brasil estaria sendo supernotificado. De acordo com as publicações, a queda desses tipos de registro estaria atrelada ao fato de os óbitos estarem sendo computados como decorrentes do novo coronavírus. A peça, no entanto, comete diversas distorções para validar seu argumento.

Por mais que as publicações não citem a fonte dos dados, a única base que agrega os números citados é o Portal da Transparência do Registro Civil. Conforme já explicado por Aos Fatos em outras ocasiões, essa plataforma possui algumas limitações: o prazo legal para que os óbitos sejam registrados é de até 14 dias a partir da data da morte e esse tempo pode ser ainda maior em cidades com menos estrutura.

Ao verificar os dados do Registro Civil entre os dias 12 de março — data da primeira morte de Covid-19 no país — e 28 de julho (14 dias atrás), é possível perceber que o argumento da peça não se sustenta. Enquanto 2020 registrou 514.638 mortes, 2019 totalizou 456.780 óbitos no mesmo período. Isso significa que 2020 teve 57.858 mortes a mais do que no ano passado ao longo desses meses.

Como pode ser conferido acima, a base de dados também apresenta o número de mortos por Covid-19. Entre 12 de março e 28 de julho, o Registro Civil aponta que 86.959 pessoas morreram em decorrência da infecção do novo coronavírus.

Outro erro da peça é citar apenas cinco possíveis causas de morte — pneumonia, septicemia, insuficiência respiratória, AVC e demais óbitos —, quando o Registro Civil ainda contabiliza mortes por causa indeterminada, infarto, SRAG (síndrome respiratória aguda grave) e causas cardiovasculares inespecíficas.

As postagens ainda vão contra os números divulgados pelo próprio governo federal em seu Painel Coronavírus. No final da tarde da última segunda-feira (10), o Ministério da Saúde divulgou que o país acumulava 101.752 óbitos confirmados pela infecção.

Em reportagem anterior, Aos Fatos consultou o Ministério da Saúde e secretarias de saúde estaduais para explicar como são feitas as notificações de casos de infecção e de morte por Covid-19. Em resumo, a confirmação de morte pela infecção e a respectiva inclusão nas estatísticas dependem do resultado de teste laboratorial que atesta a presença do vírus.

Referências:

1. Aos Fatos (Fontes 1 e 2)
2. Registro Civil
3. G1
4. Ministério da Saúde


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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