Antonio Cruz/ABr

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2016. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

PSDB recua em gastos sociais, mas defende ampliação de programas que PMDB rechaça

Por Tai Nalon

4 de maio de 2016, 09h21

Para justificar seu apoio a um eventual governo Michel Temer (PMDB-SP), o PSDB entregou nesta terça-feira (3) um documento com 15 pontos sob os quais está condicionado o apoio da legenda ao peemedebista. A carta atende por "Princípios e valores para um novo Brasil" e, embora repita alguns argumentos que embasaram as diretrizes de governo protocoladas em 2014 pelo então candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB-MG) quando do registro de sua chapa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Aos Fatoschecou que o documento também reivindica a ampliação de políticas sociais que o PMDB pretende reavaliar.

A proposta tucana tem a intenção de dialogar com o programa peemedebista "Uma ponte para o futuro", anunciado em outubro de 2015 e que, conforme Aos Fatos já mostrou, traz ideias conflitantes com aquelas defendidas pelo PMDB em 2010 e em 2014, quando foi vencedor na chapa presidencial encabeçada por Dilma Rousseff.

Curiosamente, as atuais propostas tucanas trazem mais pontos em comum na área social com projetos defendidos e instituídos nos governos petistas de Lula e Dilma do que com as próprias diretrizes defendidas pelo alto escalão peemedebista. Exemplo disso é que, enquanto o PMDB não se define sobre a readequação de programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, o PSDB estabelece como prioridade sua ampliação, ao lado do Pronatec, de ensino técnico, e do Fies e do ProUni, de financiamento estudantil.

No entanto, compensações também foram feitas. Enquanto que, em 2014, o PSDB defendia o cumprimento da meta de 10% do PIB para a educação, estabelecida por lei no Plano Nacional de Educação, nada disso aparece no atual documento. Um eventual governo Temer tem, dentre suas principais diretrizes, a desvinculação de gastos obrigatórios de saúde e educação do Orçamento.

Além disso, enquanto que, em 2014, o termo "privatização" não apareceu em momento algum na proposta tucana, neste ano, fundamenta propostas de aumento da produtividade que constam do documento entregue ao PMDB. O tema "corrupção" também ganhou atenção em 2016, diferentemente do ano retrasado.

Para chegar a essa conclusão, Aos Fatos tomou por base alguns dos temas recorrentes nas sugestões do PSDB. A partir daí, rememorou as diretrizes da campanha de 2014, distribuídas num documento de 76 páginas. Veja, abaixo, ponto a ponto, as diferenças e as semelhanças entre o PSDB de 2014 e o de 2016.


CORRUPÇÃO

2014

Citada apenas uma vez, dentro de um capítulo reservado à política para as mulheres: “Fomento aos direitos de cidadania das meninas, mulheres e idosas, incentivando a criação de comitês comunitários municipais de mulheres comprometidas com o aperfeiçoamento da democracia, com a promoção da ética, da cidadania, de ações sociais e de combate à corrupção e de abusos econômicos.”

2016

É o primeiro parágrafo da carta, em que diz que “É imperativo que o novo governo assegure expressamente que todas as investigações em curso — em especial as empreendidas no âmbito da Operação Lava Jato com foco no combate à corrupção — terão continuidade, sem serem submetidas a constrangimentos de quaisquer naturezas”.


REFORMA POLÍTICA

2014

O documento limita-se a dizer que um governo Aécio Neves promoveria a “reforma política, com o propósito de tornar mais confiável e transparente a atuação política”, “logo no começo do novo governo”.

2016

O PSDB agora entra em detalhes: defende a “realização de uma imediata reforma política” cujas prioridades seriam “a imposição de cláusula de desempenho eleitoral mínimo para o funcionamento dos partidos políticos, além da adoção do voto distrital misto e do fim das coligações proporcionais”. Também defende discutir a adoção do parlamentarismo.


TAMANHO DO ESTADO

2014

O assunto mereceu um capítulo à parte para o tema. Ali, o PSDB diz defender o “incentivo ao aumento do grau de profissionalização da administração pública, prestigiando o mérito no acesso aos cargos públicos de direção e assessoramento, por meio de processos seletivos transparentes, impessoais e adequados aos respectivos perfis e atribuições”.

2016

“O novo governo deve estar comprometido com o combate incessante ao fisiologismo e à ocupação do Estado por pessoas sem critérios de competência. Ministérios e cargos comissionados devem ser expressivamente reduzidos. Por outro lado, as carreiras típicas de Estado e os gestores públicos devem ser valorizados”, dizem os tucanos ao PMDB.


PROGRAMAS SOCIAIS

2014

As diretrizes do programa de Aécio defendiam a “transformação do Bolsa Família em política de Estado, incorporando-o à Lei Orgânica da Assistência Social”. Além disso, citava o Pronatec outras três vezes, dentre elas defendendo o “aprimoramento do modelo do Pronatec, promovendo melhor articulação com as vocações econômicas e as demandas locais”. Também propunha a “manutenção e aprimoramento do Prouni e do Fies, de modo a operarem como mecanismos de estímulo à qualificação” e do Minha Casa, Minha Vida.

