🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Preço do arroz não subiu por causa de demarcação de terra indígena

Por Luiz Fernando Menezes

7 de julho de 2022, 17h13

Não é verdade que o preço do arroz está em alta no Brasil devido à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, como dizem postagens (veja aqui). A produção do estado não tem impacto no mercado nacional — 80% do plantio do grão é proveniente do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, cuja área de cultivo ultrapassa 1 milhão de hectares, enquanto em Roraima a área era de 22,5 mil hectares antes da demarcação. Fatores climáticos, mercado internacional e preço do frete influenciam o valor do arroz.

O vídeo desinformativo circulou nas redes sociais em 2020, mas voltou a ser compartilhado na última semana e acumulava ao menos 4.600 compartilhamentos no Facebook até esta quinta-feira (7).


Selo falso

Vídeo engana ao relacionar demarcação de Raposa Serra do Sol com preço do arroz

São enganosas as publicações que relacionam a alta do preço do arroz à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2009, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em nota enviada ao Aos Fatos, a Abiarroz (Associação Brasileira das Indústrias do Arroz) refutou a relação e explicou que as altas são influenciadas principalmente por fatores climáticos, ofertas mais atrativas no mercado externo e preço do frete.

A terra destinada para a produção de arroz em Roraima em 2022 equivale a 8.628 hectares. Em 2009, antes da demarcação, eram 22,5 mil hectares, segundo o IBGE. Com a demarcação da Raposa Serra do Sol, todos os produtores não-indígenas foram expulsos da região. Essa diminuição da área não representa impacto significativo nos preços do insumo, segundo a Abiarroz: 80% da produção do grão é proveniente dos estados do Rio Grande do Sul (962.781 hectares de cultivo em 2022) e Santa Catarina (148.281 hectares).

Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), entre 2008 e 2009, o Brasil produziu 936 mil toneladas de arroz, sendo que 85 mil (cerca de 9,1% do total) foram cultivadas em Roraima. Na primeira safra após a expulsão dos produtores da terra indígena, o estado produziu, inclusive, um pouco mais do que antes do conflito: foram 87 mil toneladas do grão (cerca de 8,5% do total produzido no país).

Na última safra divulgada, referente ao período entre 2020 e 2021, o estado produziu 90,6 mil toneladas, o que representa 8,7% das 1,04 milhão de toneladas de arroz cultivadas no Brasil.

O recorde de produção do estado foi registrado na safra de 2004/2005, quando foram colhidas 135 mil toneladas de arroz. Naquele momento, Roraima foi responsável por 8,8% da produção total do país, que foi de 1,5 milhão de toneladas.

O vídeo foi gravado em setembro de 2020, quando a saca de 50 quilos de arroz custava em média R$ 105,38, maior preço desde 2018, de acordo com levantamento semanal do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP). Atualmente, o preço médio da saca é de R$ 75,08.

Outro lado. O vídeo desinformativo foi publicado originalmente pelo canal Rural Business. Em resposta enviada ao Aos Fatos, o Rural Business nega que fez a relação entre a alta do arroz e a demarcação e diz que "se tivesse mais incentivo e produção nos estados citados, poderíamos ter um ambiente mais sadio quanto a oferta".

Uma peça de desinformação semelhante circulou nas redes em 2020, quando foi checada pelo Comprova.

Referências:

1. IBGE
2. Terras Indígenas
3. BBC
4. Conab
5. Cepea-USP


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Esta checagem foi atualizada às 12h20 do dia 8 de julho de 2022 para acrescentar o posicionamento do canal Rural Business.

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