🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Fevereiro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Posts tiram dados de contexto ao vincular vacinas a doenças oculares no Reino Unido

Por Marco Faustino

25 de fevereiro de 2021, 19h45

Relatos enviados a uma plataforma da MHRA, a agência reguladora de saúde no Reino Unido, têm sido usados fora de contexto em publicações que afirmam que vacinas contra a Covid-19 já teriam provocado mais de 600 casos de doenças oculares, sendo cinco reportados como cegueira (veja aqui). Segundo a agência, esses relatos não devem ser interpretados como efeitos colaterais comprovados dos imunizantes. Além disso, nenhum caso de cegueira foi reportado nos ensaios clínicos das vacinas aplicadas no país.

O conteúdo distorcido reunia centenas de compartilhamentos no Facebook nesta quinta-feira (25) e foi marcado com o selo DISTORCIDO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona).


Vacinas causam 600 novos casos de doenças oculares e deixam 5 pessoas cegas, de acordo com o Governo do Reino Unido

Um artigo do site ContraFatos! afirma que a plataforma Yellow Cards (Cartões Amarelos), da MHRA (Medicines & Healthcare Products Regulatory Agency), a agência reguladora de saúde do Reino Unido, registrou mais de 600 casos de doenças oculares em pessoas que foram vacinadas contra a Covid-19. Dessas, cinco teriam ficado cegas.

O texto omite, porém, que a Yellow Cards não é uma base de dados oficiais provenientes de casos clínicos comprovados do sistema de saúde britânico, mas sim uma plataforma aberta para onde cidadãos enviam relatos sobre eventuais efeitos adversos de vacinas de maneira espontânea e sem filtros.

“A natureza do relatório significa que os eventos relatados nem sempre são efeitos colaterais comprovados. Alguns eventos podem ter acontecido independentemente da vacinação. Este é particularmente o caso, quando milhões de pessoas são vacinadas, e especialmente quando a maioria das vacinas está sendo administrada a idosos e pessoas com doenças subjacentes”, esclareceu o órgão de saúde em um resumo semanal atualizado em 18 de fevereiro.

O resumo estima que foram aplicadas 7,5 milhões de doses da vacina da Pfizer e 5 milhões de doses da vacina de Oxford até 7 de fevereiro. Para ambos os imunizantes, uma revisão detalhada por parte da MHRA descobriu que a absoluta maioria dos relatos está relacionada a reações no local da injeção (braço dolorido), assim como dor de cabeça, calafrios, fadiga, náusea, febre, tontura, fraqueza, dores musculares e taquicardia. Segundo a agência, esses sintomas tendem a se resolver em um ou dois dias e são comuns a todos os tipos de vacinas.

O mais recente levantamento disponível na plataforma Yellow Cards, referente à vacina da Pfizer, computou 978 relatos enviados por cidadãos acerca de distúrbios oculares, sendo nove de cegueira. Já no relatório do imunizante de Oxford foram 738 casos, sendo treze de cegueira. Porém, a agência de saúde diz que a evidência disponível atualmente não permite estabelecer qualquer relação com a vacinação.

Esses números também divergem dos ensaios clínicos de fase III de ambos os imunizantes (confira aqui e aqui), que têm como objetivo testar eficácia e segurança. Foram reportados dois casos de distúrbios oculares nos grupos que receberam as vacinas (índice menor que 0,1%) em cada um dos ensaios, mas nenhum caso de cegueira.

Além destes imunizantes, o Reino Unido também aprovou a utilização da vacina da Moderna, que também não reportou nenhum distúrbio ocular grave, como a cegueira, em ensaios clínicos de fase III.

Em checagem anterior, o Aos Fatos mostrou que relatos submetidos livremente a uma plataforma do CDC (Center for Disease Control, órgão de saúde do governo americano) semelhante à britânica Yellow Cards estavam sendo utilizados fora de contexto em publicações que alegavam casos de mortes decorrentes da aplicação das vacinas. Como no Reino Unido, os relatos não têm respaldo científico para serem relacionados aos imunizantes.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) concedeu em janeiro a autorização para uso emergencial das vacinas CoronaVac (Sinovac/Butantan) e Oxford/AstraZeneca, desenvolvida no Brasil em parceria com a Fiocruz. Mais de 6 milhões de pessoas já receberam ao menos uma dose desses imunizantes desde 17 de janeiro, segundo dados do Ministério da Saúde.

O órgão considera que os eventos adversos mais frequentes não são graves e estão dentro do esperado, informou a Agência Brasil. “Dor de cabeça, febre, aquela sensação de gripe que muita gente relata pós-vacinação são os eventos mais frequentes. Então, não são eventos graves, são eventos esperados (...) Não existe, até o momento, nenhum sinal de segurança importante para que se desencadeie um processo regulatório ou uma ação regulatória", disse Suzie Gomes, gerente-geral de monitoramento de produtos à agência.

Em 23 de fevereiro, a Anvisa concedeu o registro definitivo à vacina da Pfizer. Durante a apresentação do órgão foi informado que os dados de segurança e eficácia fornecidos pelo fabricante eram robustos, e não foi observada qualquer reação adversa grave que merecesse destaque.

Outro lado. Por e-mail o ContraFatos! disse sustentar as afirmações feitas no artigo, e alegou que os dados são provenientes do próprio relatório do governo. O site enviou um recorte do documento original, mas novamente omitiu que as informações não vêm de uma base de dados oficiais de casos clínicos comprovados pela agência de saúde britânica.

Esta peça de desinformação também foi checada pela Lupa.

Referências:

1. MHRA (Fontes 1, 2 e 3)
2. FDA
3. The Lancet
4. NHS
5. NEJM
6. Aos Fatos
7. Ministério da Saúde
8. Agência Brasil (Fontes 1 e 2)
9. YouTube


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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