Não há registros de que o candidato derrotado a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) tenha questionado o resultado do segundo turno das eleições municipais. As peças com essa alegação manipulam um trecho de uma entrevista em que Boulos diz preparar um processo contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) por tê-lo associado à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Publicações com o vídeo descontextualizado acumulavam 1.100 compartilhamentos no X e 35 mil visualizações no Kwai até a tarde desta terça-feira (29).
Boulos questiona o resultado das eleições de SP
Posts nas redes têm compartilhado um recorte descontextualizado de uma entrevista de Boulos para alegar que o candidato teria questionado o resultado do segundo turno das eleições. No registro original, veiculado às 15h30 do último domingo (27) — antes, portanto, do fim da votação —, o candidato não faz críticas ao sistema eleitoral.
Na entrevista, Boulos diz ter ajuizado uma ação eleitoral contra Tarcísio de Freitas por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. No domingo, o governador afirmou, sem apresentar provas, que a polícia de São Paulo teria interceptado mensagens em que o PCC orienta seus membros a votarem no psolista. A declaração foi dada ao lado de Nunes.
O candidato do PSOL classificou a declaração de Tarcísio como “mentirosa” e “irresponsável” e disse que o governador estaria tentando “influenciar no resultado das eleições”. Nunes foi reeleito com 59,35% dos votos válidos.
O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo, afirmou que os sistemas de inteligência do Ministério da Justiça não detectaram “qualquer orientação, de qualquer facção, para qualquer candidato de capitais”.
O TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) também disse não ter conhecimento de supostas interceptações contendo orientações para voto em Boulos.
Em pronunciamento após ser derrotado nas urnas, o candidato do PSOL alegou que a campanha foi definida por mentiras e ataques e desejou força aos paulistanos durante o mandato de Nunes. Em nenhum momento Boulos questionou o resultado da votação ou colocou em dúvida o sistema eleitoral.
O caminho da apuração:
Em pesquisa nas redes de Guilherme Boulos e na imprensa, Aos Fatos não localizou qualquer declaração em que o candidato do PSOL questionasse o resultado da votação ou a lisura do sistema eleitoral brasileiro.
Por meio de busca reversa, identificamos o registro original do vídeo compartilhado pelas peças enganosas. Recuperamos o contexto do caso por meio de reportagens publicadas na imprensa.