2016

O PSDB prega que “deve estar garantida a manutenção e a ampliação dos programas sociais que se direcionam para os segmentos mais vulneráveis e de menor renda da população, em especial o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec, o Fies e o Prouni”.


DESONERAÇÕES

2014

Queria “desoneração de PIS e Cofins em relação a empresas prestadoras de serviço público de saneamento para investimentos no setor”. Também defendia que o crédito ao setor privado deveria ser incluído no cálculo dos gastos públicos.

2016

“A prioridade deve ser dada a projetos de elevado retorno social, em especial projetos com maior capacidade de geração de empregos nas seguintes áreas: saúde, educação, saneamento, segurança, mobilidade urbana e tecnologia”, diz agora o PSDB.


RESPONSABILIDADE FISCAL

2014

O termo não é citado nenhuma vez nas 76 páginas de propostas, ficando restrito à política de desonerações.

2016

O partido propõe ao aliado “apresentar, em no máximo 30 dias, um conjunto de medidas para a recuperação do equilíbrio das contas públicas que sinalize o controle do crescimento da dívida pública até 2018”.


INFLAÇÃO

2014

No capítulo de política macroeconômica, o PSDB cita duas vezes inflação. Diz prezar por um Banco Central independente “que irá levar a taxa de inflação à meta de 4,5% ao ano”. Segundo as diretrizes, uma vez atingida, “a meta será reduzida gradualmente, assim como a banda de flutuação”.

2016

“A inflação deve ser tratada com tolerância zero, para o que é fundamental o auxílio da política fiscal (controle de gastos públicos), de forma a reduzir o papel das taxas de juros no controle da inflação”, diz o PSDB.


SISTEMA TRIBUTÁRIO

2014

O documento entregue ao TSE dedica um breve capítulo à reforma tributária. Diz defender a “simplificação do sistema tributário”, “objetivando revisar as competências tributárias, unificando impostos e contribuições que incidam sobre a mesma base”. À época, também afirmava querer instituir um cadastro único de pessoas físicas e jurídicas.

2016

Quer a unificação de tributos e a redistribuição mais justa da carga. “O Executivo deve apresentar nos primeiros 60 dias do novo governo uma proposta de simplificação radical da carga tributária e iniciativas para aumentar a progressividade e a justiça tributária na cobrança de impostos.”


PRODUTIVIDADE E INFRAESTRUTURA

2014

“Produtividade” foi uma palavra central no documento da campanha. Aparece 12 vezes, com destaque para a defesa de um reforma tributária que reduza o “custo Brasil” — este citado duas vezes em questões relativas a investimentos externos e desenvolvimento industrial. A palavra “privatização”, entretanto, não é mencionada.

2016

O PSDB prega por uma “agenda de reformas estruturais”, fala em recuperação “por meio de gestão profissional” das agências reguladoras e “aumento significativo do investimento em infraestrutura, baseado num programa consistente de privatizações e concessões”.


SEGURANÇA PÚBLICA

2014

O tema norteava grande parte da agenda social do PSDB de 2014, que propunha, entre outras medidas, reforma da legislação penal, política de prevenção ao consumo de drogas e álcool e treinamento policial.

2016

Limita-se a dizer que “a segurança pública deve ser objeto de trabalho integrado das polícias, de modernização das formas de combate ao crime organizado e de uma política adequada de enfrentamento à questão das drogas”.


EDUCAÇÃO

2014

“Educação” é citada 43 vezes, sob diferentes guarda-chuvas. As principais propostas contemplavam qualificação de professores, aprimoramento do Pronatec, do Fies e do ProUni e, sobretudo, “compromisso com a meta de 10% do PIB em educação, sendo 7% até 2019, como prevê o Plano Nacional de Educação”.

2016

“Uma das primeiras tarefas do novo governo é redefinir as novas bases curriculares, para que realcem a cidadania e efetivamente contemplem saberes que abram portas para crianças e jovens”, diz o PSDB.


SAÚDE

2014

Critica gastos com saúde abaixo do nível dos países que integram a OCDE — 4,1% do PIB, contra média de 7,6% das demais nações. “Se fosse gastar o mesmo percentual do PIB que a média mundial, o gasto público per-capita anual com saúde dos brasileiros passaria de US$ 466 para US$ 621 em 2010. O fortalecimento do SUS será a permanente prioridade do governo na área da saúde”, dizia o documento.

2016

Os tucanos defendem que “o primeiro passo deve ser ampliar a atenção básica com medidas estruturantes, a começar pelo fortalecimento e a expansão do Saúde da Família, com atenção especial a idosos e crianças”.

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